quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cora Coralina



No dia 20 de agosto de 1889 nascia em Goiás Velho (GO) ANA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO que entrou para a História da Literatura com o nome de Cora Coralina. Morreu aos 95 anos, em 10 de abril de 1985, na cidade de Goiânia.


EU VOLTAREI
Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,
servidor do próximo,
honesto e simples, de pensamentos limpos.
Seremos padeiros e teremos padarias.
Muitos filhos à nossa volta.
Cada nascer de um filho
será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,
a árvore de Ruth, a árvorede Roseta.
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,
teremos uma fazenda e um Horto Florestal.
Plantaremos o mogno, o jacarandá,
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
e mulheres, ligados profundamente
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou
milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei...
A pedra do meu túmulo
será enfeitada de espigas de trigo
e cereais quebrados
minha oferta póstuma às formigas
que têm suas casinhas subterra
e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas
frondes.
Eu voltarei...

domingo, 17 de agosto de 2008

..."Que o vento sopra o destino"...

Caminhos do Mar (Rainha do Mar)


Dorival Caymmi


Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

O canto vinha de longe

De la do meio do mar

Não era canto de gente

Bonito de admirar

O corpo todo estremece

Muda cor do céu do luar

Um dia ela ainda aparece

É a rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Quem ouve desde menino

Aprende a acreditar

Que o vento sopra o destino

Pelos caminhos do mar

O pescador que conhece

as histórias do lugar

morre de medo e vontade

de encontrar

Yemanja Odoiá Odoiá

Rainha do mar

Yemanja Odoiá Odoiá

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

CARTA DA JUVENTUDE NEGRA AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

Faço questão de publicar neste espaço a "Carta da Juventude Negra ao Governo do Estado da Bahia" e manifestar minha irrestrita solidariedade a esta luta fundamental para por fim ao extermínio de nossos jovens.
CARTA DA JUVENTUDE NEGRA AO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Contra o extermínio da juventude negra
Salvador, 07 de agosto de 2008.

No campo da segurança pública o povo negro tem, sistematicamente, vivido uma séria e profunda vulnerabilização. As prisões insalubres e precárias, as ações de extermínio da polícia e dos grupos paramilitares, as omissões do estado e o avanço da escalada fascista da punitividade tem atingido prioritariamente o segmento negro da população brasileira e, mais especificamente, o grupo juvenil.

Na Bahia, o quadro é escandalosamente desolador. A cada fim de semana, dezenas de jovens são exterminados pelas ações dos grupos financiados pelos pequenos comerciantes com o apoio e a conivência das autoridades ou nos ditos confrontos com a polícia militar do Estado. São ações de caráter notadamente racista, agindo nas periferias da capital e do interior e já produzindo, em toda população negra do Estado, um clima de terror que pode ser comparado a tempos de guerra civil.
Segundo dados reconhecidos pela própria Secretaria de Segurança Pública, só na Grande Salvador, por exemplo, o número de homicídios cresceu mais de 50,5% nos primeiros cinco meses do ano, numa média que, aproximadamente, chega a seis assassinatos por dia. (A TARDE, 23/07/2008).

Sequenciadamente, o Estado policial (que já denunciávamos a muito dentro da estrutura carlista que comandou a Bahia) revela a sua natureza racista e foca toda a sua atuação de controle e extermínio sobre os corpos negros, confirmando a idéia de que o racismo é uma doutrina que preside os mecanismos do sistema penal a fim de subjugar o grupo populacional negro, aniquilar as nossas possibilidades de afirmação sócio-históricas e, por último, exterminar de maneira definitiva todo traço negro que resistiu ao massacre da escravização e do embranquecimento, dentro dessa conformação social cínica e letal.

Com a eleição do Governo Jaques Wagner, o movimento social baiano, e em particular o Movimento Negro, alimentou profundas esperanças e apostou na ruptura de práticas históricas do coronelismo racista que comandou o nosso Estado. Entretanto, o Governo até o presente momento, não deu conta da extensão e da profundidade das demandas que o movimento tem apresentado.

Sem reconhecer efetivamente a importância de uma política de promoção da igualdade racial, o Governo do Estado tem esvaziado politicamente a SEPROMI que, apesar de dialógica e bem intencionada, não tem sido viabilizada por esse Governo, tem sido preterida do ponto de vista da ação política e tem sido vítima da falta de recursos para suas ações.

