sábado, 13 de dezembro de 2008

Há 40 anos, a ditadura implantava o AI-5

No dia 13 de dezembro de 1968 o Brasil foi surpreendido por mais um ato de arbitrariedade da ditadura militar implantada em 1964. Nesse dia foi editado o Ato Institucional nº 5 que conseguiu tornar um regime violento em mais violento ainda. Aprofundou a instalação do terror pelo Estado de exceção. O Ato Institucional nº 5 foi assinado pelo general-presidente da República, Arthur da Costa e Silva.

O AI-5 suspendeu os direitos civis e constitucionais e levou o País - por suas forças militares e policiais - a um estado de perseguição, prisão, tortura, morte e desaparecimento de adversários do regime ditatorial. A censura se abateu de forma ostensiva sobre os jornais, revistas, rádios e TVs e sobre os jornalistas. A liberdade de imprensa foi anulada. O mesmo sobre a música, o teatro e o cinema.

A proibição a manifestações públicas, reuniões, protestos e organização passou a vigorar de forma inapelável. A violência se estabeleceu de maneira impiedosa.

O AI-5 dava poderes absolutos ao regime militar e a primeira conseqüência foi o fechamento do Congresso Nacional. Os mandatos dos deputados, senadores e vereadores entraram em recesso. O instituto do habeas corpus foi suspenso e qualquer pessoa poderia ser presa sem razão maior, processado e sem direito a recorrer contra. O ato vigorou por dez anos, até 31 de dezembro de 1978. 40 anos depois é passado que se repudia, mas que não se esquece.

Faço esta observação neste dia 13 de dezembro de 2008 para que não se diga que o movimento sindical tem memória curta. Nós não podemos e não vamos esquecer porque isso seria o mesmo que deixar em aberto a possibilidade que uma ditadura volte a ser implantada.

Em nome de todos os que morreram e lutaram pela redemocratização do Brasil temos a dizer muito obrigado e vamos em frente para aprofundar a democracia que queremos e construir uma sociedade igualitária no Brasil onde todos tenham vez e voz, ou seja, igualdade de oportunidades.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mais uma vitória: Trabalhador deve lutar em todos os campos

A diretoria do Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) luta em todos os campos, após uma avaliação profunda de nossas forças, para defender e ampliar os direitos dos trabalhadores em geral, em especial os terceirizados que são os mais explorados entre os explorados.

Se tivermos força e organização não nos recusamos a ir à greve, manifestações públicas e outras formas mais incisivas de ação. Não abrimos mão, porém, de sempre buscar uma solução negociada porque expõe menos os trabalhadores à retaliação patronal e abrevia o tempo gasto com um processo na Justiça, seja ela civil ou trabalhista.

De 1º a 5 de dezembro houve uma mobilização por parte dos Tribunais Regionais do Trabalho buscando a realização de negociações de casos pendentes como parte do projeto “Movimento pela Conciliação” coordenado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Nós do Sindilimp-BA apoiamos e estimulamos que outros se realizem tendo em vista o grande número de demandas litigiosas e o tempo para a análise dos processos pelos tribunais. Nada como o diálogo aberto e franco entre as partes, pois a conciliação dá mais celeridade aos trâmites judiciais, possibilitando rapidez na resposta definitiva ao caso que levou o reclamante a procurar a Justiça.

Um princípio, porém, não abrimos mão: os trabalhadores não podem ser os únicos a ceder e ser prejudicados. Nosso compromisso é com a defesa dos interesses dos trabalhadores.

No dia 2 de dezembro obtivemos uma grande vitória. A 13ª Vara do Trabalho de Salvador promoveu uma conciliação de mais de R$ 1 milhão, beneficiando 460 pessoas (processo 01303-2008-013-05-00-4 RT). Na reclamação, contra a Ícone Construções e Serviços Ltda. e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), os trabalhadores foram representados pelo Sindilimp-BA. A audiência não constava inicialmente na pauta, mas entrou como extra por solicitação das partes, cujos representantes foram pessoalmente à 13ª Vara e pediram a audiência à juíza titular Viviane Tanure Mateus. A ação foi ajuizada no dia 25 de novembro último, em decorrência de demissões e atrasos de salários, mas já estávamos em processo de negociação há três meses.

Ficou assegurado o recebimento de R$ 1.044.897,45 (um milhão, quarenta e quatro mil, oitocentos e noventa e sete reais e quarenta e cinco centavos) e os recursos advêm dos créditos de faturas da Ícone Construções e Serviços Ltda. bloqueados junto à Universidade Federal da Bahia (UFBA) que tem agora o prazo até o dia 16 de dezembro para fazer a quitação.

A conciliação prevê também que se o pagamento não for efetuado até a data limite, a UFBA deverá pagar, também, 50% sobre o valor desta conciliação, a título de cláusula penal.

Uma grande vitória de quem aposta na luta e na mobilização e não se recusa a defender os interesses dos trabalhadores em qualquer local ou instância. Os trabalhadores em limpeza estão mais uma vez de parabéns.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Tragédia na Fonte Nova não pode ser esquecida

Manifesto minha solidariedade aos familiares das vítimas da tragédia que ocorreu no Estádio da Fonte Nova no dia 25 de novembro de 2007 quando sete pessoas morreram e 40 ficaram gravemente feridas. Um lance de arquibancada situada no anel superior da Fonte Nova desabou, por volta das 17h35min causando pânico e correria entre os torcedores que assistiam à disputa entre o Bahia e o Vila Nova, válida pela penúltima rodada da Série C do Campeonato Brasileiro.

A tragédia precisa ser apurada com rigor não como uma forma de vingança e sim de justiça. Queremos que os responsáveis sejam punidos. Aos familiares e amigos de Nídia Andrade Santos, Márcia Santos Cruz, Milene Vasques Palmeira, Jadson Celestino Araújo Silva, Djalma Lima Santos, Anísio Marques Neto e Joselito Lima Júnior a nossa solidariedade. Djalma Lima Santos era membro de nossa categoria.

O governo tem cumprido sua parte com o pagamento da pensão especial a duas famílias de vítimas fatais do acidente.

Além da perda de um ente querido as demais cinco famílias não tiveram acesso ao benefício porque a Justiça não definiu quem são os herdeiros legais. Queremos celeridade nesse processo e que a comissão de sindicância criada para apurar responsabilidades no acidente se manifeste o mais breve possível para que não se passe para a opinião pública que quando as coisas acontecem com trabalhadores e pessoas simples nada é feito e a impunidade prevalece.

sábado, 15 de novembro de 2008

Preconceito por quê?

