segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Feliz 2010! Vamos juntos conquistar mais vitórias!


Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Crime não deve ser confundido com ritual religioso

Com revolta a sociedade baiana e brasileira tomou conhecimento da violência contra um menino de apenas 2 anos e 7 meses de vida. Várias agulhas foram introduzidas em seu pequeno corpo e o menino corre risco de morte. Esperamos que a cirurgia ou cirurgias ocorram com sucesso e que o garoto de Ibotirama sobreviva. Um crime que estarrece todos os brasileiros.

O ex-padrasto da criança, Roberto Carlos Magalhães Lopes, Maria Souza Santos e Maria dos Anjos Nascimento, sempre citada na imprensa como “mãe de santo" , são os supostos autores desta barbaridade que merece ser punida exemplarmente.

O que me preocupa como cidadão brasileiro e adepto do Candomblé é que este crime seja utilizado para mais uma vez se atacar as religiões de matriz africana.

Não há uma única religião afro que pregue sacrifício humano. Não podemos e não vamos aceitar que se vincule de forma imediata o crime e o universo do Candomblé e demais manifestações. Este crime desprezível sob todos os aspectos não deve servir para mais um movimento de intolerância contra as religiões afros e seus adeptos.

Sei que o estrago está feito e que muito ainda vai se falar sobre magia negra, ritual macabro e outras coisas mais. Para mim, o que houve foi um crime cometido por pessoa ou pessoas sem nenhum escrúpulo.

As religiões afros não podem ser sempre relacionadas ao diabo, a algo ruim. A demonização de figuras do Candomblé, especialmente de Exu, é uma constante. Queremos acabar com isso.

Assassino, criminoso, agressor de criança deve ser qualificado como tal. Imputar o crime, qualquer que seja, a uma determinada religião é uma generalização perigosa. Há vários casos de pedofilia envolvendo padres e pastores, porém, ninguém sério pode dizer que essa seja uma orientação e uma prática de suas igrejas.

Como cidadão, sindicalista e militante das causas sociais espero que o menino de Ibotirama sobreviva, que sua mãe Maria de Souza Santos seja confortada e amparada neste momento difícil, que os criminosos sejam punidos. Não aceito, porém, que nas entrelinhas dos noticiários e comentários se aguce a intolerância religiosa, pois o preconceito é pré-histórico, não coaduna com nosso tempo.

A Justiça com certeza se fará. Que seja o mais rápido possível para não se causar mais vítimas além do garoto agredido por quem deveria protegê-lo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Terceirização ou escravidão?

O Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia), conforme dados coletados pelas nossas assessorias, apareceu nos diversos meios de comunicação em pelo menos cinco vezes por mês no ano de 2009. Desse número, 99% dos casos dizem respeito a trabalhadores terceirizados que têm seus direitos desrespeitados e então o sindicato é acionado para impedir ataques ao que a categoria conquistou.

Não tivemos um único mês sem uma grande mobilização de combate ao calote patronal e a omissão dos contratantes, em especial os governos municipais, estadual e federal.

Como 2009 ainda não terminou, a tendência aponta para aumento de casos. Isso é péssimo porque ser humano não é apenas e tão somente um número estatístico. “Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome”. Quando um trabalhador fica sem salário são cinco ou mais pessoas que passam necessidades junto com ele.

Hoje, dia 15, por exemplo, em razão da não resolução do problema de atraso salarial, os trabalhadores terceirizados contratados pela Conservadora Mundial Ltda. que atuam na Receita Federal, Ministério da Fazenda e diversos outros órgãos federais e estaduais, realizaram uma manifestação em frente à Delegacia Regional do Ministério da Fazenda na Avenida Estados Unidos, Comércio. A decisão inicial dos trabalhadores tomada em assembléia é a de entrar em greve se não receberem os dois meses em atraso e demais direitos trabalhistas.

Será que a desumanidade e o desejo do lucro pelo lucro tomou contornos tão sórdidos e perversos? Como uma empresa que tem contratos com tantos órgãos federais e estaduais consegue não cumprir a legislação trabalhista e ficar impune?

Quem contrata empresas terceirizadas não deve preocupar-se apenas com aspectos civis da relação contratual e esquecer-se das implicações trabalhistas.

O que vemos hoje é a perda de identidade do trabalhador terceirizado que quase sempre, ou sempre, não se insere na estrutura funcional da empresa ou órgão onde atua como ocorre com os contratados como empregados, pois sempre será um ser “estranho” que participará de forma ocasional por mais que goste do que faz e do lugar em que trabalha.

Para agravar ainda mais esta situação de “estrangeiro” em seu local de trabalho, o terceirizado se depara com o calote. Ou seja, o que deveria ser exceção virou uma regra e a retirada de direitos é tentada por algumas empresas. O Sindilimp-BA está atento e com a mobilização da categoria vai impedir que isto ocorra. Até o momento ganhamos todas as batalhas, agora queremos vencer a guerra.

Finalizo lembrando o que aprendi como acadêmico de Direito. A Súmula 331, do TST (Tribunal Superior do Trabalho), que dispõe, no item IV, sobre a responsabilidade subsidiária da administração na hipótese de inadimplência da empresa contratada diz: “O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (artigo 71, da Lei 8.666/1993)”.

Em bom português isso quer dizer que quem contrata as empresas terceirizadas não pode esquecer de suas responsabilidades e obrigações legais e morais. Deve ter vergonha na cara, como diz nosso sábio povo.

Continuamos com nosso lema de lutar para manter e ampliar os direitos conquistados com sacrifícios e esforços pelos trabalhadores, em especial os do setor de limpeza.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Trabalhadores em limpeza na defesa da sociedade

Como toda categoria profissional, os trabalhadores em limpeza defendem, sim, melhores salários e condições dignas para os que atuam nesse ramo. Uma coisa, porém, não abrimos mão; a defesa dos anseios e direitos da população e da sociedade em geral. Nós temos preocupação em como o dinheiro público é utilizado e defendemos a saúde da população.

Em relação ao uso correto de recursos públicos, o Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 20 de novembro, manteve a decisão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) favorável ao Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) que entrou com uma ação judicial contra a Secretaria da Administração (SAEB) suspendendo a contratação de empresas terceirizadas que prestariam serviços nas unidades de saúde pública em todo o estado.

Esta é uma vitória de toda a sociedade e dos trabalhadores em especial. Queremos o máximo de transparência para que a população não veja recursos públicos serem gastos de forma indevida. O contrato estava dividido em quatro lotes em um total de gasto em torno de R$ 5 milhões. Onde está a economia dos recursos públicos quando se gasta mais com o mesmo serviço e expõem os trabalhadores terceirizados a mais um drama de poder ficar sem emprego?

A Secretária de Saúde (Sesab), em 28 de julho de 2008, publicou o Edital nº091/2008, a fim de dar início a procedimento licitatório, na modalidade pregão, por intermédio do qual seriam selecionadas as empresas aptas a prestarem o serviço público de limpeza, higienização e conservação de suas unidades.

Contra o edital, o Sindilimp-BA impetrou mandado de segurança pois a modalidade pregão não seria adequada e a estimativa de custos apontada no edital seria superior ao custo real da atividade. O pedido liminar foi deferido, com a conseqüência suspensão do procedimento licitatório.

A decisão evita grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Queremos assegurar licitações transparentes onde os direitos dos trabalhadores e da sociedade em geral sejam respeitados.

Para finalizar, em defesa do meio ambiente e da saúde pública, estamos preocupados com a possibilidade de que Salvador tenha um Carnaval imundo em razão da falta de limpeza pública. A concessão de limpeza pública encerra-se no dia 1º de fevereiro de 2010 e até o momento a Prefeitura de Salvador não publicou um edital definindo os critérios para que empresas ou consórcios possam cuidar da limpeza pública da cidade.

Algumas empresas chamaram o Sindilimp-BA para reuniões onde discutimos em que base se dará a concessão do serviço para 2010. Algumas estão antecipando férias e outras reclamam não estar recebendo em dia da Prefeitura de Salvador e, sendo assim, estão tendo dificuldades para pagar os trabalhadores.

O Sindilimp-BA está realizando diversas reuniões e assembléias com os trabalhadores de limpeza urbana alertando para os problemas e conseqüências que serão enfrentadas tanto pela categoria como pela sociedade em geral.