Assim, enquanto o povo se organiza e articula a resposta a toda essa situação, os representantes do Estado vão pensando suas formas de conciliar as ponderações como se nós fôssemos “bobos” e sem conseqüência da nossa situação. A compra de contêineres para o depósito de gente, as denúncias de maus-tratos e de torturas nos presídios e delegacias, a compra de novas viaturas, ou, por assim dizer, de viaturas pintadas, a não valorização dos policiais corretos e dos agentes penitenciários, e, ainda, as declarações desastrosas do secretário de segurança pública aliadas com a escolha do novo coordenador (ainda mais reacionário) para a PM baiana revelam que o cenário continua trágico e perigoso!

O Governo Wagner não conseguiu mudar os rumos da política de segurança pública e promoção da igualdade racial. A SEPROMI continua escondida pelas ações do marketing, a polícia com os mesmos níveis de violência antes registrados e a população negra continua acuada nas periferias da capital e do interior.

A juventude e os demais setores do Movimento Negro baiano, solicita a construção de novos rumos para a mudança dessa perversa realidade. Propomos uma política de segurança que seja preventiva, que incorpore a categoria raça na compreensão da racionalidade penal vigente, que fortaleça o controle social das políticas públicas e que aponte, pela educação, saúde, lazer e cultura, para a produção de novas formas de fortalecimento do tecido social, rompendo com o modelo racista implementado desde há muito nesse Estado e mantido pelo carlismo no período anterior.


Esse Governo nasceu com grandes esperanças por parte dos setores populares e precisa fazer jus aos sentidos que as classes populares lhe conferiram. Nesse momento de tantas angústias partilhadas reivindicamos um diálogo aberto e permanente no campo da segurança pública:

Queremos reparação material para as vítimas de seqüelas e mutilações decorrentes da ação do Estado e da sua omissão quanto aos grupos de extermínio e homicídios causados pela violência policial,

Lutamos pelo fim das “invasões” das comunidades populares de concentração negra e das ações letais por parte da polícia,

Lutamos pelas ações preventivas, pelo fortalecimento da cidadania e das iniciativas de mediação e controle social nas comunidades,

Lutamos para que a política estadual de juventude desenvolva ações de combate ao extermínio da juventude negra,

Lutamos pela implementação das resoluções do ENJUNE no âmbito do governo estadual,

Pela realização da Conferencia Estadual de Direitos Humanos com efetiva participação do movimento social negro,

Reivindicamos o estímulo às penas alternativas e às medidas sócio-educativas em liberdade e semi-liberdade,

Lutamos contra a privatizacão do sistema carcerário na Bahia,

Lutamos contra a criminalizacão dos negros e da pobreza,

Lutamos pela garantia da dignidade para os presos no Estado da Bahia e pelo cumprimento efetivo dos direitos previstos na Lei de Execuções Penais, na Constituição Federal e em tratados internacionais do qual o Brasil é signatário,

Queremos o fortalecimento da SEPROMI e a construção de uma política de promoção da igualdade ampla e efetiva, com recursos e envolvimento de todas as Secretarias do Estado.

Vamos participar de cada passo dessa luta e não deixaremos que outros contem a nossa história.

Estamos por nossa própria conta e sabemos que nada virá sem que nos mobilizemos de maneira autônoma. Os direitos humanos sem raça não nos assistem e as garantias não nos garantem, ser negro é viver sob o constante risco da bala perdida, do baculejo violento e da desastrosa ação policial na entrada da favela. Até quando essa história vai continuar?

Assinam:
Fórum Baiano de Juventude Negra
NENUEFS - Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pelo fim da perseguição ao Terreiro da Casa Branca no Engenho Velho

Recebi este texto e faço questão de solicitar que você repasse para todas as pessoas de sua lista de endereço eletrônico. Já passou da hora de cessar toda perseguição racista e religiosa contra o povo de santo.

O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, Ilê Axé Iyá Nassô Oká, é uma das Casas de Culto mais antigas e respeitadas da religião dos Orixás, conhecida e venerada em todo o país. Foi o primeiro templo religioso afro-brasileiro a ser tombado como patrimônio histórico do Brasil. Foi também reconhecido como patrimônio cultural da Cidade do Salvador pela PMS, que primeiro o tombou e depois o tornou Área de Preservação Cultural e Paisagística deste município. O terreno que encerra os seus principais templos foi desapropriado pela PMS e doado à associação civil que representa sua comunidade religiosa. Posteriormente, o Governo do Estado desapropriou também, para o mesmo efeito, a chamada Praça de Oxum, que integra o conjunto monumental deste famoso Terreiro. Tudo isso está bem documentado, é de conhecimento público e matéria de lei que não pode ser ignorada.