Sempre soube que o trabalhador em limpeza enfrenta um alto preconceito em diversas camadas sociais, porém, recentemente observei algo que me deixou ainda mais escandalizado. Sou membro da diretoria do Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) e para resolver um problema trabalhista liguei para uma conceituada e querida empresa estatal para falar com uma funcionária terceirizada do setor de higienização. A resposta que recebi foi a de que ela não poderia de forma alguma atender telefonemas durante a jornada de trabalho e nem mesmo recados seriam dados.

Em uma outra empresa, fazendo uma visita para verificar problemas, vi que os trabalhadores terceirizados do setor de limpeza não podem beber a água mineral disponibilizada em local aberto para os funcionários contratados diretamente. Para os companheiros de minha categoria profissional colocaram um bebedouro com água natural filtrada em lugar mais escondido.

O Sindilimp-BA organizou recentemente uma manifestação no Centro Administrativo da Bahia (CAB) e constatei o desprezo e a discriminação de vários funcionários públicos contra os trabalhadores terceirizados do setor de limpeza.

Esses três exemplos servem para mostra que existe um forte preconceito que precisa ser combatido pela sociedade em geral contra os trabalhadores terceirizados, em especial os de limpeza. Qual a razão de tanto preconceito? Por que tratar o terceirizado com descaso e com ar de superioridade se todos nós somos trabalhadores e enfrentamos os mesmos problemas como a perda do poder de compra do salário e tantos outros em comum?

O trabalhador terceirizado que enfrenta os baixos salários, a contratação irresponsável por parte dos governos municipal, estadual e mesmo federal de empresas terceirizadas sem idoneidade e que vira e mexe são pegas em operações da Polícia Federal são obrigados também a lutar contra a discriminação.

Estudos do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos) mostram que a média de salários continua mais baixa em relação a trabalhadores diretamente contratados. Há trabalhadores desenvolvendo a mesma função, no mesmo setor, e que ganham 50% a menos do que quem é contratado, ou seja, a precarização do emprego na terceirização ainda é um destaque negativo.

Mais do que nunca a sociedade precisa valorizar o trabalhador em limpeza. O que você faria se encontrasse seu local de trabalho sujo? Como se comportaria se chegasse em um grande shopping e ele estive imundo? Você só encontra seu local de trabalho limpo e seu espaço de compra e lazer com limpeza porque o trabalhador terceirizado lá atuou.

O mesmo ocorre na cidade. O gari é um ser quase invisível. Quase ninguém o cumprimenta quando ele retira a sujeira da porta de sua casa, porém, quando fazemos greve todos podem observar a importância do trabalhador em limpeza no aspecto de saúde pública, meio ambiente e qualidade de vida.

Precisamos deixar de sermos iguais só na morte ou quando sofremos um grave acidente e somos internados nos hospitais públicos de emergência. Não podemos ser iguais só nesses e outros graves momentos. Vamos manter a diversidade e saber sempre que somos iguais, mas somos diferentes e precisamos nos respeitar. Chega de discriminação contra o trabalhador terceirizado e vamos juntos combater toda forma de segregação.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Trabalhador em limpeza exige respeito

A diretoria do Sindilimp-BA considera-se, em sua maioria, parte responsável pela eleição do governador Jaques Wagner com a bandeira central de mudança da forma de governar.

O governador merece o nosso respeito. Tem sua origem política na luta contra a ditadura militar e na Bahia sempre se destacou pelo empenho na organização dos trabalhadores. Wagner é um dos fundadores da CUT e do PT e hoje no governo, composto de várias correntes políticas, enfrenta um grande desafio que é o de neutralizar pessoas que não estão à altura de estar em um governo popular.

Fazemos aqui uma crítica ao comportamento de um elemento na Secretaria de Educação, por exemplo, que trata tudo e todos aos gritos e desrespeito. Não vamos dar o nome dele para não termos o desprazer de ter que dar direito de resposta a alguém tão sem educação, por triste ironia na Secretaria de Educação.

Sabemos que o governador Wagner não pode acompanhar cada detalhe do que acontece no governo como, por exemplo, o pregão eletrônico para definir as empresas que cuidarão da limpeza e asseio nas unidades de saúde em todo o estado superior a mais de 100% do anterior.

Queremos mais uma vez destacar que o Sindilimp-BA não vai permitir que quem quer que seja grite e trate os trabalhadores em limpeza com desrespeito. Se o elemento da Secretaria de Educação tem mania de gritar e maltratar seus parentes mais próximos avisamos que com os trabalhadores a coisa é diferente.

O Sindilimp-BA está atento e diante de qualquer ataque tomará as medidas políticas e jurídicas necessárias para impedir qualquer arbitrariedade.

Com trabalhador em limpeza não se brinca! Exigimos respeito!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Onde está a liberdade nos meios de comunicação?


Segundo a direção do sindicato a Rede Globo censurou um plano de mídia para a Campanha Nacional 2008 produzido pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco (SEEB-PE). O vídeo, de 45 segundos, recupera o lema Banco Mata, critica a ganância dos bancos e explica porque os bancários estão em greve por tempo indeterminado.

Veja o vídeo acessando o seguinte endereço:http://br.youtube.com/watch?v=IpYQ04PF5Fw


A desculpa usada para barrar a veiculação era ridícula. Dizia que o Sindicato dos Bancários de Pernambuco escondia sua assinatura no vídeo. Uma mentira. O episódio mostra que a Rede Globo tem um lado, o dos patrões, e ponto final. A assinatura está no áudio, em alto e bom tom. E está na logomarca da entidade, bastante conhecida - e onde se lê “Bancário de Pernambuco”, que fecha o VT.

Quem já viu um grande Shopping ou mesmo o Bradesco colocar em seus comerciais o nome oficial por extenso? Por que exigir este absurdo de uma entidade sindical se não há nenhuma lei ou regulamento de veiculação de audiovisual? A única resposta é esta: censura!

Depois de muita luta os companheiros de Pernambuco conseguiram veicular seu comercial na emissora de maior audiência do estado que ainda não consegue entender que vivemos em uma democracia e que as emissoras são concessões públicas e devem estar a serviço de toda a sociedade e não apenas de uma parte dela, o patronato.

