É inegável que a sensação de violência e a criminalidade precisam ser reprimidas pelo Estado, em nosso caso na Bahia pelas polícias Civil e Militar. O que vemos na periferia, no entanto, é o medo dos moradores tanto diante da violência da marginalidade quanto das polícias, em especial a PM.
No dia 22 de janeiro o jornal A Tarde publicou que até aquela data já se registrará, com números oficiais, 30 mortes de jovens em supostas trocas de tiros com as polícias Civil e Militar. Os números falam por si e não deixam margem para dúvidas.
Não propomos que o governo do estado fique imobilizado e deixe as polícias sem atuar contra o crime, porém, não podemos ver tanto jovem, negro e da periferia ser assassinado e ninguém tomar uma medida.
Ninguém mesmo! Do lado do governo vemos a conivência de todos e até mesmo a Sepromi (Secretaria da Promoção da Igualdade) que em tese foi criada para combater toda forma de racismo, inclusive a violência policial, não atua como deveria. No movimento social existem várias entidades que sempre foram ativas, mas como seus dirigentes estão vinculados a partidos políticos da chamada “base do governo”, pouco ou muito pouco foi feito.
Não podemos e não devemos nos calar diante da matança camuflada em “auto de resistência a prisão”. Quando se mostra algum morto com antecedentes criminais logo se diz que “era mais um traficante”. Ora, se é para combater o tráfico de entorpecentes de forma séria por que não atacar os grandes traficantes internacionais e seus braços baianos que se localizam não nas invasões e bairros periféricos e sim nos mais chiques endereços da cidade? Por que combater só o traficante varejista que se esconde em um casebre qualquer nos bairros pobres?
Não da para aceitar que batidas policiais feitas em nome da segurança pública deixem nos bairros pobres a juventude negra jogada no chão com “tiros pelas costas, pelos vidros traseiros dos carros, na cabeça, no tórax, de cima para baixo, a queima-roupa, o que revela a intenção de matar dos agentes do Estado”, conforme já foi publicado também por A Tarde.
Solicito ao governador Jaques Wagner que atue neste campo, observe os dados e mude verdadeiramente o que precisa ser mudado para dar um basta ao assassinato da juventude negra e pobre. Ao Ministério Público solicito uma ação não de censura, mas de restabelecimento da dignidade humana. A mídia sensacionalista tomou para si o direito de julgar, condenar e expor ao ridículo na televisão jovens presos, alguns até em tempo real. Será correto delegados e policiais civis e militares aparecerem dia sim outro também nesses programas acusando e chamando de perigoso marginal alguém que acabou de ser detido e ainda não foi julgado legalmente?
Finalizo dizendo que quero segurança pública, sim. Não, porém, ao preço de desprezo da lei que abre caminho para um estado policial e de exceção.