Já enviamos ofício à SESP (Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Prevenção à Violência) solicitando uma audiência com o secretário Fábio Mota, com quem temos uma boa relação, para sabermos o que a prefeitura municipal fará a respeito já que o planejamento, administração e fiscalização do serviço de limpeza urbana são privativas dessa secretaria. A nossa expectativa agora é que a cidade e os trabalhadores não sejam penalizados.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Gari mostra valor da vida humana

Tenho orgulho de ser membro da categoria dos trabalhadores em limpeza. Mostramos com raça, organização e mobilização o valor social da nossa categoria e em momentos de emergências isso passa para a sociedade em geral.

Quantas vezes vemos garis fazendo trabalho de bombeiros quando de desmoronamentos em grandes chuvas quer caem nas diversas cidades, em especial em Salvador?

No dia 23 de novembro foi a vez de José Euclides de Jesus Macedo, 48 anos, há seis anos trabalhando na limpeza urbana de Salvador, mostrar a importância de cada um de nós e do que somos feitos do ponto de vista moral e emocional.

Ele encontrou um bebezinho na Avenida Luís Eduardo Magalhães, jogado em uma caixa e começou a lutar para salvar a vida do garotinho.

Simples e modesto não tentou em nenhum momento se mostrar como um herói e talvez seja exatamente daí que seu valor de destacou e se destaca. Sua esposa, Márcia Oliveira Reis, e sua filha Vanessa podem se orgulhar de José Euclides de Jesus Macedo ainda mais. Fez sua parte para salvar o menino.

Trabalhando em limpeza urbana aprendeu e mostrou que a vida humana merece respeito e não pode ser tratada como lixo.

Infelizmente, no dia 25 de novembro o bebê não resistiu e faleceu no Hospital Roberto Santos (HRS), na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal da unidade. Desde que chegou ao local, o recém-nascido apresentava saúde frágil.

Em momentos trágicos vemos gestos de superação humana. Além do nosso companheiro José Euclides de Jesus Macedo, vimos o desprendimento de um motoqueiro que tirou a camisa e deu para cobrir a criança. Pode parecer que foi nada, mas ele poderia ser confundido pela polícia ou outras pessoas com um marginal por circular sem camisa. Não pensou nas conseqüências e fez apenas o que mandou sua consciência. Além disso é impossível não destacar a luta de toda a equipe do HRS que fez tudo para salvar a vida do menino que eles já chamavam de "Pedro".

São ações como essas que me dão a garantia que um dia construiremos uma sociedade justa e igualitária. Com certeza a maioria do nosso povo é composta por José Euclides de Jesus Macedo e não por José Roberto Arruda (DEM-DF).

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Saúde pública: governo deve satisfação ao nosso povo

Não sou médico, mas não sou desinformado. A população, em especial a mais carente, está se desesperando com o crescente número de vítimas da Meningite C em toda a Bahia e o crescimento na região metropolitana de Salvador (RMS).

A infecção meningocócica C é causa doenças graves e pode atingir qualquer pessoa, mas crianças com menos de 1 ano de idade e final da adolescência são particularmente vulneráveis. Mesmo com tratamento imediato, a mortalidade pode ocorrer de maneira muito rápida. Os que escapam estão sujeitos a seqüelas graves.

Quem tem recurso está procurando as clínicas pediátricas e de imunização particulares para que seus filhos sejam vacinados. O preço médio é de R$ 100,00. Ora, não é preciso ser gênio para se saber que a população de baixa renda, mesmo querendo e desejando proteger suas crianças e adolescentes, não pode dispor de uma quantia dessa mesmo com todo sacrifício.

O que me impressiona é o silêncio do governo estadual. Em Camaçari, quando dos primeiros casos, a prefeitura, através da Secretaria de Saúde, manifestou-se oficialmente e disse estudar a vacinação de crianças e adolescentes na região atingida pela doença. Por que o governo estadual não atua da mesma forma?

Quando será tomada uma providência? Enquanto se gasta recursos públicos com tanta coisa secundária, será que o melhor passo não seria a vacinação contra a meningite prioritariamente para as crianças e adolescentes?

A própria Secretária da Saúde do Estado (Sesab) divulgou que até o dia 7 de novembro, 126 pessoas já morreram vítimas da doença na Bahia em 2009. Segundo o balanço, foram confirmados 1.143 casos, sendo que destes, 418 foram do tipo bacteriana, 542 do tipo viral e 183 por outras causas.

Sou acadêmico de Direito e um dos casos estudados na faculdade de bom contato com a imprensa vem da TAM, quando da queda do Fokker-100, em Congonhas, em 1996. Não estou defendendo a TAM, porém, a rapidez na resposta amenizou as conseqüências e danos à imagem da empresa aérea.

Poucas horas após o acidente, a empresa já tinha uma sala em um hotel próximo ao aeroporto preparada para receber as famílias das vítimas e a imprensa. Ainda que visivelmente nervosos, os porta-vozes da TAM conseguiram se comunicar bem e dar satisfação à opinião pública. Mesmo com as famílias das vítimas ainda hoje reclamando o não-pagamento pela empresa de indenizações que julgam justas, a TAM continua crescendo.

Faço esses comentários com o objetivo de auxiliar e finalizo questionando: Até quando o governo da Bahia, em especial a Sesab, vai manter o silêncio e a falta de ação que passa a imagem de incompetência para a maioria da população nesta questão da Meningite C?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cadê o Estatuto da Igualdade Racial?

Salvador será a sede brasileira das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra este ano e contará com a presença, no dia 20, às 16h30min, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ato público referente à data.

Isto é algo positivo, sem dúvida, e que mostra a importância de Salvador, ou melhor, da Bahia na luta contra o racismo no Brasil.

Quero, porém, fazer alguns reparos ao Estatuto da Igualdade Racial aprovado em setembro na Câmara dos Deputados que em minha opinião é tímido e não cumprirá com os objetivos que inicialmente se tinham sobre ele.

A aprovação do Estatuto em sua plenitude garantiria ao povo negro direitos sociais que hoje não temos.

O acordão feito para a aprovação do Estatuto redundou em um monstrengo. O projeto aprovado tem pouca relação com a proposta original. Sacramentou a retirada do texto das propostas fundamentais como por exemplo a identificação da raça/cor em documentos do SUS, que serviria de base para traçar políticas públicas específicas. Em relação aos remanescentes de quilombos não ficou assegurado que terão a propriedade definitiva das terras ocupadas.

O que reivindicamos é uma política justa e correta de combate ao racismo e não apenas retórica no dia 20 de novembro.

Por fim, quero falar de minha categoria, de trabalhadores em limpeza. Nossa categoria é em sua maioria afrodescendente e temos que ter orgulho de nossas tradições e origem.

A data da imortalidade de Zumbi dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1695, deve ser lembrada para reflexão a respeito das condições de vida da população negra brasileira.

Os negros ainda estão condenados a viver em condições subumanas. Isso é terrível, porque impossibilita que as pessoas se reconheçam positivamente. O dia 20 de novembro não é apenas para lembrar a morte do líder Zumbi. É um dia para revitalizar e fortalecer a população negra no sentido de que ela se reconheça e assuma os desafios que tem pela frente para garantir uma vida com qualidade.

A Fetralimp-BA (Federação dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) e os sindicatos filiados estão firmes na luta contra todas as práticas racistas e sempre estaremos ao lado das entidades e pessoas que compartilham com esse princípio.

"Zumbi é senhor das guerras
É senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Fardamento escolar é uma necessidade para a boa Educação

Há uma antiga reivindicação do Fórum de Dirigentes Escolares da Bahia solicitando ao governo estadual a distribuição gratuita de uniformes escolares para todos os níveis através da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC).

Até o momento nada foi feito nesse sentido e recentemente pude presenciar uma cena triste. Conversava com um dirigente escolar, um diretor, que permitiu a entrada de um estudante sem a camisa determinada pela escola.

O dirigente escolar disse que agiu assim porque prefere o aluno na escola que na rua sujeito à violência da marginalidade e até mesmo a policial que sempre atua no bairro periférico de forma firme e forte.

Não fosse a boa vontade e compromisso social do dirigente escolar em questão, teríamos mais um aluno fora da aula e fora da escola sujeito a todos os perigos e obstáculos na rua da periferia.

Ora, por que o governo do Estado que tem tanto recurso para utilizar em tantas coisas que considero secundárias, não distribui o fardamento de boa qualidade de forma gratuita como diversas prefeituras realizam?