O Sindicato dos Bancários de Pernambuco tomou as devidas providências junto ao Procon, o Ministério Público e a Justiça. A Globo vai ter que responder no âmbito do Código de Defesa do Consumidor e por cerceamento de atividade sindical, sem contar que é uma concessão pública e deve respeito ao contribuinte.

Um dos grandes lutadores pela verdadeira democratização dos meios de comunicação foi o companheiro Daniel Koslowsky Herz. Ele nasceu em Porto Alegre no dia 29 de dezembro de 1954 e faleceu, na mesma cidade, no dia 30 de maio de 2006.

Foi lançado recentemente um site onde se encontra disponível para consultas vários e fundamentais trabalhos sobre a democratização da comunicação. O site “Daniel Herz – Vida e Obra” (http://danielherz.epcom.inf.br/ ) resgata a história do jornalista, professor, pesquisador e ativista político que marcou época nos debates de políticas de comunicação no Brasil principalmente a partir da década de 1980 até sua morte em 2006.

Nesta página, você encontrará não só a íntegra do livro como sua dissertação de mestrado e outros textos que marcaram a intervenção pública do autor a respeito das Organizações Globo e da necessidade de se ver a Comunicação como um Direito Humano Fundamental.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ameaça de desemprego e aumento de custos. Onde está a mudança?

A decisão do governo estadual de realizar pregão eletrônico para definir as empresas que cuidarão da limpeza e asseio nas unidades de saúde em todo o estado merece ser revista.

As declarações do governo estadual de que as despesas cairiam depois dos diversos escândalos, como por exemplo, o desvendado pela operação da Polícia Federal conhecida como "Jaleco Branco", se mostraram apenas exposições de intenções que mais uma vez não se concretizaram.


No dia 27 de setembro houve um pregão eletrônico, modalidade de licitação que busca incrementar a rapidez na decisão e menor rigor nos procedimentos. O pregão eletrônico utiliza novas tecnologias de informação, em especial o uso da internet.


Ora, pudemos constatar falhas graves no edital. Em primeiro lugar o prazo para apresentação de propostas foi de apenas oito dias antes do evento. Nem mesmo cotação para o preço do material de limpeza ocorreu. O Sindilimp-BA não foi consultado sobre o que seria melhor para os trabalhadores.
Onde fica a tão falada transparência e participação democrática da sociedade apregoada pelo governo estadual?

O contrato, dividido em quatro lotes em um total de gasto em torno de R$ 5 milhões, é superior a mais de 100% do anterior que era de cerca de R$ 2,2 milhões e o serviço era prestado pela Macrosel Serviços de Limpeza e Gestão Empresarial Ltda., flagrada na Operação Jaleco Branco e depois substituída pela Alternativa Ltda. Onde está a economia dos recursos públicos quando se gasta mais de 100% com o mesmo serviço e expõem os trabalhadores terceirizados a mais um drama de poder ficar sem emprego?


O Departamento Jurídico do Sindilimp-BA, o qual coordeno, buscará o Ministério Público e o Tribunal de Justiça da Bahia para denunciar a forma utilizada para selecionar as empresas, o valor dos serviços e tentará assegurar a manutenção dos trabalhadores em seus postos de trabalho.


A agilidade do pregão eletrônico não substitui eternamente o pregão presencial. É preciso apenas ter bom senso e verificar que o controle das empresas é maior nesse processo dependendo da situação. O pregão presencial, nesse caso, oferece maior transparência nos processos, melhores condições de negociação, redução de custos e mais agilidade nas contratações. As empresas apresentam suas propostas e disputam mediante oferta de lances verbais, o fornecimento do serviço de limpeza nas unidades de saúde do estado.


Esperamos que este absurdo seja revisto para que o governo estadual não enfrente as mesmas críticas que fazíamos aos governos anteriores.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Mais uma conquista contra a intolerância religiosa

O combate ao racismo e à intolerância religiosa não tem uma única maternidade ou paternidade. A luta pela igualdade interessa a todos independente da religião que alguém professa e também aos ateus.

Faço esta introdução para não ofender católicos da renovação carismática ou evangélicos. Conheço, por exemplo, o trabalho sincero do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos que com coragem abre a discussão sobre o racismo nas igrejas evangélicas. Ressalto também o ótimo papel da Pastoral Afro desempenhado na igreja católica.

Quero falar neste espaço sobre a vitória obtida na Justiça pela família da ialorixá Mãe Gilda (Gildásia dos Santos) que faleceu no dia 21 de janeiro de 2000 depois de um longo processo de depressão motivado por matéria publicada no jornal “Folha Universal”, que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em que ela estava com uma tarja preta nos olhos e com a legenda “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. O povo da Bahia em geral, os membros do terreiro da ialorixá, Ilê Axé Abassá de Ogum, em especial, perderam muito. A data da morte de Mãe Gilda foi transformada pela Câmara Municipal de Salvador em Dia Contra a Intolerância Religiosa.

A primeira decisão da Justiça, na Bahia, condenou a IURD a pagar indenização de R$ 1.372 milhão aos familiares. Os ministros da 4ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiram pela condenação da atitude intolerante da IURD e reduziu o valor da indenização para R$ 145 mil. O maior valor, porém, é o simbólico.

O povo negro sempre sofreu perseguições ao seu culto, mesmo em órgãos institucionais, desde que aqui chegamos no período da escravatura e com nosso trabalho construímos a riqueza do Brasil.

Fico feliz, mas não perco a necessidade de olhar para o futuro e ver que muito falta por se fazer para reparar os graves e profundos problemas existentes e causados pela escravatura e conseqüentemente depois pelo racismo.

A alegria pela decisão da Justiça não é total porque vemos pesquisas divulgadas no dia 24 de setembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) mostrando que os trabalhadores brancos tiveram um rendimento médio mensal quase duas vezes maior que o dos negros em 2007, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais com base em levantamento da PNAD 2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Negros receberam em média 1,8 salários mínimos. Já os brancos tiveram um rendimento de 3,4 salários mínimos.

Somente 12% de negros estão entre o 1% mais rico, enquanto os brancos formam 86,3% do grupo. Já entre os 10% mais pobres figuram 73,9% de negros contra 25,5% de brancos.


Se o combate ao racismo e à intolerância religiosa interessa a todos independente da religião vamos nos unir para termos um Brasil melhor para todos os seus filhos e que respeite a todos. Axé! Amém!