Como todos sabem, a Constituição Brasileira, no seu artigo 150, considera imunes de taxas os templos religiosos. Não cabe dúvida de que o Terreiro da Casa Branca é um templo religioso. Como tal, aliás, foi tombado pela União e pelo Município. Podem testemunhá-lo o Ministério da Cultura e a própria Prefeitura Municipal do Salvador. Documentos etnográficos e laudos periciais o atestam abundantemente.

Não se compreende, portanto, porque motivo, ou com que propósito, a Prefeitura Municipal do Salvador insiste em cobrar imaginário débito de IPTU ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e ameaça levar a leilão seus monumentos, seu território sagrado. Por acaso cobra-se IPTU da Igreja do Bonfim, do grande templo da Igreja Universal, dos lugares sagrados de outros credos e denominações religiosas em Salvador? Porque com as religiões do povo negro é diferente? Porque os templos afro-brasileiros são tratados de forma discriminatória? Não estão as autoridades do município conscientes de que o povo o da Bahia merece respeito e suas tradições de origem africana devem ser valorizadas? As ameaças que acompanham a insistente, impertinente, importuna e desrespeitosa cobrança de um imposto indevido têm levado o desassossego a veneráveis e idosas sacerdotisas, ao povo-de-santo da Casa Branca e de toda a Bahia.

É preciso pôr fim a esta ofensa ao sentimento democrático dos baianos, fazer cessar este insulto à cultura, esta agressão ao direito. A intolerância religiosa e o racismo institucional devem ser combatidos. O povo baiano não aceitará esse vexame, essa vergonha.

O Grupo Hermes de Cultura e Promoção Social, o Espaço Cultural Vovó Conceição e KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, denunciam esse descalabro e conclamam todos a lutar para que os direitos das comunidades afro-brasileiras não sejam pisoteados.

Ação contra o racismo em Salvador, já!

Quase sempre, em especial em datas como 13 de maio ou 20 de novembro, é comum ouvirmos que Salvador é a maior cidade negra fora da África. O que pouco se cobra é o que se faz do ponto de vista institucional para se combater a exclusão e a discriminação racial e social.

A Semur (Secretaria Municipal da Reparação da Prefeitura Municipal de Salvador) foi criada em novembro de 2003 para servir como instrumento na luta pela superação do racismo. Não por coincidência, a Semur foi criada no mesmo ano que o governo federal implanta a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR.

É necessário reconhecer que houve conquistas, porém, são tímidas demais. Um exemplo da omissão de ação oficial, além da tentativa de derrubada do Terreiro de Oyá Onipó Neto, localizado no Imbuí, no dia 27 de fevereiro, é agora o Terreiro da Casa Branca, o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, poder ter seus bens tomados pela Justiça pela falta de pagamento do IPTU.

A Constituição Federal, em seu artigo 150, estabelece que as propriedades que abrigam culto religioso estão isentas de pagar impostos. A Lei Maior não faz qualquer discriminação.
A Prefeitura deve entender a diversidade cultural de Salvador e não se alinhar a um único segmento. Deve ser plural e relacionar-se com adeptos de todos os cultos e manter-se independente.

Outro aspecto fundamental para as pessoas de baixa renda em Salvador é a questão do ensino fundamental oferecido pela Prefeitura. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado pelo MEC em 2007, divulgado recentemente, mostra a capital da Bahia, a terceira maior do Brasil, nos últimos lugares. Pessoas que querem agora se mostrar como expressão do novo foram as mesmas que dirigiram a Secretaria Municipal de Educação e saíram dizendo que tinham feito um trabalho maravilhoso.

Quem mais perde com uma Educação deficiente são os afrodescendentes que por razões históricas e até mesmo pelo racismo institucional não têm rendimentos, em sua maioria, para freqüentar as melhores escolas particulares de Salvador.

A Semur deve cumprir seu objetivo e função de articular, junto às instituições governamentais e não governamentais, políticas públicas de promoção da igualdade racial. Vemos hoje a falta de articulação ou capacidade técnica dos atuais gestores.

Como estão os encaminhamentos em relação a os projetos do Selo da Diversidade tanto divulgado pela imprensa inclusive criado por um Decreto Municipal, o da Feira de Empreendedores Afrodescendentes e o andamento do Catálogo de Empreendedores Afrodescendentes, em parceria com o Sebrae?