Não estamos propondo roupas de luxo ou nada além do que o bom-senso prevê. Queremos a distribuição de dois uniformes por ano, um em cada semestre, contendo camiseta com escudo, calça jeans e tênis.

Pode parecer algo secundário a questão do uniforme, porém, não é. É prioritária a utilização de uniforme escolar.

Isso tem a ver com higiene e imagem que o aluno passa. A primeira impressão é a que fica. Não se trata de vaidade. Investir neste ponto trás como benefício uma maior motivação para o aluno freqüentar a escola. Vestir bem o estudante é aumentar e dar-lhe mais dignidade.

Já passou da hora da SEC atender a reivindicação do Fórum dos Dirigentes Escolares da Bahia, da APLB-Sindicato e demais entidades. Muitos pais e mães de alunos que lutam com dificuldades, desemprego e baixos salários não têm mesmo recursos para comprar mais de um uniforme escolar quando têm mais de um filho na escola.

Até quando vamos ver alunos fora da escola e perdendo aula por falta de uniforme? Quando a Educação vai ser levada como prioridade por um governo da Bahia? Vamos aguardar uma resposta e que ela seja breve em benefício da nossa juventude.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Arte popular da Bahia continua viva

No sábado, dia 31, a Bahia acordou mais triste: morreu o músico baiano Antonio Luís Alves de Souza, mais conhecido como Neguinho do Samba, com apenas 54 anos.

O enterro de seu corpo ocorreu hoje, dia 3, porém sua obra permanecerá viva para sempre. O samba-reggae sempre existirá. Pode e será transformado e modernizado, mas a raiz, a estrutura, a criação de neguinho do Samba estará lá presente.

O músico morreu em sua casa no Pelourinho. Nada mais simbólico do que isso. Uma vida dedicada ao Centro Histórico e no local onde funciona a Escola Didá.

Uma perda para sempre ser lembrada. Um trabalho cultural abnegado e voltado para a juventude tão carente de incentivo e ações positivas. Esperamos que o Estado assuma seu papel e mantenha o trabalho que Neguinho do Samba tinha com os jovens.

Um músico respeitado internacionalmente. Seu trabalho no Grupo Cultural Olodum e na Banda Didá nunca serão apagados.

Encerro este comentário lembrando de vida e renovação. No dia 23 de outubro realizou-se a final do 2º Festival Anual da Canção Estudantil, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Tive a oportunidade de assisti-la na TVE no dia 30, um dia antes da morte de Neguinho do Samba.

A apresentação dos 15 finalistas foi emocionante. Ver os diversos estilos musicais e estudantes de escolas tão variadas e de tantos municípios mostra que podemos e devemos ter fé na vida e no futuro.

Com certeza Neguinho do Samba sabia que deixou sementes férteis e herdeiros musicais. Quem trabalha com profissionalismo e seriedade nunca desaparece e viverá com referência daquilo que somos do ponto de vista cultural e humano no sentido mais profundo dessas palavras.

Viva Neguinho do Samba!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Em defesa dos Agentes Comunitários de Saúdes (ACS) e Agentes Comunitários de Endemias (ACE)

De terça a quinta-feira (27 a 29 de outubro) realiza-se um seminário para discutir o trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS). Todos que são moradores de bairros populares sabem a importância que este profissional tem para a população, assim como o agente comunitário de endemias (ACE).

O evento acontece no Hotel Sol Bahia e tem o pomposo nome de 2º Seminário: Desprecarização dos Vínculos de Trabalho e Educação Permanente dos ACE – Bahia.

Para mim é fundamental que esta discussão não se faça de forma burocrática e fechada. Todos nós temos interesse em saber o que foi decidido e o que vai efetivamente ser implantado para melhoria da saúde pública.

A precarização do trabalho dos ACS e ACE é revoltante. Aqui em Salvador, por exemplo, a terceirização desse setor mostrou ser improdutivo, explorador dos direitos dos trabalhadores que quase sempre recebiam calote e ficavam sem poder honrar com seus compromissos.

Apresento desde já à disposição desses trabalhadores a solidariedade militante da Fetralimp-BA (Federação dos Trabalhadores em Limpeza da Bahia) que tenho a honra de presidir e do Sindilimp-BA.

A defesa dos direitos e reconhecimento do trabalho dos ACS e ACE é fundamental para a sociedade. São esses profissionais que exercem um papel importante para todos. Essa categoria que atua na prevenção de doenças e promoção da saúde não pode ser abandonada à própria sorte.

A lei é clara quando estabelece que a contratação de Agentes Comunitários de Saúde e de Agentes de Combate às Endemias deverá ser precedida de processo seletivo público que tenha de forma transparente os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Ressalto a nossa solidariedade aos trabalhadores desse setor e a esperança que a democracia prevaleça e a opinião das companheiras e companheiros sejam ouvidas. Finalizo repetindo que o “2º Seminário: Desprecarização dos Vínculos de Trabalho e Educação Permanente dos ACE – Bahia” não pode e não deve tomar decisões sem levar em consideração a opinião dos trabalhadores.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Prevaleceu o bom-senso

O presidente da Assembléia Legislativa da Bahia, deputado estadual Marcelo Nilo, anunciou ontem, dia19, que em defesa da Casa não publicaria a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que garantiria pensão mensal vitalícia para os ex-governadores da Bahia. O texto da PEC apresentada previa aposentadoria especial aos ex-governadores que tivessem cumprido pelo menos metade do mandato eletivo (dois anos), com pensão no valor igual à remuneração do cargo, além de dois policiais à disposição para prestação de serviços de segurança.

Desde o primeiro momento nos manifestamos contra a proposta e, em nossa visão, o recuo se deu em razão das grandes manifestações contrária à PEC. A opinião pública foi respeitada, o que é benéfico para a democracia.

O governador Jaques Wagner foi preservado e o próprio deputado Marcelo Nilo confirmou que ele não foi o autor da proposta e muito menos a apoiava. Isso também é positivo porque Wagner, oriundo do movimento sindical, preserva a imagem de honra e transparência que um governador deve ter.

Quando um trabalhador é demitido tem que correr em busca de uma nova recolocação. Por quaisquer que forem as razões, mesmo que tenha passado quatro, oito ou mais anos na mesma empresa, cabe ao trabalhador procurar lutar por sua sobrevivência e de sua família.

Assim é com todas as categorias profissionais, como por exemplo, nós trabalhadores em limpeza, médicos, professores, jornalistas, qualquer que seja a profissão ou cargo. Qual a razão, então, de se garantir uma pensão vitalícia para os ex-governadores da Bahia que tenham cumprido no mínimo 2 anos de mandato, isso mesmo, dois aninhos só.

Dizer que um ex-governador ficaria sem poder se empregar é uma coisa impossível de se acreditar. Será que anos na administração estadual não garante, no mínimo, uma carreira segura em consultoria e outras opções? Você conhece um ex-governador pobre?

Para mim, a retirada da PEC foi uma vitória para os que querem uma Bahia para todos nós e não que as forças políticas do atraso venham novamente à tona. A aprovação da PEC só daria destaque aos oportunistas políticos que a população derrotou nas urnas. Com certeza não é isso que a Bahia quer.

Somos contra quaisquer tipos de privilégios. A lei deve ser igual e cumprida por todos de forma igualitária. Nós, trabalhadores em geral e de limpeza em especial, vamos sempre dizer NÃO a qualquer lei ou proposta que discrimine as pessoas e divida a sociedade em cidadãos de primeira e segunda classe.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aposentadoria de ex-governador será paga com dinheiro público?

A produção dos deputados estaduais da Bahia ainda é muito pequena. É uma quantidade enorme de moções, declaração de utilidade pública para entidades, criação de datas festivas as mais insanas possíveis, denominação de ruas, praças, viadutos e outras iniciativas de pouca ou nenhuma importância para o cidadão.

Alguns podem atribuir essa baixa produção legislativa à pressão sofrida pelos deputados que ficam presos às ações do Poder Executivo que acaba tomando para si o papel de legislar.

Uma coisa, porém, não pode deixar de ser dita. Alguns projetos de lei apresentados podem até ser legais mas para mim são vergonhosos. Um exemplo vem da recente notícia dada pelo presidente da Assembléia Legislativa da Bahia, deputado Marcelo Nilo, de que existe uma proposta de Emenda Constitucional que assegura aposentadoria para o governador Jaques Wagner (PT) e os ex-governadores Paulo Souto (DEM) e César Borges (PR). O valor é o mesmo do governador em exercício, atualmente em R$ 12 mil.