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Por uma campanha eleitoral sem baixarias

Como cidadão, professor de História e sindicalista sei o quanto os setores democráticos de nossa sociedade lutaram para que se restabelecesse o Estado de Direito e a livre manifestação de idéias, em especial o direito de votar e ser votado.

Vejo com tristeza que a campanha eleitoral em Salvador está indo por um rumo ruim para o debate das idéias. Passou-se quase para briga de rua ou de boteco de quinta categoria.

"Triste Bahia! Oh quão dessemelhante." O que vemos agora é algo parecendo com pagode de baixa qualidade. Diz-se que fulano traiu sicrano que traiu beltrano, e que vai trair o povo soteropolitano.
O governador da Bahia, Otávio Mangabeira, já dizia: "Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente". Que sapiência, que verdade tão verdadeira.

Como telespectador assíduo dos programas eleitorais me deparo com uma pérola rara. Um candidato, que busca a reeleição, acusa outro candidato adversário de traição porque esse teve a dignidade de votar, em determinada matéria, de acordo com sua consciência. Incrível como isso acontece, alguém ser fiel à sua consciência e ser tachado de traidor. Será que o acusador não pensou duas vezes antes de fazer tal afirmação? Se o fizesse não cometeria tal impropério, pois traição é uma coisa tão feia, tão torpe.

Parece-me que histórias de traição são constantes na política de Salvador. Basta relembramos de alguns fatos. O candidato que busca a reeleição e que acusa o outro de traidor foi eleito por um partido e sequer foi fiel à legenda pela qual se elegeu. Chegou até a ser chamado, publicamente, de traidor pelo presidente do partido que pertencia. Depois, o dirigente partidário vergonhosamente pediu desculpas à população por ter votado no "traidor" do prefeito.

Mas não é só isso, a ingratidão também é uma coisa horrenda. Além de ser acusado de traidor, o candidato à reeleição foi rotulado de ingrato, vejamos o que foi postado no blog do jornalista Ricardo Noblat: " Ingrato o prefeito fulano de tal (PDT) de Salvador levou R$ 3 milhões do governador (PFL) para investir no Carnaval da cidade. E no entanto, sequer atravessou os poucos metros que separaram o seu camarote do governador para cumprimentá-lo."

Traição e ingratidão também sofreram os auxiliares do candidato à reeleição que foram demitidos da forma mais aviltante . Só souberam da exoneração através do Diário Oficial do Município. Os casos mais gritantes de falta de consideração foi o acontecido com o Secretário de Comunicação, um brilhante e sério jornalista, com o competente secretário de Governo e tantos outros.

Portanto, antes de falar em traição e traidor, o indivíduo teria que se olhar no espelho.
Queremos que a administração municipal que saia das eleições de 2008 faça a inversão de prioridades e crie uma forma de governar com grandeza e não com baixarias.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O papel da reparação

A Secretaria Municipal da Reparação (Semur) da Prefeitura Municipal de Salvador é a instância responsável por articular, junto às instituições governamentais e não governamentais, políticas públicas de promoção da igualdade racial.

Como acompanho e participo da luta em combate ao racismo li com muita atenção o artigo da subsecretária da Semur, Maria Alice Pereira da Silva, publicado aqui neste espaço recentemente. Concordo quando ela diz que políticas afirmativas devem ser tratadas como prioridades de governo e que deve estar acima das questões político-partidárias.

Em primeiro lugar recomendo à Prefeitura de Salvador aumentar o orçamento da Secretaria Municipal da Reparação pois trata-se do menor de toda a prefeitura.

Ela afirma que existe um resgate aos projetos desenvolvidos pela Semur, porém, não conheço nenhuma empresa que tenha recebido o Selo da Diversidade e tempo para isso houve. Até mesmo o coordenador que vinha desenvolvendo o projeto foi exonerado e substituído para atender aos acordos políticos-partidários que a subsecretária diz combater.

Sabemos que o Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) é um programa financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), uma das 18 agências, fundos e programas da ONU (Organização das Nações Unidas) presentes no Brasil. Para que ele tivesse sucesso seria necessário haver uma transversalidade com todos os órgãos públicos principalmente os da Prefeitura de Salvador.

O que foi feito dos comitês setoriais? Pelo que me consta há muito tempo eles não se reúnem e parece-me também que o dinheiro do PNUD já não existe mais. Portanto, o PCRI não continua firme e forte, ao contrário, está fraco.

Fico feliz em saber da "pujança" de projetos que a Semur está vivendo. Eu e os demais moradores de Salvador gostaríamos, porém, de saber quais são os tais projetos, quando serão implantados e o resultado prático deles para saber se a pujança não é apenas virtual.

Um dos programas em andamento em outra gestão da Semur foi a plantio de Baobá, árvore sagrada para os seguidores de religiões de matriz africana. Para os adeptos dessas religiões, entre os quais me incluo, era aos pés do Baobá que os orixás, especialmente Omolu, durante as peregrinações, paravam para descansar das caminhadas, alimentar-se e ainda curar determinadas doenças. A Semur tem acompanhado o crescimento dessas árvores, que tanto significa para o povo de santo? Ampliou o programa? Fez o memorial dos Baobás plantados?

Sou um eterno otimista e espero que a Semur reencontre um caminho de ação efetiva e atue com transparência em benefício da cidade, em especial da população afrodescendente. Só assim a Semur vai deixar de ser um local apenas para pagar salários a alguns e cumprir o papel para o qual foi criada que é o de articular políticas públicas de promoção da igualdade racial.
Publicado em A Tarde no dia 1º de setembro de 2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cora Coralina



No dia 20 de agosto de 1889 nascia em Goiás Velho (GO) ANA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO que entrou para a História da Literatura com o nome de Cora Coralina. Morreu aos 95 anos, em 10 de abril de 1985, na cidade de Goiânia.


EU VOLTAREI
Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,
servidor do próximo,
honesto e simples, de pensamentos limpos.
Seremos padeiros e teremos padarias.
Muitos filhos à nossa volta.
Cada nascer de um filho
será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,
a árvore de Ruth, a árvorede Roseta.
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,
teremos uma fazenda e um Horto Florestal.
Plantaremos o mogno, o jacarandá,
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
e mulheres, ligados profundamente
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou
milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei...
A pedra do meu túmulo
será enfeitada de espigas de trigo
e cereais quebrados
minha oferta póstuma às formigas
que têm suas casinhas subterra
e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas
frondes.
Eu voltarei...

domingo, 17 de agosto de 2008

..."Que o vento sopra o destino"...