Queremos uma Semur que de verdade promova a eqüidade, a igualdade racial, de gênero, a eliminação da xenofobia e intolerância religiosa, em resumo, que seja uma referência na promoção de políticas de direitos humanos e tire Salvador da paralisia em que se encontra neste campo.

Eleições 2008: Além de nomes, rótulos e siglas queremos propostas de mudanças

É preciso que façamos uma séria análise crítica do processo eleitoral que estamos enfrentando em 2008. Como membro da categoria dos trabalhadores em limpeza tenho o sentimento que a população apresenta uma profunda desconfiança dos políticos de todos os partidos que pretendem nos representar.

Os problemas sociais, apesar de certo avanço nesse campo, continuam. Os escândalos de corrupção se sucedem e o enfrentamento das necessidades básicas da população não foi resolvido, em especial no atendimento público na saúde e educação.

Os parlamentares com origem popular ou eleitos com os votos dos setores mais excluídos decepcionaram e tenho convicção que os velhos rótulos estão gastos e não conseguirão ficar explicitados nas eleições de 2008. O que é ser de ”esquerda” nestas eleições? O que me importa nas eleições deste ano são as propostas e os compromissos assumidos com a maioria da população.

O Partido dos Trabalhadores, ao qual sou filiado, decepcionou na Prefeitura de Salvador. Saiu no dia 8 de abril da gestão municipal e largou o barco do prefeito João Henrique. Uma decisão certa tomada na hora errada. O que qualquer candidato do PT vai dizer contra a atual administração se ocupou quatro importantes secretarias, roeu o osso até quase o final e saiu aos 45 minutos do segundo tempo?

A prévia petista demonstrou uma grande divisão no partido e a vitória do deputado federal Walter Pinheiro só foi conquistada graças aos métodos heterodoxos do deputado estadual J. Carlos e sua estrutura montada no Subúrbio Ferroviário.

Queremos que as candidaturas que os partidos apresentaram para gerir as cidades, em especial Salvador, sejam baseadas em programas e compromissos claros. Rótulos ou pessoas carismáticas com suas propostas demagógicas não levam a lugar nenhum.

Esperamos por uma nova política íntegra, ética e voltada para os interesses populares. Resta-nos torcer pela boa recuperação da política que adoeceu.

Quem enfrenta os graves problemas sociais em uma cidade desigual como Salvador, vivendo sob condições indignas, tem pressa. Que este processo eleitoral de 2008 abra um caminho concreto para melhorar as condições de vida da maioria da população. Chega de privatização da saúde, de abandono do transporte coletivo, de baixos salários para os professores municipais. A disputa eleitoral é um momento privilegiado para disputar idéias com a sociedade.

Queremos que a administração municipal que saia das eleições de 2008 faça a inversão de prioridades no investimento do orçamento das cidades e que aceite a cidade como o conjunto de sua população faça as mudanças necessárias na cidade.

Queremos que se pratique a verdadeira filantropia

Os trabalhadores em limpeza têm nos convênios feitos com a Aslimp (Associação dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia), entidade parceira do Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) sua mais importante forma de atendimento médico.

Você sabia que os grandes hospitais como o Santa Izabel, Português, Espanhol, São Rafael, Sagrada Família, CEPHAR e outros têm a obrigação de nos atender e à população em geral gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS)?

A resposta, em tese, deveria ser sim. Na prática isso não ocorre. Esses grandes hospitais que mais se parecem com hotéis cinco estrelas são chamados de “filantrópicos”, ou seja, “amam ao próximo”. O único amor dessa gente é ao dinheiro.

Duas instituições merecem ser destacadas que são os Hospitais Aristides Maltez e o Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Não podemos negar seu caráter filantrópico e sua importância social. Os demais, em especial os que se articulam em torno do Sindifiba (Sindicato dos Hospitais Filantrópicos da Bahia), questionamos a validade desse título.

Para ser considerada filantrópica, a entidade deve provar que aplicou em gratuidade pelo menos 20% da receita bruta anual. É levado em consideração o valor arrecadado proveniente da venda de serviços mais à receita decorrente de aplicações financeiras, de locação de bens, de venda de bens não integrantes do ativo fixo e de doações particulares.

Os hospitais filantrópicos precisam reservar 60% de seus atendimentos para a clientela sem recursos atendida pelo SUS para receber certificação concedida pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Os grandes hospitais como o Português e Espanhol que ocupam uma área expressiva na Barra merecem esta classificação e cumprem com suas obrigações filantrópicas?