O argumento para concessão desse absurdo já existente e contestado judicialmente em 12 estados é o seguinte: “Um ex-governador quando sai do cargo não pode trabalhar em um cargo público. Não tem lógica um ex-governador eleito ser secretário depois. Não pode trabalhar numa empresa que preste serviço ao Estado se não vão dizer que ele beneficiou, é antiético. Vai viver de quê? Para ele ter tranqüilidade tem que ter um mínimo de condições para sobreviver”, segundo o deputado Marcelo Nilo.

Isso sem dúvida seria cômico se não fosse tão trágico. Espero que a Assembléia Legislativa não dê mais esta triste “contribuição” à população baiana. Quanto custa aos cofres do governo, através do dinheiro arrecado com nossos impostos, cada deputado estadual? Qual a imagem que ficará para a população dos parlamentares que aprovarem tal privilégio para os ex-governadores? Será que não há algo mais prioritário para o custo social de tal emenda?

Matéria publicada em A Tarde no dia 9 de outubro ainda mostra que corre-se o risco de se pagar, além dos salários, os demais benefícios de um governador em exercício como por exemplo o direito à residência, carros oficiais e segurança da Casa Militar.

Enquanto os parlamentares se preocupam em assegurar uma aposentadoria tranqüila para os ex-governadores, a população amarga a falta de uma educação pública e gratuita de qualidade, uma saúde pública eficiente e uma segurança pública digna desse nome. No Dia da Criança, 12 de outubro, o menino Gabriel Rocha da Paz, de apenas 8 anos, foi atingido por uma bala perdida e acabou morrendo no bairro do Uruguai.

Creio que os deputados estaduais baianos devem pensar mais no mundo real, nas prioridades do nosso povo e respeitar mais e melhor o dinheiro público.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Um exemplo que vem de Aracaju (SE)


No dia 20 de setembro li uma matéria publicada no Jornal da Cidade, de Aracaju (SE). Meus sentimentos de orgulho e emoção foram e são grandes com o que constatei.

Um colega nosso, membro de nossa categoria e funcionário da Torre em Sergipe, cumpria sua rotina de recolher o lixo em Aracaju e, mesmo assim nunca deixou de estudar por conta própria.

José Augusto dos Santos, 41 anos, ensino fundamental incompleto, ganhou destaque na imprensa por saber quase tudo sobre Geografia. Ele lê tudo o que cai em suas mãos, encontra, ganha e compra sobre o tema.

Desde junho, quando foi promovido, José Augusto dos Santos usa mais e melhor seu tempo para estudar cada vez mais. Utilizo o exemplo positivo desse nosso companheiro para que todos nós, sem nenhuma exceção, independente da função, profissão, cargo e outras classificações que se queira dar, não abramos mão de estudar e aprimorar nosso conhecimento a cada dia.

Informação é poder. Quem se acomoda acaba sendo explorado sem reagir e, alguns, até mesmo sem sentir.

José Augusto foi criado em um orfanato, ex-servente de pedreiro, não terminou ainda o curso fundamental, porém, não abriu mão de aprender mesmo que não no ensino formal.

A matéria original termina assim: “ ‘É o povo se formando e eu me informando. Eu digo que não sou formado, sou informado’, falou o gari que sonha em ser um professor (ele diz que já se sente como tal) e conhecer os Estados Unidos. Para José Augusto, conhecimento é tudo e é isso que ele busca. O gari está todos os dias no terreno que fica no final da rua Jorge Cabral, na Farolândia, e espera um dia poder ganhar um exemplar atualizado de Geografia Geral. De todas as informações que José Augusto passou para a reportagem sobre a Geografia, todas estavam corretas.” É assim para quem não abre mão dos sonhos e busca uma vida melhor.

Precisamos romper com o preconceito de que a inteligência e o conhecimento devem ficar concentrados em alguns poucos que chegam com suas idéias e ordens enquanto a “raia miúda” carrega o piano para eles tocarem. Só mostraremos que queremos mais se tivermos uma formação maior e melhor.

Uma das atividades que mais incentivo no Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) e no movimento sindical mais geral é que a categoria, a direção, os funcionários, enfim, todos se empenhem e se preocupem com sua formação no sentido global da palavra. Não apenas a educação formal, sem dúvida importante, porém que se preocupe com o todo.

Que o exemplo e o incentivo de José Augusto dos Santos nos inspire e nos anime.

Leia aqui a íntegra da matéria do Jornal da Cidade Justificar- http://jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=42674

terça-feira, 29 de setembro de 2009

“Sim, nós podemos!”

Esse foi o grito de guerra do então senador Barack Obama para convencer a maioria da população que ele seria o melhor para a Presidência dos Estados Unidos da América.

Tenho origem na ação comunitária no Pernambués, local onde iniciei minha caminhada na luta popular e atuo junto ao GAP (Grupo Alerta Pernambués).

Queremos mostrar para os moradores e freqüentadores do Pernambués que “sim, nós podemos” ir mais longe, ter uma perspectiva de vitória e não aceitamos que nosso destino está traçado de forma negativa como nos querem convencer.

Mais do que constatar problemas queremos ter e ser instrumentos de mudanças da realidade atual. Mudança positiva só ocorre com união, mobilização e luta. Não queremos caridade. Queremos e vamos conquistar direitos.

Falar que o Posto de Saúde não presta um serviço decente, que o transporte coletivo é complicado e sem muita opção para os diversos pontos da cidade, que as escolas públicas precisam melhorar; que a violência da ação policial, das drogas e da marginalidade não podem continuar assim é fácil. Difícil é tomar a decisão de mudar e é isso que queremos.

Queremos ser notícia por ações positivas e ações que afirmem nosso valor. Chega de ler que professor de boxe é morto a tiros no bairro de Pernambués, criança de um ano morre queimada em incêndio, assassinatos quase todo dia, denúncias da violência policial encaminhadas à Corregedoria, jovens baleados, usuário de drogas assassinados e coisas desse tipo devem ficar no passado. Vamos juntos construir um futuro melhor para todos.

Não temos o “rabo preso”. Não temos nenhuma nomeação em governo municipal, estadual ou federal e, assim, temos independência para dizer e fazer ao contrário de quem se locupleta e em troca virá um “subalterno”.

Sim, nós moradores do Pernambués e demais bairros populares podemos construir uma sociedade melhor. Uma grande caminhada começa com o primeiro passo. Contamos com sua participação ativa de todos, pois só de forma coletiva vamos juntos vencer e derrotar quaisquer obstáculos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Yalorixá Mãe Hilda Jitolu


No dia 19 de setembro a Bahia, o Brasil e todos os que desejam construir um mundo de paz, tolerância e igualdade perderam uma guerreira, uma líder espiritual, uma sacerdotisa que há 50 anos comandava o Ilê Axé Jitolu: morre aos 86 anos a Yalorixá Mãe Hilda Jitolu.

Faço uma saudação especial ao Ilê Aiyê, primeiro bloco afro da Bahia, entidade fundamental no processo de fortalecimento da identidade étnica e da auto-estima do negro brasileiro. Saúdo Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente da instituição e filho biológico de mãe Hilda.

A perda da Yalorixá Mãe Hilda Jitolu é profunda, em especial para os que professam o Candomblé como religião, como é o meu posicionamento. A melhor homenagem que podemos prestar é manter o bom combate que ela enfrentou: manter a difusão da cultura negra na sociedade, agregar todos os afro-brasileiros na luta contra as mais diversas formas de discriminações raciais.

Foi com a liderança firme da Yalorixá Mãe Hilda Jitolu que o Ilê Aiyê empenhou-se e construiu projetos carnavalescos, culturais e educacionais, resgatando a auto-estima e elevando o nível de consciência crítica. Com ela aprendemos que a defesa do povo negro será garantida com a prestação de solidariedade.

Em 2010 todos nós que saímos no Ilê Aiyê sentiremos a falta de Mãe Hilda comandando a cerimônia religiosa que antecede o desfile no sábado de Carnaval.

A Escola Mãe Hilda, que oferece não só educação formal, mas também oficinas artísticas e formação em cidadania, permanecerá, assim como o Ilê Aiyê, mostrando que a vida desta líder religiosa foi vitoriosa e que seus 86 anos de vida deixou sementes bem plantadas em solo fértil.