Caminhos do Mar (Rainha do Mar)


Dorival Caymmi


Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

O canto vinha de longe

De la do meio do mar

Não era canto de gente

Bonito de admirar

O corpo todo estremece

Muda cor do céu do luar

Um dia ela ainda aparece

É a rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Quem ouve desde menino

Aprende a acreditar

Que o vento sopra o destino

Pelos caminhos do mar

O pescador que conhece

as histórias do lugar

morre de medo e vontade

de encontrar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

CARTA DA JUVENTUDE NEGRA AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

Faço questão de publicar neste espaço a "Carta da Juventude Negra ao Governo do Estado da Bahia" e manifestar minha irrestrita solidariedade a esta luta fundamental para por fim ao extermínio de nossos jovens.
CARTA DA JUVENTUDE NEGRA AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Contra o extermínio da juventude negra
Salvador, 07 de agosto de 2008.

No campo da segurança pública o povo negro tem, sistematicamente, vivido uma séria e profunda vulnerabilização. As prisões insalubres e precárias, as ações de extermínio da polícia e dos grupos paramilitares, as omissões do estado e o avanço da escalada fascista da punitividade tem atingido prioritariamente o segmento negro da população brasileira e, mais especificamente, o grupo juvenil.

Na Bahia, o quadro é escandalosamente desolador. A cada fim de semana, dezenas de jovens são exterminados pelas ações dos grupos financiados pelos pequenos comerciantes com o apoio e a conivência das autoridades ou nos ditos confrontos com a polícia militar do Estado. São ações de caráter notadamente racista, agindo nas periferias da capital e do interior e já produzindo, em toda população negra do Estado, um clima de terror que pode ser comparado a tempos de guerra civil.
Segundo dados reconhecidos pela própria Secretaria de Segurança Pública, só na Grande Salvador, por exemplo, o número de homicídios cresceu mais de 50,5% nos primeiros cinco meses do ano, numa média que, aproximadamente, chega a seis assassinatos por dia. (A TARDE, 23/07/2008).

Sequenciadamente, o Estado policial (que já denunciávamos a muito dentro da estrutura carlista que comandou a Bahia) revela a sua natureza racista e foca toda a sua atuação de controle e extermínio sobre os corpos negros, confirmando a idéia de que o racismo é uma doutrina que preside os mecanismos do sistema penal a fim de subjugar o grupo populacional negro, aniquilar as nossas possibilidades de afirmação sócio-históricas e, por último, exterminar de maneira definitiva todo traço negro que resistiu ao massacre da escravização e do embranquecimento, dentro dessa conformação social cínica e letal.

Com a eleição do Governo Jaques Wagner, o movimento social baiano, e em particular o Movimento Negro, alimentou profundas esperanças e apostou na ruptura de práticas históricas do coronelismo racista que comandou o nosso Estado. Entretanto, o Governo até o presente momento, não deu conta da extensão e da profundidade das demandas que o movimento tem apresentado.

Sem reconhecer efetivamente a importância de uma política de promoção da igualdade racial, o Governo do Estado tem esvaziado politicamente a SEPROMI que, apesar de dialógica e bem intencionada, não tem sido viabilizada por esse Governo, tem sido preterida do ponto de vista da ação política e tem sido vítima da falta de recursos para suas ações.

Assim, enquanto o povo se organiza e articula a resposta a toda essa situação, os representantes do Estado vão pensando suas formas de conciliar as ponderações como se nós fôssemos “bobos” e sem conseqüência da nossa situação. A compra de contêineres para o depósito de gente, as denúncias de maus-tratos e de torturas nos presídios e delegacias, a compra de novas viaturas, ou, por assim dizer, de viaturas pintadas, a não valorização dos policiais corretos e dos agentes penitenciários, e, ainda, as declarações desastrosas do secretário de segurança pública aliadas com a escolha do novo coordenador (ainda mais reacionário) para a PM baiana revelam que o cenário continua trágico e perigoso!

O Governo Wagner não conseguiu mudar os rumos da política de segurança pública e promoção da igualdade racial. A SEPROMI continua escondida pelas ações do marketing, a polícia com os mesmos níveis de violência antes registrados e a população negra continua acuada nas periferias da capital e do interior.

A juventude e os demais setores do Movimento Negro baiano, solicita a construção de novos rumos para a mudança dessa perversa realidade. Propomos uma política de segurança que seja preventiva, que incorpore a categoria raça na compreensão da racionalidade penal vigente, que fortaleça o controle social das políticas públicas e que aponte, pela educação, saúde, lazer e cultura, para a produção de novas formas de fortalecimento do tecido social, rompendo com o modelo racista implementado desde há muito nesse Estado e mantido pelo carlismo no período anterior.


Esse Governo nasceu com grandes esperanças por parte dos setores populares e precisa fazer jus aos sentidos que as classes populares lhe conferiram. Nesse momento de tantas angústias partilhadas reivindicamos um diálogo aberto e permanente no campo da segurança pública:

Queremos reparação material para as vítimas de seqüelas e mutilações decorrentes da ação do Estado e da sua omissão quanto aos grupos de extermínio e homicídios causados pela violência policial,

Lutamos pelo fim das “invasões” das comunidades populares de concentração negra e das ações letais por parte da polícia,

Lutamos pelas ações preventivas, pelo fortalecimento da cidadania e das iniciativas de mediação e controle social nas comunidades,

Lutamos para que a política estadual de juventude desenvolva ações de combate ao extermínio da juventude negra,

Lutamos pela implementação das resoluções do ENJUNE no âmbito do governo estadual,

Pela realização da Conferencia Estadual de Direitos Humanos com efetiva participação do movimento social negro,

Reivindicamos o estímulo às penas alternativas e às medidas sócio-educativas em liberdade e semi-liberdade,

Lutamos contra a privatizacão do sistema carcerário na Bahia,

Lutamos contra a criminalizacão dos negros e da pobreza,

Lutamos pela garantia da dignidade para os presos no Estado da Bahia e pelo cumprimento efetivo dos direitos previstos na Lei de Execuções Penais, na Constituição Federal e em tratados internacionais do qual o Brasil é signatário,

Queremos o fortalecimento da SEPROMI e a construção de uma política de promoção da igualdade ampla e efetiva, com recursos e envolvimento de todas as Secretarias do Estado.

