O combate ao racismo e à intolerância religiosa não tem uma única maternidade ou paternidade. A luta pela igualdade interessa a todos independente da religião que alguém professa e também aos ateus.
Faço esta introdução para não ofender católicos da renovação carismática ou evangélicos. Conheço, por exemplo, o trabalho sincero do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos que com coragem abre a discussão sobre o racismo nas igrejas evangélicas. Ressalto também o ótimo papel da Pastoral Afro desempenhado na igreja católica.
Quero falar neste espaço sobre a vitória obtida na Justiça pela família da ialorixá Mãe Gilda (Gildásia dos Santos) que faleceu no dia 21 de janeiro de 2000 depois de um longo processo de depressão motivado por matéria publicada no jornal “Folha Universal”, que pertence à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em que ela estava com uma tarja preta nos olhos e com a legenda “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. O povo da Bahia em geral, os membros do terreiro da ialorixá, Ilê Axé Abassá de Ogum, em especial, perderam muito. A data da morte de Mãe Gilda foi transformada pela Câmara Municipal de Salvador em Dia Contra a Intolerância Religiosa.
A primeira decisão da Justiça, na Bahia, condenou a IURD a pagar indenização de R$ 1.372 milhão aos familiares. Os ministros da 4ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiram pela condenação da atitude intolerante da IURD e reduziu o valor da indenização para R$ 145 mil. O maior valor, porém, é o simbólico.
O povo negro sempre sofreu perseguições ao seu culto, mesmo em órgãos institucionais, desde que aqui chegamos no período da escravatura e com nosso trabalho construímos a riqueza do Brasil.
Fico feliz, mas não perco a necessidade de olhar para o futuro e ver que muito falta por se fazer para reparar os graves e profundos problemas existentes e causados pela escravatura e conseqüentemente depois pelo racismo.
A alegria pela decisão da Justiça não é total porque vemos pesquisas divulgadas no dia 24 de setembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) mostrando que os trabalhadores brancos tiveram um rendimento médio mensal quase duas vezes maior que o dos negros em 2007, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais com base em levantamento da PNAD 2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Negros receberam em média 1,8 salários mínimos. Já os brancos tiveram um rendimento de 3,4 salários mínimos.
Somente 12% de negros estão entre o 1% mais rico, enquanto os brancos formam 86,3% do grupo. Já entre os 10% mais pobres figuram 73,9% de negros contra 25,5% de brancos.
Se o combate ao racismo e à intolerância religiosa interessa a todos independente da religião vamos nos unir para termos um Brasil melhor para todos os seus filhos e que respeite a todos. Axé! Amém!
Este espaço destina-se ao debate de idéias e para que ele cumpra com o papel que desejamos precisa da divulgação, acesso e comentários. Durante muito tempo difundiu-se a idéia que trabalhador é para trabalhar e não para pensar e expor suas idéias. Chega de ficar vendo os chamados intelectuais, os “capas-pretas” nos partidos chegarem com suas idéias prontas e colocar a “raia miúda” para pegar no pesado. Vamos mostrar que sabemos e queremos discutir idéias e projetos para a sociedade.
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