“Quando eu nasci todos ao meu redor sorriam e só em chorava. Quando eu morri todos ao meu redor choravam e só eu sorria. Sejamos todos fortes, pois só estamos nessa vida de passagem”, diz um ditado popular que neste momento não podemos esquecer.

Finalizo repetindo as palavras de Vilma Reis, coordenadora executiva do Ceafro e presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia (CDCN): “No ano de 1938 muitas coisas importantes aconteceram na Bahia, uma delas foi a chegada de Mãe Hilda ao Território Sagrado da Resistência Negra da Bahia, o Curuzu, para nos liderar, com outras destacadas senhoras de Salvador, a cidade das mulheres. Todas as vezes que o seu nome for pronunciado, o legado estará presente e nossa tarefa é continuar a batalha com os seus ensinamentos”.

Yalorixá Mãe Hilda Jitolu, morreu lutando e nossa luta não morre! Axé!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Campanha Nacional contra o Genocídio/Extermínio da Juventude Negra

Nota Pública
Comunicamos o Dia Regional de Mobilização Contra o Extermínio da Juventude Negra, a ser realizado nos dias 18 e 19 de outubro, do corrente ano em Salvador. Esta atividade integra a Campanha Nacional contra o Genocídio/Extermínio da Juventude Negra, coordenada pelo Fórum Nacional de Juventude Negra visando gerar em dimensão midiática, a sensibilização da sociedade às ações de combate e prevenção da violência racial destinada à Juventude Negra.

A Campanha no Nordeste é realizada em parceria com o Instituto Cultural Steve Biko, e surge como um instrumento de luta contra o racismo institucional orquestrado, sobretudo, pela policia brasileira. Emana em oposição ao extermínio dos jovens negros, encarceramento desproporcional da população negra; ao femicidio que vitima as jovens mulheres negras, a homo/lesbofobia que tem como alvo preferencial os homoafetivos negros (as) - no intento, da construção de uma política de segurança que respeite o povo negro e seja compatível com um Estado Democrático e de Direito.

Para que este objetivo político seja potencializado estamos criando mecanismos de fortalecimento das organizações juvenis no Nordeste, ocasionando os “dias de mobilizações territoriais”, haja vista detectamos que, embora exista o conhecimento da escandalosa letalidade de jovens negras (os) nas regiões metropolitanas, não se constata ações políticas voltadas para áreas interioranas, rurais, quilombolas invisibilizadas pelos governos.

Em concordância ao que foi explicado, pedimos às organizações negras, em especial àquelas já renomadas pelo importante embate frente ao genocídio do povo negro a nos acompanhar nesta ação de luta pela garantia da vida jovem, ceifada cotidianamente pela mão branca do Estado, pelo sensor de pretos dos cacetetes e revolveres policiais e, pelas “autas” resistências institucionais em prover políticas eficazes de superação das assimetrias sociais, cuja função tem sido injetar as drogas nas comunidades empobrecidas pelo sistema econômico do País.

Por fim, dispomos nossos contatos, a fim de que Você possa nos contatar, colaborar financeiramente, acompanhar nossas ações e fortalecer esta Campanha pela vida dos jovens, em nome dos nossos ancestrais, espíritos guerreiros que requerem corpos pretos para materializar na luta, uma nação que não expurgue o povo, que ponha fim na criminalidade desta droga de Estado e deste doloso Governo.

· Coordenação Nacional
BA - Carla Akotirene / Elder Mahin
PE - Marta Almeida / Jairo Nely
MA - Lorena Galvão

· Coordenação Regional
LGBT – Geovan Adorno
Religiões de Matriz Africana – Vivian Aqualtune
· Pró Fórum
PB - Luiza Regina
· Coordenação Estadual - Bahia
Railma Santos - Portal do Sertão
Roque Peixoto – Recôncavo Baiano
Sinho Yogi N´Kurumah – Região Metropolitana
· Articuladores da Bahia
Comunicação - Luedji Anjos
*Mia Lopes
*Márcio Viana
Intercâmbio Cultural – Mauricio Ramos
Mulheres - Fabiana Franco
Juventude em Conflito com a Lei – Eduardo “Machado”
Relação Institucional - Mara Assentewa
Religiões de Matriz Africana - Alberto Rocha
Região do Baixo Sul – Elienita Silva
LGBT - Esdras Marcio
Sudoeste Baiano – Daniele “Casa de Boneco”
· Gestão do Fundo Kellog de Apoio as Organizações Juvenis NE – Inst.Steve Biko – George Oliveira
Fonte: http://fojuneba.blogspot.com
Contato: fojune_bahia@yahoo.com.br

Obs.: Divulgamos esta atividade em nome do debate democrático. Envie sua contribuição que divulgaremos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Enturmação mostra chaga social

Quando vemos o conflito entre o governo da Bahia e os professores contrários ao agrupamento de turmas com poucos alunos em uma mesma escola, para mim, algo muito sério e fundamental faltou ser dito: A enturmação, na verdade é o retrato pronto e acabo de um grave problema social que, sendo assim, precisa da participação de todos para ser resolvido.

Em primeiro lugar mostra o desinteresse da juventude ao que está sendo dado nas escolas públicas e a evasão escolar. É preciso que a Secretaria de Educação da Bahia (SEC) e os educadores estabeleçam uma política educacional que todos os setores incorporem-se e sejam participantes.

Desinteresse pela escola, necessidade de trabalhar e outros obstáculos mostram que para garantir a permanência do estudante na escola é preciso torná-la mais atrativa, interessante e cativante. Outro aspecto é mostrar aos familiares dos alunos os benefícios que a Educação pode trazer aos seus filhos.

A falta de alunos em salas de aula é a porta aberta para a marginalidade, a exclusão desses jovens da entrada no mercado de trabalho e todos os demais problemas que isso causa.

O segundo aspecto diz respeito aos professores e sua valorização através de respeito ao seu papel social e que os Estado remunere adequadamente esses profissionais fundamentais para a sociedade.

A APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, muito corretamente, apresenta uma série de reivindicações à Secretaria de Educação. A Constituição Federal garante a Educação como direito de todo cidadão e que é dever do estado promovê-la. Para cumprir seu objetivo, a Educação oferecida deve ser de qualidade e preparar a juventude para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A APLB aponta alguns obstáculos que impedem o pleno funcionamento da rede de ensino e isso deve ser levado em conta pelas autoridades governamentais. O documento aponta a carência de professores, contratação de estagiários ao invés de convocar professores concursados; ausência de coordenadores pedagógicos, profissional fundamental na construção do processo ensino e aprendizagem nas escolas; carência de pessoal administrativo e, para suprir essa falta, parte-se para a terceirização e contratação de temporários. Outro fato é a questão dos professores excedentes. Existe também um grande número de professores atuando na rede sem a formação adequada.

A enturmação nada mais é que a manutenção da prática de antigos governos que o atual prometeu modificar e, para a APLB, a SEC insiste em continuar usando o mesmo padrão de anos atrás para definição do número de alunos por turma sem se abrir para fazer um estudo atualizado sobre a questão.

Por fim, vamos à visão do governo do Estado, segundo a qual, “a enturmação acontece em apenas 28% das escolas da rede estadual e visa gerir os recursos públicos com responsabilidade”. Em Salvador são 173 escolas que estão enturmadas.

Finalizo afirmando que, em minha visão, a solução deve ser encontrada em processo ágil e que todos os setores sejam consultados. O confronto só aprofunda a evasão escolar, o desinteresse e o aumento da criminalidade. É preciso que o Estado cumpra com seu papel de proporcionar acesso ao planejamento familiar, políticas públicas de geração de emprego e rendas; educação e saúde pública de qualidade, oportunidades de qualificação profissional e acesso ao mercado de trabalho para os jovens; políticas de lazer e cultura, entre outras tarefas.

O Estado não pode e não deve relegar a Educação apenas a uma questão financeira. Sem o acesso a Educação as maiores vítimas são as pessoas com as quais sempre convivi e de onde me origino, os bairros periféricos. As vítimas da ausência de uma política educacional tem cor e classe. São crianças e adolescentes pobres, negros e que moram em regiões periféricas.