Vamos participar de cada passo dessa luta e não deixaremos que outros contem a nossa história.

Estamos por nossa própria conta e sabemos que nada virá sem que nos mobilizemos de maneira autônoma. Os direitos humanos sem raça não nos assistem e as garantias não nos garantem, ser negro é viver sob o constante risco da bala perdida, do baculejo violento e da desastrosa ação policial na entrada da favela. Até quando essa história vai continuar?

Assinam:
Fórum Baiano de Juventude Negra
NENUEFS - Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pelo fim da perseguição ao Terreiro da Casa Branca no Engenho Velho

Recebi este texto e faço questão de solicitar que você repasse para todas as pessoas de sua lista de endereço eletrônico. Já passou da hora de cessar toda perseguição racista e religiosa contra o povo de santo.

O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, Ilê Axé Iyá Nassô Oká, é uma das Casas de Culto mais antigas e respeitadas da religião dos Orixás, conhecida e venerada em todo o país. Foi o primeiro templo religioso afro-brasileiro a ser tombado como patrimônio histórico do Brasil. Foi também reconhecido como patrimônio cultural da Cidade do Salvador pela PMS, que primeiro o tombou e depois o tornou Área de Preservação Cultural e Paisagística deste município. O terreno que encerra os seus principais templos foi desapropriado pela PMS e doado à associação civil que representa sua comunidade religiosa. Posteriormente, o Governo do Estado desapropriou também, para o mesmo efeito, a chamada Praça de Oxum, que integra o conjunto monumental deste famoso Terreiro. Tudo isso está bem documentado, é de conhecimento público e matéria de lei que não pode ser ignorada.

Como todos sabem, a Constituição Brasileira, no seu artigo 150, considera imunes de taxas os templos religiosos. Não cabe dúvida de que o Terreiro da Casa Branca é um templo religioso. Como tal, aliás, foi tombado pela União e pelo Município. Podem testemunhá-lo o Ministério da Cultura e a própria Prefeitura Municipal do Salvador. Documentos etnográficos e laudos periciais o atestam abundantemente.

Não se compreende, portanto, porque motivo, ou com que propósito, a Prefeitura Municipal do Salvador insiste em cobrar imaginário débito de IPTU ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e ameaça levar a leilão seus monumentos, seu território sagrado. Por acaso cobra-se IPTU da Igreja do Bonfim, do grande templo da Igreja Universal, dos lugares sagrados de outros credos e denominações religiosas em Salvador? Porque com as religiões do povo negro é diferente? Porque os templos afro-brasileiros são tratados de forma discriminatória? Não estão as autoridades do município conscientes de que o povo o da Bahia merece respeito e suas tradições de origem africana devem ser valorizadas? As ameaças que acompanham a insistente, impertinente, importuna e desrespeitosa cobrança de um imposto indevido têm levado o desassossego a veneráveis e idosas sacerdotisas, ao povo-de-santo da Casa Branca e de toda a Bahia.

É preciso pôr fim a esta ofensa ao sentimento democrático dos baianos, fazer cessar este insulto à cultura, esta agressão ao direito. A intolerância religiosa e o racismo institucional devem ser combatidos. O povo baiano não aceitará esse vexame, essa vergonha.

O Grupo Hermes de Cultura e Promoção Social, o Espaço Cultural Vovó Conceição e KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, denunciam esse descalabro e conclamam todos a lutar para que os direitos das comunidades afro-brasileiras não sejam pisoteados.

Ação contra o racismo em Salvador, já!

Quase sempre, em especial em datas como 13 de maio ou 20 de novembro, é comum ouvirmos que Salvador é a maior cidade negra fora da África. O que pouco se cobra é o que se faz do ponto de vista institucional para se combater a exclusão e a discriminação racial e social.

A Semur (Secretaria Municipal da Reparação da Prefeitura Municipal de Salvador) foi criada em novembro de 2003 para servir como instrumento na luta pela superação do racismo. Não por coincidência, a Semur foi criada no mesmo ano que o governo federal implanta a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR.

É necessário reconhecer que houve conquistas, porém, são tímidas demais. Um exemplo da omissão de ação oficial, além da tentativa de derrubada do Terreiro de Oyá Onipó Neto, localizado no Imbuí, no dia 27 de fevereiro, é agora o Terreiro da Casa Branca, o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, poder ter seus bens tomados pela Justiça pela falta de pagamento do IPTU.

A Constituição Federal, em seu artigo 150, estabelece que as propriedades que abrigam culto religioso estão isentas de pagar impostos. A Lei Maior não faz qualquer discriminação.
A Prefeitura deve entender a diversidade cultural de Salvador e não se alinhar a um único segmento. Deve ser plural e relacionar-se com adeptos de todos os cultos e manter-se independente.

Outro aspecto fundamental para as pessoas de baixa renda em Salvador é a questão do ensino fundamental oferecido pela Prefeitura. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado pelo MEC em 2007, divulgado recentemente, mostra a capital da Bahia, a terceira maior do Brasil, nos últimos lugares. Pessoas que querem agora se mostrar como expressão do novo foram as mesmas que dirigiram a Secretaria Municipal de Educação e saíram dizendo que tinham feito um trabalho maravilhoso.

Quem mais perde com uma Educação deficiente são os afrodescendentes que por razões históricas e até mesmo pelo racismo institucional não têm rendimentos, em sua maioria, para freqüentar as melhores escolas particulares de Salvador.

A Semur deve cumprir seu objetivo e função de articular, junto às instituições governamentais e não governamentais, políticas públicas de promoção da igualdade racial. Vemos hoje a falta de articulação ou capacidade técnica dos atuais gestores.

Como estão os encaminhamentos em relação a os projetos do Selo da Diversidade tanto divulgado pela imprensa inclusive criado por um Decreto Municipal, o da Feira de Empreendedores Afrodescendentes e o andamento do Catálogo de Empreendedores Afrodescendentes, em parceria com o Sebrae?

Queremos uma Semur que de verdade promova a eqüidade, a igualdade racial, de gênero, a eliminação da xenofobia e intolerância religiosa, em resumo, que seja uma referência na promoção de políticas de direitos humanos e tire Salvador da paralisia em que se encontra neste campo.