A regra governamental de filantropia estabelece a necessidade de também se atender gratuitamente através do SUS procedimentos de alta complexidade, como transplantes, tratamentos oncológicos etc. Alguém pode afirmar com certeza que isso acontece nos grandes hospitais de Salvador?

O Sindilimp-BA defende e espera que a certificação como entidade filantrópica tenha critérios transparentes e que se comprove de forma precisa que o percentual mínimo da receita em gratuidade e o atendimento regulamentado pelo SUS esteja efetivamente sendo praticado.

Não podemos admitir que a população pobre em geral, e nossa categoria em especial, tenham atendimento recusado e os trabalhadores em saúde privada explorados com jornadas de trabalho desumanas, salários baixos, desmandos que beiram ao assédio moral praticados em hospitais que se autodenominam como filantrópicos.

Com o nome de filantropia muita coisa errada tem sido praticada. Grandes hospitais tornam-se isentos e usufruem os benefícios da imunidade fiscal e tributária previstos por lei.
Não queremos mais ver o uso de benefícios da legislação filantrópica para encher os bolsos de mercantilistas, oportunistas e espertalhões que fazem da saúde uma mercadoria de compra e venda. Vida humana merece respeito.

Os governos municipal, estadual e federal devem à sociedade uma fiscalização maior e melhor nessas instituições para que o imposto não pago pelos grandes hospitais possam retornar à população como um bom atendimento médico e não o que vemos hoje.

A que ponto chegou o PT

“Que País é Esse?”, perguntava a Legião Urbana e o Paralamas do Sucesso em um sucesso da música pop brasileira. Agora sabemos a resposta.

No dia 17 de fevereiro o Partido dos Trabalhadores (PT) realizou na Bahia seu terceiro turno para saber quem o presidiria em nível estadual através do PED (Processo de Eleição Direta). O que de forma triste se viu foram roubo de urnas, uso indevido de recursos públicos e até mesmo a Polícia Militar tendo que prender “militantes” gatunos. Em Medeiros Netos três foram presos e em Caetité também uma urna foi surrupiada.

A vergonha maior é que os dois lados não podem aparecer como inocente. Houve presos e acusações dos dois lados. Até mesmo a PM foi chamada para abrir a sede do PT em Salvador para que a apuração continuasse.

O delegado de Polícia em Medeiros Neto atuou em flagrante o “militante” José Carlos Simões que levou uma urna. Com ele foram encontrados tíquetes combustíveis da Assembléia Legislativa da Bahia no valor de R$ 1.710,00.

O mais triste foi ver o presidente da Assembléia Legislativa dizer ser natural o uso do tíquete combustível e que isso não tinha nada demais. O mesmo fizeram os deputados estaduais do PT.
Ora, se usar recursos públicos de forma desonesta deve ficar impune o que mais vai acontecer na Bahia para que alguém seja responsabilizado pela falta de ética reinante?

Os recursos que deveriam ser utilizados para dotar a Bahia de uma melhor qualidade de vida acabou na mão de uma pessoa que desenvolve o trabalho de uma tendência partidária e tudo fica por isso mesmo.

O dinheiro oriundo dos impostos pagos pelo povo trabalhador deve ser usado em áreas prioritárias como Educação, Saúde Pública, Segurança Pública e outras. Recursos que faltam para ações sociais não foram economizados quando de eleições partidárias.

Cadeia no Brasil, em especial na Bahia, foi feita para pobres, negros e excluídos em geral. Uma jovem mãe de família passou cerca de um mês presa por furtar dois sacos de leite em pó para alimentar seus filhos e um par de sandálias. Um erro, mas que o desespero atenua. O total que levou a jovem mãe para a cadeia foi de no máximo R$ 10,00.

Por que dois pesos e duas medidas? Será que a mesma solidariedade dada pelos deputados estaduais petistas e pelo presidente da Assembléia Legislativa aos que desviaram as urnas e que usaram recursos públicos foi a mesma dada à mãe desesperada que furtou leite? Quem souber responda.