É preciso repensar atual administração e a política educacional em vigor. Queremos uma ação, evidente que não será imediata, mas que aponte para uma política de educação, lazer, saúde pública, cultural e outras que possam dotar a nossa juventude de uma perspectiva de um futuro digno e melhor e que passe longe do descaso e da violência contra a pessoa humana.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

E por falar em Independência...

Hoje é dia 7 de setembro e a questão da verdadeira independência do Brasil deve passar pela cabeça de todos que acreditam que este nosso País pode, deve e será melhor para todos se atuarmos de forma firme para isso. Isso passa por uma avaliação de nossa atuação política também.

“Se você é petista, por que apresenta tantas críticas aos governos da Bahia e o federal?”, alguém sempre me pergunta ou na falta de coragem manifesta este pensamento na minha ausência.

Como acredito no livre debate e que as amarras de quem controla a máquina governamental e partidária não podem nos derrotar, quero aqui fazer algumas considerações.

Só a cegueira partidária pode deixar de ver que houve no Partido dos Trabalhadores (PT) uma profunda mudança programática sem que isso fosse debatido e discutido com a totalidade dos militantes. Quem fala hoje nos governos petistas que um dos pontos programáticos do partido é a construção de uma sociedade “socialista e democrática”? O que se chamou de socialismo hoje virou o gerenciamento do estado capitalista.

De forma inegável, este período petista introduziu elementos que ampliaram a questão de justiça social, uma bolsa-família, um FIES, uma cota racial em diversas universidades e outros avanços pontuais, porém, muito longe do que previa o programa original do PT.

Os burocratas que hoje dominam a máquina partidária são um obstáculo ao desenvolvimento do ideário petista inicial que me levou a filiar, junto com diversos membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA), ao PT.

Os dirigentes do PT são funcionários partidários, ou seja, recebem e bem para serem dirigentes, são os chamados profissionalizados. Isso tem um ponto positivo que permite a dedicação exclusiva ao trabalho partidário, porém, como contrapartida, traz a burocratização excessiva e a luta ferrenha para se manter no posto já que os salários são bons e ninguém abre mão de um padrão de vida para se arriscar no mercado de trabalho em crise.

As chamadas bases não são ouvidas e os burocratas jogam soltos para fazer o que bem desejarem.

Quando vejo gente como Heloísa Helena,, Chico Alencar, Milton Temer, Chico Oliveira, senadora Marina Silva, senador Flávio Arns, só para citar alguns já que a debandada foi muito grande e alguns até saíram de forma silenciosa, pergunto: Quem mudou, o PT ou estas pessoas de honra inquestionável?

Tratar com desdém e baixeza quem saiu e chamá-los de “envergonhados que saíram do PT”, mostra o nível de falta de debate político que o partido alcançou.

Faço esta observação, esse questionamento, porque acredito que o PT dos meus sonhos não pode e não deve morrer. É preciso que se trilhe o caminho do debate livre e não burocratizado. Que se valorize o militante e não apenas o dirigente partidário regiamente pago enquanto centenas de companheiros e companheiras passam dificuldades.

O PT que conheci era aquele ligado às bases, nas fábricas, locais de trabalho, escolas, igrejas, universidades, a sociedade em geral. Nossos aliados principais eram todos esses que saíram do PT e os demais que se distanciariam ou foram alijados das decisões partidárias.

Acredito que podemos estabelecer uma política de alianças e ação que tenham como aliados preferenciais o nosso povo através de suas lideranças de base, as organizações comunitárias, os sindicatos, os universitários e não o que vemos hoje.

Não me passa pela cabeça que gente boa possa ser tratada como inimiga enquanto os aliados preferenciais de hoje, na opinião dos burocratas do PT, sejam gente como Jader Barbalho, Renan Calheiros, José Sarney, Gilvan Borges, José Múcio, Romero Jucá, Collor de Melo, e outros tantos que passaram a circular na mesa petista com desenvoltura.

Em breve o Partido dos Trabalhadores promoverá o PED (Processo de Eleição Direta) e espero, para a sobrevivência do próprio PT, que o ideário inicial seja recuperado. Em legítima defesa!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sindilimp-BA: 20 anos de luta

No dia 2 de setembro de 1989, uma quarta-feira, deu-se início às 15 horas, no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, no bairro de Nazaré, uma assembléia geral dos trabalhadores em limpeza urbana, asseio, conservação e jardinagem do estado da Bahia.

A assembléia delibera pela fundação do Sindilimp-BA e elege a diretoria provisória. Dessa data em diante nossa categoria constrói e fortalece a cada dia este importante instrumento de luta que é o nosso Sindicato.

Desde a nossa fundação o Sindilimp-BA se caracterizou pela luta contra todas as formas de preconceitos, em especial o racial e de gênero. Fizemos que a sociedade nos respeite e valorize a importância social do nosso trabalho.

Temos orgulho de trabalhar com limpeza e neste curto espaço de 20 anos muito fizemos e muito mais vamos fazer.

Quando falamos de aniversário do Sindilimp-BA não falamos de uma história no passado. Não se trata de uma história só de um passado morto, por assim dizer, já que o Sindicato e os atores desta história estão vivos e ainda fazem história.

Estamos vivendo um momento importante. Chegamos até aqui e a cada dia reescrevemos nossa história. Nossa importância social aumenta. Nossa influência é cada dia mais decisiva é só verificar a transformação que causamos na administração pública quando desencadeamos a luta em defesa dos trabalhadores terceirizados.

Aos companheiros Edivaldo Rocha, Paulo da Anunciação e tantos outros que estavam conosco quando da fundação do Sindilimp-BA a nossa homenagem sincera e o nosso reconhecimento.

Vamos em frente! Vamos comemorar estes 20 anos de luta com o compromisso de que muito mais vamos conquistar e fazer!

Viva o Sindilimp-BA! Viva a luta dos trabalhadores em limpeza!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Trabalhadores em limpeza na luta por um mundo melhor

O Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA) iniciará em setembro uma campanha que tem como lema “É hora de construir um mundo melhor: Serviços Públicos de Qualidade para Todos” lançada em conjunto com a Federação Internacional de Serviços Públicos (ISP), a qual somos filiados. É uma reafirmação do compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

O trabalho em limpeza urbana, para nós, deve se dar no mais alto nível possível e voltado para a defesa da saúde pública, meio ambiente e melhor qualidade de vida para todos e, sendo assim, com a devida valorização do trabalhador do setor.

A campanha visa fazer com que o Estado cumpra com sua obrigação social e efetivamente realize os serviços essenciais que devem ser públicos e para todos, além de proteger os trabalhadores e a população mais carente.

Em resumo, queremos que o Estado tenha um papel efetivo como provedor de serviços essenciais como limpeza urbana, saúde, segurança, educação, justiça, saneamento, água, transporte e energia. Serviços públicos de qualidade têm um caráter estratégico na redução da pobreza, no resgate da auto-estima dos cidadãos e do papel do Estado.

Para nós esta campanha tem um caráter especial, pois sai das reivindicações corporativistas e salariais. Ela tem uma visão mais geral e divulga que a construção de um mundo melhor passa pelo acesso universal a serviços públicos de qualidade com controle social.

Outro aspecto que defendemos é o fim da precarização e da terceirização nos serviços públicos. Sabemos que isso causou a discriminação dos terceirizados, o não desenvolvimento profissional e o comprometimento da qualidade dos serviços prestados à população. É só ver nossa luta recente contra os atrasos salariais para entender isso.

Em relação ao funcionalismo público reivindicamos o direito à negociação coletiva no setor. Serviços de qualidade têm como ponto de partida a democratização das relações de trabalho com a participação da sociedade civil no processo.

Finalizamos afirmando que se ao longo das últimas décadas o nosso mundo tem passado por inúmeras mudanças, a recente crise financeira mundial demonstrou que a experiência do neoliberalismo dos últimos 30 anos fracassou.

Antes da crise, a teoria do estado mínimo e a tese de que o mercado tudo regularia eram amplamente aceitas pelo mundo. Hoje se constata que o Estado deve ter um papel mais importante e os trabalhadores precisam e devem se organizar para que os interesses da maioria da população sejam priorizados e isso passa por serviços públicos de qualidade, pois eles são essenciais para superação da crise e para a inclusão social.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Política se faz com razão e emoção

*Divulgo neste espaço a íntegra da nota oficial com o título acima emitida pela companheira Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas. Faço isto para aumentar o debate político, algo tão necessário neste momento em que se pensa mais na "oportunidade" que nos valores éticos. Outro objetivo é o de manifestar minha solidariedade a Moema Gramacho que com honradez enfrentou e enfrenta tantas dificuldades.
Luiz Carlos Suíca

Os últimos acontecimentos na cena política estadual da Bahia trouxeram a Lauro de Freitas uma grande constatação: tanto Roberto Muniz quanto João Leão mentiram para a população, quando tentavam desqualificar o Partido dos Trabalhadores, pois agora migram para o nosso projeto ou é apenas interesse pelos cargos, o que é ainda pior.