Eleições 2008: Além de nomes, rótulos e siglas queremos propostas de mudanças

É preciso que façamos uma séria análise crítica do processo eleitoral que estamos enfrentando em 2008. Como membro da categoria dos trabalhadores em limpeza tenho o sentimento que a população apresenta uma profunda desconfiança dos políticos de todos os partidos que pretendem nos representar.

Os problemas sociais, apesar de certo avanço nesse campo, continuam. Os escândalos de corrupção se sucedem e o enfrentamento das necessidades básicas da população não foi resolvido, em especial no atendimento público na saúde e educação.

Os parlamentares com origem popular ou eleitos com os votos dos setores mais excluídos decepcionaram e tenho convicção que os velhos rótulos estão gastos e não conseguirão ficar explicitados nas eleições de 2008. O que é ser de ”esquerda” nestas eleições? O que me importa nas eleições deste ano são as propostas e os compromissos assumidos com a maioria da população.

O Partido dos Trabalhadores, ao qual sou filiado, decepcionou na Prefeitura de Salvador. Saiu no dia 8 de abril da gestão municipal e largou o barco do prefeito João Henrique. Uma decisão certa tomada na hora errada. O que qualquer candidato do PT vai dizer contra a atual administração se ocupou quatro importantes secretarias, roeu o osso até quase o final e saiu aos 45 minutos do segundo tempo?

A prévia petista demonstrou uma grande divisão no partido e a vitória do deputado federal Walter Pinheiro só foi conquistada graças aos métodos heterodoxos do deputado estadual J. Carlos e sua estrutura montada no Subúrbio Ferroviário.

Queremos que as candidaturas que os partidos apresentaram para gerir as cidades, em especial Salvador, sejam baseadas em programas e compromissos claros. Rótulos ou pessoas carismáticas com suas propostas demagógicas não levam a lugar nenhum.

Esperamos por uma nova política íntegra, ética e voltada para os interesses populares. Resta-nos torcer pela boa recuperação da política que adoeceu.

Quem enfrenta os graves problemas sociais em uma cidade desigual como Salvador, vivendo sob condições indignas, tem pressa. Que este processo eleitoral de 2008 abra um caminho concreto para melhorar as condições de vida da maioria da população. Chega de privatização da saúde, de abandono do transporte coletivo, de baixos salários para os professores municipais. A disputa eleitoral é um momento privilegiado para disputar idéias com a sociedade.

Queremos que a administração municipal que saia das eleições de 2008 faça a inversão de prioridades no investimento do orçamento das cidades e que aceite a cidade como o conjunto de sua população faça as mudanças necessárias na cidade.

Queremos que se pratique a verdadeira filantropia

Os trabalhadores em limpeza têm nos convênios feitos com a Aslimp (Associação dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia), entidade parceira do Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) sua mais importante forma de atendimento médico.

Você sabia que os grandes hospitais como o Santa Izabel, Português, Espanhol, São Rafael, Sagrada Família, CEPHAR e outros têm a obrigação de nos atender e à população em geral gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS)?

A resposta, em tese, deveria ser sim. Na prática isso não ocorre. Esses grandes hospitais que mais se parecem com hotéis cinco estrelas são chamados de “filantrópicos”, ou seja, “amam ao próximo”. O único amor dessa gente é ao dinheiro.

Duas instituições merecem ser destacadas que são os Hospitais Aristides Maltez e o Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Não podemos negar seu caráter filantrópico e sua importância social. Os demais, em especial os que se articulam em torno do Sindifiba (Sindicato dos Hospitais Filantrópicos da Bahia), questionamos a validade desse título.

Para ser considerada filantrópica, a entidade deve provar que aplicou em gratuidade pelo menos 20% da receita bruta anual. É levado em consideração o valor arrecadado proveniente da venda de serviços mais à receita decorrente de aplicações financeiras, de locação de bens, de venda de bens não integrantes do ativo fixo e de doações particulares.

Os hospitais filantrópicos precisam reservar 60% de seus atendimentos para a clientela sem recursos atendida pelo SUS para receber certificação concedida pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Os grandes hospitais como o Português e Espanhol que ocupam uma área expressiva na Barra merecem esta classificação e cumprem com suas obrigações filantrópicas?

A regra governamental de filantropia estabelece a necessidade de também se atender gratuitamente através do SUS procedimentos de alta complexidade, como transplantes, tratamentos oncológicos etc. Alguém pode afirmar com certeza que isso acontece nos grandes hospitais de Salvador?

O Sindilimp-BA defende e espera que a certificação como entidade filantrópica tenha critérios transparentes e que se comprove de forma precisa que o percentual mínimo da receita em gratuidade e o atendimento regulamentado pelo SUS esteja efetivamente sendo praticado.

Não podemos admitir que a população pobre em geral, e nossa categoria em especial, tenham atendimento recusado e os trabalhadores em saúde privada explorados com jornadas de trabalho desumanas, salários baixos, desmandos que beiram ao assédio moral praticados em hospitais que se autodenominam como filantrópicos.

Com o nome de filantropia muita coisa errada tem sido praticada. Grandes hospitais tornam-se isentos e usufruem os benefícios da imunidade fiscal e tributária previstos por lei.
Não queremos mais ver o uso de benefícios da legislação filantrópica para encher os bolsos de mercantilistas, oportunistas e espertalhões que fazem da saúde uma mercadoria de compra e venda. Vida humana merece respeito.

Os governos municipal, estadual e federal devem à sociedade uma fiscalização maior e melhor nessas instituições para que o imposto não pago pelos grandes hospitais possam retornar à população como um bom atendimento médico e não o que vemos hoje.

A que ponto chegou o PT

“Que País é Esse?”, perguntava a Legião Urbana e o Paralamas do Sucesso em um sucesso da música pop brasileira. Agora sabemos a resposta.

No dia 17 de fevereiro o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou na Bahia seu terceiro turno para saber quem o presidiria em nível estadual através do PED (Processo de Eleição Direta). O que de forma triste se viu foram roubo de urnas, uso indevido de recursos públicos e até mesmo a Polícia Militar tendo que prender “militantes” gatunos. Em Medeiros Netos três foram presos e em Caetité também uma urna foi surrupiada.

A vergonha maior é que os dois lados não podem aparecer como inocente. Houve presos e acusações dos dois lados. Até mesmo a PM foi chamada para abrir a sede do PT em Salvador para que a apuração continuasse.