O PT tem como prática levar para Comissão de Ética todos aqueles que cometam atos que não condizem com as diretrizes do partido. Desde de sua criação os dirigentes da legenda tem expulsado lideres que divergiram ou que não seguiram as determinações tiradas em encontros. Será que alguma medida vai ser tomada em relação ao triste episódio do terceiro turno do PED?
Distribuir cestas-básicas nas eleições. Quando assumir uma administração desviar recursos públicos. Um prefeito atrasar salários, em especial dos trabalhadores terceirizados. Quando alguém sentir que vai perder uma disputa eleitoral em sindicato, partido, associação e outras pode roubar as urnas. Será que o PT atual vai responder sim para todas essas afirmações?

Enquanto o PT, que nasceu como o partido da esperança e da mudança e que eu tive a honra de contribuir com sua fundação, afunda, na Bahia vemos a juventude negra ser assassinada sem que muitas vozes se levantem.

O Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV), ligado à Universidade Federal da Bahia (Ufba), revelou que das 6.308 pessoas assassinadas entre 1998 e 2004 na capital baiana, 5.852 eram negras ou pardas. O índice é de 92,7%, frente aos 85% de afrodescendentes que compõem a população soteropolitana. Atualmente muito pouco mudou dessa situação.

Exigimos do PT e por conseqüência do governo da Bahia, composto majoritariamente por petistas, digam não a este espúrio processo de “limpeza social e racial” em nosso estado e que a corrupção no PT e fora dele não seja considerada normal e parte do jogo.

Beleza Negra no Curuzu

O verdadeiro movimento negro está aqui

Tive a honra e o orgulho de estar presente na 29ª edição da "Noite da Beleza Negra" do Ilê Aiyê, no dia 12 de janeiro, na Senzala do Barro Preto, na Ladeira do Curuzu, na Liberdade.
Minha emoção foi muito grande e pude ver que o verdadeiro movimento negro, aquele que luta pelo fim do preconceito com ações firmes e não com palestras e fala-fala que não chegam a lugar nenhum está no Ilê Aiyê.


Como professor de História lembrei que o nome Curuzu vem de um forte que foi tomado depois de muita resistência e heroísmo dos paraguaios contra as tropas do Brasil, Argentina e Uruguai que na época serviam como marionetes do poder imperial da Inglaterra. O Forte do Curuzu foi tomado na Guerra do Paraguai no dia 2 de setembro de 1866.

A resistência paraguaia é a mesma na Ladeira do Curuzu levada a cabo pela população local, em sua maioria afrodescendente. Lá estão os verdadeiros lutadores pela igualdade racial e igualdade de oportunidades. Há uma identidade própria, marcada principalmente pelo estreitamento das relações de amizade e pela história e presença do Ilê Aiyê.

"O Ilê é hoje uma entidade que representa esse desejo de valorizar o negro. Acho que hoje as pessoas aqui não têm mais vergonha de dizer que moram na Liberdade, de se assumir ser negro. Antigamente, muitos tinham vergonha disso, e o Ilê foi quem mudou essa mentalidade", disse Mãe Hilda dos Santos, sacerdotisa do povo de santo.

A mudança conceitual, estética e visual provocada pelo Ilê Aiyê é linda e profunda. No dia 12 de janeiro pude ver irmãs e irmãos reunidos e sabendo que o centro de tudo era e sempre será a resistência.

Estavam lá muitos brancos solidários e parceiros da luta contra o racismo. Só não estavam lá nenhum moreninho, bombom, achocolatado, um pouco escurinho. Estavam lá negros orgulhosos de sua história e de sua contribuição fundamental para a História do Brasil, sua formação econômica, cultural, social e política.

A dançarina Adriana Santos Silva, foi escolhida a Deusa do Ébano do Carnaval 2008 na 29ª edição da Noite da Beleza Negra, porém, vencemos todos nós.

Pela primeira vez o Ilê Aiyê realizou esta tradicional festa em sua casa, em seu local de origem, não foi para nenhum clube social que no dia-a-dia está fechado para o povo negro e se abre somente para cobrar aluguel caro do "mais belo dos belos". A festa foi feita em nossa casa sem dever favor a ninguém.

Enquanto grupos, grupelhos e partidos políticos ficam disputando para saber quem de verdade representa o movimento negro de combate ao racismo com muito proselitismo, muita autopromoção e aproveitamento quando ocupam cargos públicos, a festa, a 29ª edição da Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê mostrou que a resistência se faz no dia-a-dia, pisando o pé na terra, na realidade, enfim, seguindo o exemplo da Senzala do Barro Preto.

Estou ainda mais orgulhoso de ser afrodescendente, povo que com sofrimento, dor, trabalho e resistência construiu o que somos e temos hoje: o Brasil.