Tenho consciência de que, com a saída do PMDB da base do Governo do Estado, há necessidade de recompor as secretarias visando potencializar as ações do governo como um todo e não mais de pedaços.

O PMDB teve espaço demais, com um ministério, três secretarias e centenas de cargos nas estruturas do nosso governo. Aproveitando-se deste espaço, aumentou sua presença no estado, atraindo para si diversas prefeituras, entre elas a da capital, usando as estruturas dos governos estadual e federal para preparar o bote que se consolidou na última semana. Fica demonstrado que houve erro na estratégia de fortalecimento do PMDB. O Governador, com seu caráter democrático e paciência de "Jó", deu confiança demais a quem não merecia.

Agora, novo erro se apresenta, não apenas na forma, como no conteúdo. Nosso governo se depara com os sanguessugas profissionais da política, ávidos pelos espaços de poder, que saltitam de partido em partido (basta ver por quantos cada um deles já passou), para seguir "mamando" nas tetas do poder (pratica usual já demonstrada por eles), que usam os seus parlamentares como moeda de troca. Vale ressaltar que os parlamentares não merecem esse tratamento, principalmente porque, na hora da divisão do bolo, os que se sentem donos das legendas é que ficam com a maior fatia.

Suas práticas extrapolam ao que costumamos entender como sendo negociação política. Eles se aproveitam do bom caráter do Governador, que não consegue enxergar a sordidez daqueles que nunca se conformaram com as derrotas consecutivas na disputa pela Prefeitura de Lauro de Freitas, que eles historicamente trataram como um feudo e onde fracassaram, juntamente com Geddel, nas últimas eleições. Não é uma simples coincidência que as duas únicas lideranças apresentadas por eles para ocupar as Secretarias do Governo são as que derrotamos aqui. É muita cara de pau!

Não questionamos a necessidade e a importância de atrair mais partidos para a base aliada do Governo do Estado e de fortalecer os partidos que já a compõe. Sabemos que era inevitável a contemplação do Partido Progressista, mas, qual o real peso político que este partido possui, quando só consegue apresentar duas indicações para ocupar os espaços no governo (Roberto Muniz e João Leão)? Será que eles não têm ninguém, de fato, de valor neste partido? Não, devem ter. Mas, não para tal propósito. Dar ao PP mais uma secretaria e logo a de Infraestrutura é completamente desproporcional à sua real representatividade no estado. O erro consiste não apenas na definição da secretaria, mas, também em relação ao nome escolhido. As práticas de João Leão falam por si e são conhecidas por onde ele passa.

Espero que o Governador acerte no resultado eleitoral, pois quero vê-lo reeleito. Este projeto é nosso, ajudei a construir e quero continuar ajudando a consolidar o projeto de inclusão social, participação popular, melhoria da qualidade de vida de nossa população, enfim, da permanência dos ventos de democracia que sopram no Estado da Bahia a partir da vitória do companheiro Jaques Wagner.

Gostaria muito que todas estas mudanças fossem possíveis sem precisar deste tipo de negociação com aqueles que não estão preocupados com a implementação das políticas públicas, mas sim, com o quanto engordarão durante sua passagem pelo governo.

O Governador deve tomar cuidado, pois esta turma pode nos trair como a turma anterior fez e é bom não esquecer que eles são aliados na capital do estado. Eles seguirão servindo aos dois projetos, antagônicos, ao mesmo tempo? Este comportamento oportunista é da natureza deles.
Nós, que há 30 anos comemos sal e poeira, apanhamos da polícia, que estava a serviço deles, fomos presos por lutarmos por liberdade e democracia, sorrimos juntos pelas conquistas e choramos pelas derrotas que tivemos, nunca nos vendemos, nunca chantageamos e resistimos como oposição. Os ponguistas, entretanto, se aproveitam da necessidade de "governabilidade", para justificarem seu adesismo e se colocarem como governistas, independente do projeto e de quem esteja no governo. É triste vislumbrar que o método para obter espaços de poder continua o mesmo.

Quero reiterar os pleitos que já apresentamos ao longo destes dois anos e oito meses e temos certeza que nosso Governador, apesar da opção pelo fortalecimento do PP, não permitirá retaliação, por parte do novo secretário, que nunca escondeu de ninguém sua estratégia de tentar sufocar o funcionamento do nosso Governo Municipal. Nunca fomos e não somos fisiologistas, temos compromisso e, neste sentido, não trocaremos nosso apoio por cargos na estrutura do nosso governo, mas sim, cobraremos as ações e obras que se reverterão em benefício para o povo de Lauro de Freitas, tais como a revitalização da Estrada do Coco, a implantação das cinco passarelas naquela via estadual, a ampliação da Avenida Gerino Souza Filho, a construção da estrada alternativa à Estrada do Coco, a revitalização e reforma do Cine Teatro e do Centro Social Urbano, a finalização da construção das casas do Caji/Vida Nova, a construção da UTI do Hospital Menandro de Faria e de duas escolas de Segundo Grau, a destinação de mais viaturas, de mais policiais, bem como políticas mais consistentes na área de Segurança Publica para o nosso município. Nosso povo já demonstrou qual é a sua opção política ao nos eleger e não quer saber do vai e vem dos partidos. Quer mesmo é ver os seus problemas resolvidos.

Se essas obras forem feitas e os "novos" governistas não nos traírem antes das eleições de 2010, nosso Governador poderá ter dois palanques em Lauro de Freitas: Um verdadeiro, que é o nosso, com o povo que ajudou a nos eleger, que o elegeu e elegeu o Presidente Lula, e outro com aqueles que diziam que nosso projeto era inviável, que lutaram contra nos, de forma desleal e que agora, neo-governistas, mudaram de posição.

O Governador contará sempre com o meu voto de fidelidade partidária, de respeito aos nossos 30 anos de amizade e de reconhecimento pela sua história de luta.

Peço desculpas pelas palavras, às vezes ácidas, mas aprendi com o companheiro Wagner que política se faz com razão e emoção; se eu não puder fazer desta forma, saio da política.

Moema Gramacho
Prefeita reeleita de Lauro de Freitas

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Senado envergonhado. Sarney continua

No dia 3 de agosto o Senado Federal voltou a funcionar e a conversa de sempre retornou à tona: o senador José Sarney, presidente da Casa, renuncia ou não depois de tantos escândalos?

Ao menos ele tem declarado, que fica. Desde 1995 até o momento, a influência e o poder de Sarney são enormes no Senado e com eles as denúncias.

A lista de parentes que teriam sido nomeados por meio de atos secretos é grande. Entre os "felizardos" estariam João Fernando Sarney, neto, Vera Portela Macieira Borges e Maria do Carmo Macieira, sobrinhas de Sarney, Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, sobrinha de Jorge Murad, genro do dito cujo, e Virgínia Murad de Araújo, também parente de Murad.

Além das nomeações, a imprensa noticia a suposta participação do neto de Sarney, José Adriano Cordeiro Sarney, em um esquema de empréstimos consignados no Senado.

José Sarney, ao que se sabe, nunca teve a carteira profissional assinada. Sempre foi parlamentar, governador, e até presidente da República quando Tancredo Neves morreu e deixou o cargo para esse sortudo cidadão.

Ao que se sabe, Sarney tem uma fortuna pessoal incalculável. É praticamente o dono do Maranhão. Não há um único grande e lucrativo negócio que não tenha o dedo dele. Mesmo assim continua enfiando netos e netas na folha de pagamento do governo.

Para piorar ainda tem gente que diz publicamente que a biografia de Sarney não permite que ele seja julgado. Ora, o povo brasileiro sabe que a democracia se fortalece quando todos os brasileiros, sem exceção, são responsáveis por seus atos e serão julgados em caso de erro.