O delegado de Polícia em Medeiros Neto atuou em flagrante o “militante” José Carlos Simões que levou uma urna. Com ele foram encontrados tíquetes combustíveis da Assembléia Legislativa da Bahia no valor de R$ 1.710,00.

O mais triste foi ver o presidente da Assembléia Legislativa dizer ser natural o uso do tíquete combustível e que isso não tinha nada demais. O mesmo fizeram os deputados estaduais do PT.
Ora, se usar recursos públicos de forma desonesta deve ficar impune o que mais vai acontecer na Bahia para que alguém seja responsabilizado pela falta de ética reinante?

Os recursos que deveriam ser utilizados para dotar a Bahia de uma melhor qualidade de vida acabou na mão de uma pessoa que desenvolve o trabalho de uma tendência partidária e tudo fica por isso mesmo.

O dinheiro oriundo dos impostos pagos pelo povo trabalhador deve ser usado em áreas prioritárias como Educação, Saúde Pública, Segurança Pública e outras. Recursos que faltam para ações sociais não foram economizados quando de eleições partidárias.

Cadeia no Brasil, em especial na Bahia, foi feita para pobres, negros e excluídos em geral. Uma jovem mãe de família passou cerca de um mês presa por furtar dois sacos de leite em pó para alimentar seus filhos e um par de sandálias. Um erro, mas que o desespero atenua. O total que levou a jovem mãe para a cadeia foi de no máximo R$ 10,00.

Por que dois pesos e duas medidas? Será que a mesma solidariedade dada pelos deputados estaduais petistas e pelo presidente da Assembléia Legislativa aos que desviaram as urnas e que usaram recursos públicos foi a mesma dada à mãe desesperada que furtou leite? Quem souber responda.

O PT tem como prática levar para Comissão de Ética todos aqueles que cometam atos que não condizem com as diretrizes do partido. Desde de sua criação os dirigentes da legenda tem expulsado lideres que divergiram ou que não seguiram as determinações tiradas em encontros. Será que alguma medida vai ser tomada em relação ao triste episódio do terceiro turno do PED?
Distribuir cestas-básicas nas eleições. Quando assumir uma administração desviar recursos públicos. Um prefeito atrasar salários, em especial dos trabalhadores terceirizados. Quando alguém sentir que vai perder uma disputa eleitoral em sindicato, partido, associação e outras pode roubar as urnas. Será que o PT atual vai responder sim para todas essas afirmações?

Enquanto o PT, que nasceu como o partido da esperança e da mudança e que eu tive a honra de contribuir com sua fundação, afunda, na Bahia vemos a juventude negra ser assassinada sem que muitas vozes se levantem.

O Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV), ligado à Universidade Federal da Bahia (Ufba), revelou que das 6.308 pessoas assassinadas entre 1998 e 2004 na capital baiana, 5.852 eram negras ou pardas. O índice é de 92,7%, frente aos 85% de afrodescendentes que compõem a população soteropolitana. Atualmente muito pouco mudou dessa situação.

Exigimos do PT e por conseqüência do governo da Bahia, composto majoritariamente por petistas, digam não a este espúrio processo de “limpeza social e racial” em nosso estado e que a corrupção no PT e fora dele não seja considerada normal e parte do jogo.

Beleza Negra no Curuzu

O verdadeiro movimento negro está aqui

Tive a honra e o orgulho de estar presente na 29ª edição da "Noite da Beleza Negra" do Ilê Aiyê, no dia 12 de janeiro, na Senzala do Barro Preto, na Ladeira do Curuzu, na Liberdade.
Minha emoção foi muito grande e pude ver que o verdadeiro movimento negro, aquele que luta pelo fim do preconceito com ações firmes e não com palestras e fala-fala que não chegam a lugar nenhum está no Ilê Aiyê.


Como professor de História lembrei que o nome Curuzu vem de um forte que foi tomado depois de muita resistência e heroísmo dos paraguaios contra as tropas do Brasil, Argentina e Uruguai que na época serviam como marionetes do poder imperial da Inglaterra. O Forte do Curuzu foi tomado na Guerra do Paraguai no dia 2 de setembro de 1866.

A resistência paraguaia é a mesma na Ladeira do Curuzu levada a cabo pela população local, em sua maioria afrodescendente. Lá estão os verdadeiros lutadores pela igualdade racial e igualdade de oportunidades. Há uma identidade própria, marcada principalmente pelo estreitamento das relações de amizade e pela história e presença do Ilê Aiyê.

"O Ilê é hoje uma entidade que representa esse desejo de valorizar o negro. Acho que hoje as pessoas aqui não têm mais vergonha de dizer que moram na Liberdade, de se assumir ser negro. Antigamente, muitos tinham vergonha disso, e o Ilê foi quem mudou essa mentalidade", disse Mãe Hilda dos Santos, sacerdotisa do povo de santo.

A mudança conceitual, estética e visual provocada pelo Ilê Aiyê é linda e profunda. No dia 12 de janeiro pude ver irmãs e irmãos reunidos e sabendo que o centro de tudo era e sempre será a resistência.

Estavam lá muitos brancos solidários e parceiros da luta contra o racismo. Só não estavam lá nenhum moreninho, bombom, achocolatado, um pouco escurinho. Estavam lá negros orgulhosos de sua história e de sua contribuição fundamental para a História do Brasil, sua formação econômica, cultural, social e política.

A dançarina Adriana Santos Silva, foi escolhida a Deusa do Ébano do Carnaval 2008 na 29ª edição da Noite da Beleza Negra, porém, vencemos todos nós.

Pela primeira vez o Ilê Aiyê realizou esta tradicional festa em sua casa, em seu local de origem, não foi para nenhum clube social que no dia-a-dia está fechado para o povo negro e se abre somente para cobrar aluguel caro do "mais belo dos belos". A festa foi feita em nossa casa sem dever favor a ninguém.

Enquanto grupos, grupelhos e partidos políticos ficam disputando para saber quem de verdade representa o movimento negro de combate ao racismo com muito proselitismo, muita autopromoção e aproveitamento quando ocupam cargos públicos, a festa, a 29ª edição da Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê mostrou que a resistência se faz no dia-a-dia, pisando o pé na terra, na realidade, enfim, seguindo o exemplo da Senzala do Barro Preto.

Estou ainda mais orgulhoso de ser afrodescendente, povo que com sofrimento, dor, trabalho e resistência construiu o que somos e temos hoje: o Brasil.