quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O lugar do negro no Carnaval da Bahia

A preservação da cultura negra no Brasil, em especial em Salvador, a maior cidade negra fora da África, interessa não apenas aos afrodescendentes e sim a todos os brasileiros porque ela é um dos pilares do que somos hoje enquanto povo e nação.

Além do extermínio físico da nossa juventude, vemos também a tentativa de destruição de nossa identidade cultural e ofuscar nossa herança, como se isso fosse possível.

No período do Carnaval o que mais vemos são discussões sobre a democratização da maior festa popular de Salvador. Qual é o lugar do negro no Carnaval da Bahia? Esse é o questionamento que faço.

Quando se discrimina os blocos afros, afoxés e outros grupos que reúnem em sua maioria afrodescendentes entendemos que isso representa um ataque à nossa cultura, nossa origem e nossa raiz.

Uma coisa lamentável que não se rompe por falta de vontade política é a famigerada ordem de entrada na avenida. Os blocos de trio são os donos, parece até que por vontade divina ou hereditariedade, do espaço público. Há uma série que nunca se rompe e que deixa os blocos afros somente para a madrugada. Por que não se estabelecer um novo critério que acabe com uma regra que o povo negro não estabeleceu já que o Ilê Aiyê, por exemplo, iniciou suas atividades em 1974? Por que esconder a negritude de nossa cidade?

Até mesmo uma grande parte dos compositores das músicas gravadas pelas grandes estrelas da chamada “Axé Music” são moradores dos bairros mais carentes como Nordeste de Amaralina, Engenho Velho da Federação, Liberdade, Subúrbio Ferroviário e outros. Não por coincidência são “quase todos pretos. Ou quase pretos”. São desconhecidos e invisíveis. A música é sempre atribuída ao intérprete. Quem ganha com a invisibilidade do negro?

Temos uma cultura de resistência e vamos continuar nessa postura. Não aceitamos ser coadjuvantes em nossa própria casa. Nossos sábios e mestres podem não ser citados, mas é nossa a cultura que eles cantam mesmo nos negando. Acabar com isso não se faz do dia para a noite porque temos que levar em consideração que um quinto da existência do Brasil se deu debaixo de uma brutal escravidão do negro.

A resposta dos negros sempre teve na cultura sua forma mais forte para superar as dificuldades e neste momento que se discute o Carnaval é oportuno que a sociedade debata com firmeza a questão de combate ao racismo e destruir a imagem mental de inferioridade que tentam colocar sobre a população negra.

Encerro homenageando Jucelina Santos Nascimento, Mãe Bandagola Unzambi, do Terreiro Unzó Niquice Kwa Ningunzo Kayango, nossa querida companheira Cecé, falecida no dia 15 e o corpo enterrado no dia 17 de fevereiro. Que sua luz continue nos iluminando e que possamos continuar sua luta por uma sociedade igualitária e justa como ela sonhou.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Orgulho de ser da diretoria do Sindilimp-BA

A diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA), a qual tenho orgulho de pertencer, pensa longe e pensa grande. Não paramos apenas em reivindicações econômicas. Queremos ir mais e mais longe e dotar a nossa categoria e seus familiares de auto-estima cada dia mais forte.

Pensando assim e não aceitando o lugar menor que a sociedade racista quer nos colocar, firmamos uma parceria com o Instituto Solvi, gestor das ações de responsabilidade social das empresas do grupo Vega e logo após o Carnaval iniciaremos um Curso de Capacitação e Inclusão Digital.

O Curso de Capacitação e Inclusão Digital está aberto para o trabalhador em limpeza e seus dependentes. Ofereceremos noções básicas de Word, Excel, Windows e Internet.

O objetivo do Sindilimp-BA é firmar outras parcerias com empresas, organizações governamentais e não governamentais e assim contribuir com o aprimoramento da categoria e possibilitar aos dependentes, em especial os jovens, uma chance maior e mais qualificada de entrar no mercado de trabalho.

Onde está a economia de recursos públicos no governo da Bahia?

Mais uma vez solicitamos do governo do Estado da Bahia uma resposta a nossa questão acima.

A diretoria do Sindilimp-BA tem um compromisso com a categoria não apenas no aspecto sindical, defesa de melhores salários e condições de vida dignas. Atuamos também na questão social e como cidadãos queremos que se mude o que está errado nas administrações municipal, estadual e federal.

Quando houve a mudança de empresa para cuidar da limpeza na área de Saúde na Bahia pensávamos que finalmente haveria transparência e os recursos públicos seriam gastos não para beneficiar empresários e sim para melhor os postos de saúde, hospitais, escolas etc.

Com tristeza vemos que isso não ocorreu. O contrato que existia antes com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) era em torno de R$ 2 milhões. O atual é de cerca de R$ 5 milhões. Onde está a economia? Por que não se toma uma medida imediata para acabar com esta farra e este absurdo?

Tivemos que entrar na Justiça e felizmente vencemos. O juiz Josevando Souza Andrade, do Tribunal de Justiça da Bahia, atendendo mandado de segurança impetrado pelo Sindilimp-BA concedeu liminar contra a Secretaria da Administração (SAEB) suspendendo a contratação de empresas terceirizadas que prestariam serviços nas unidades de saúde pública em todo o estado.

Esta é uma vitória de toda a sociedade e dos trabalhadores em especial. Queremos o máximo de transparência para que a população não veja recursos públicos serem gastos de forma indevida.
Queremos o uso correto, criterioso e transparente dos recursos públicos e que os trabalhadores terceirizados não fiquem expostos a mais um drama de poder ficar sem emprego.


Esperamos e confiamos que a Procuradoria Geral do Estado, Assembléia Legislativa, SAEB, Secretaria de Saúde (Sesab) e demais interessados abram uma discussão verdadeiramente democrática. Queremos um amplo debate, de preferência em audiência pública, para que os interesses maiores da sociedade sejam salvaguardados.