Aguardamos uma solução que devolva ao Senado Federal o respeito perdido. Nossa esperança é a certeza de que a impunidade não pode e não vai prevalecer.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Trabalhador terceirizado na luta exige respeito

Carta aberta aos funcionários, professores, alunos e diretores das escolas estaduais

O Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA) vem a público solicitar a toda comunidade escolar e à população em geral o apoio aos trabalhadores terceirizados que estão com os salários atrasados, alguns com até seis meses sem receber salários.

Os funcionários das empresas Imperial, Medial, Delta e Cetro, dentre outras, prestadoras de serviços para o governo do Estado, não têm como trabalhar, pois além de não receber salários estão sem tíquetes refeição e vales transportes. Como trabalhar sem receber nada?

Nosso movimento, antes de tudo, é a favor dos direitos dos trabalhadores e da comunidade escolar. Sem higiene, merenda e um ambiente escolar saudável não existe educação de qualidade.

Aos alunos solicitamos a solidariedade ao nosso movimento. Muitos são parentes de trabalhadores terceirizados e sabem o sacrifício que eles estão fazendo para sobreviver com dignidade. A educação de qualidade é um direito de todos e nossa juventude não pode ficar com as aulas prejudicadas e seu futuro comprometido.

Isso se dá garantindo a harmonia no ambiente escolar onde todos sejam respeitados. Os trabalhadores estão sendo humilhados em seus locais de moradia. Já ganham baixos salários e sem receber em dia passam pela vergonha de dever aluguel, mercearia e demais estabelecimentos comerciais. Alguns estão sendo ameaçados por agiotas. O governo do Estado precisa tomar uma atitude séria e cobrar das empresas o cumprimento do contrato assinado que entre outras coisas exige o pagamento em dia dos salários.

Contamos com o apoio dos dirigentes escolares, diretoras e diretores que devem primar pela ação democrática e compreender a situação dos trabalhadores terceirizados. Pressionar e impor que terceirizados trabalhem é uma desumanidade que não cabe a quem lida com educação.

Os atrasos constantes e o silêncio do governo do Estado não podem mais ocorrer. Se as empresas foram pagas e não quitaram os salários, que o governo do Estado rescinda os contratos e se não pagou que o governo pelo menos tenha a decência de quitar diretamente com os trabalhadores os salários devidos.

Vamos manter nosso movimento porque ele é justo e necessário. Quem trabalha merece respeito, salários em dia e melhores condições de vida e trabalho. Contamos com sua solidariedade para a nossa vitória!

Diretoria Colegiada do Sindilimp-BA
Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quem paga para ver acaba pagando caro e vendo o que não quer

"A dignidade pessoal e a honra não podem ser protegidas por outros. Devem ser zeladas pelo indivíduo em particular". Essa frase do líder indiano Mahatma Gandhi aponta um caminho pelo qual, acredito, devemos trilhar.

Sou filiado ao PT e é inegável a contribuição que os petistas deram para que o Brasil avançasse nas questões sociais, em especial na conquista de direitos trabalhistas com nossa atuação sempre efetiva nos sindicatos dos trabalhadores e demais entidades populares.

O que questiono hoje é a subserviência de diversos sindicalistas que transformaram as entidades sindicais em extensão dos governos petistas em seus diferentes níveis. Em nome da "defesa do PT" vários sindicatos se esqueceram dos interesses da categoria que têm por obrigação defender.

A diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA), a qual tenho orgulho de pertencer, decidiu em reunião realizada na tarde de quarta-feira, dia 8 de julho, adotar uma ação que ela qualifica como radical e não violenta como a utilizada pelo líder indiano Mahatma Gandhi para a libertação da Índia. A decisão prevê que caso o governo estadual não apresente até segunda-feira, dia 13, uma solução para o pagamento dos cinco meses em atraso em relação aos trabalhadores terceirizados, em especial do setor de limpeza, a diretoria vai realizar no Centro Administrativo da Bahia (CAB), dia 14, ações como greve de fome, acorrentar-se a prédios públicos, deitar nas avenidas do local e outras atividades buscando uma solução imediata para esse impasse.

O que não suportamos é ver tanta gente honesta e trabalhadora passar necessidades quando tem direito ao salário pelos cinco meses trabalhados. É uma vergonha que um governo eleito sob o signo da mudança admita que isso ocorra sem dar a menor satisfação.

Quando falamos que vamos nos manifestar contra ações incorretas do governo estadual escutamos dos nossos companheiros de outros sindicatos que não podemos fazer isso porque precisamos "proteger e fortalecer o nosso governo". Ora, que nosso governo é esse que deixa trabalhadores sem salários há cinco meses e não toma nenhuma providência?

O Sindilimp-BA em seu coletivo e eu individualmente não vou me calar. A não violência de nossa parte é, sim, ativa. Não concordamos com o descaso governamental e das empresas e para mudar esta situação agimos para causar ao governo estadual constrangimento diante da opinião pública. Não podemos mais ver tanta miséria em nossa categoria e nada de concreto ser realizado.

Levando-se em conta que cada trabalhador, em média, sustenta mais 4 pessoas, são mais de 30 mil pessoas passando dificuldades por um misto de descaso, incompetência administrativa e política. Se até o dia 13 de julho não recebermos uma proposta séria para solucionar o problema do calote aos terceirizados, o responsável pelas conseqüências das atividades que realizaremos a partir do dia 14 será única e exclusivamente o governador Jaques Wagner.

Finalizo mais uma vez recorrendo ao Mahatma Gandhi: "Temos de nos tornar na mudança que queremos ver". Outra frase que também pode ser empregada é a seguinte: ‘Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova’. Esperamos que nossa ação faça o governo estadual atender milhares de famílias que enfrentam dificuldades por não ter seus direitos básicos respeitados.

Contamos com o apoio de cada cidadão que sabe que antes e acima de tudo está a nossa dignidade e nossa honra.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sindilimp-BA protesta contra atitude do governo estadual

A diretoria colegiada do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA) protesta contra a atitude de desprezo do governo estadual em relação aos trabalhadores terceirizados, alguns com até cinco meses de atraso salarial. Até quando tanta discriminação e falta de medidas administrativas para acabar com tamanha chaga social?

"Estamos por nossa própria conta". Essa frase do líder da luta contra o apartheid Steve Biko nunca nos pareceu tão real quanto agora, quando estamos lutando para que os trabalhadores recebam pelos meses trabalhados e não quitados.

Nas manifestações em homenagem à Independência na Bahia, dia 2 de julho, vimos a atividade do setor artístico e cultural. A mobilização do setor exigia uma nova política de gestão para a área e resumia a atual em uma frase: "A lógica empregada pelo governador é tosca".

A resposta do governo estadual foi imediata e no dia 5 o governador e a primeira dama recebem representantes do setor artístico e cultural no Palácio de Ondina. As reivindicações são apresentadas e promete-se estudá-las e atendê-las. Nada mais natural e democrático que assim se comportar.

O que estranhamos e repudiamos é o tratamento desigual recebido pelos trabalhadores terceirizados, em especial do setor de limpeza, asseio e conservação. Há muito tempo protestamos, a opinião pública sabe do nosso tormento, a imprensa tem sido nossa parceira na divulgação de tantos e tão graves obstáculos que os atrasos salariais ocasionam, porém, o governo estadual omisso não toma nenhuma medida para resolver os problemas enfrentados por cerca de 7 mil funcionários.

Qual a razão de tamanha discriminação? Será que os trabalhadores terceirizados não merecem respeito? Será que a humilhação enfrentada por mães e pais de família de ficar sem a garantia de que terão seus salários pagos e expostos à vergonha de não poder quitar com suas obrigações, ficar nas mãos de agiotas, ameaçados de despejos de suas casas e até mesmo de morte em alguns casos nada significa para o governo estadual? Em nota oficial o governo expressa "profundo respeito pela classe artística e pelo conjunto de trabalhadores do segmento de comunicação e cultura". Ora, os trabalhadores terceirizados não merecem o mesmo?

Em nome dos trabalhadores que atuaram e atuam com profissionalismo e não recebem os salários devidos manifestamos nosso repúdio aos descaso administrativo e político e exigimos o imediato pagamento de tudo que é devido.

Luiz Carlos Suíca
Coordenador do Departamento Jurídico do Sindilimp-BA
p/Diretoria Colegiada do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia
7 de julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Entrevista de Luiz Carlos Suíca ao site Pura Política

Luiz Carlos Santos Lima (Suíca)

03/07/2009 às 19:53:08 Rafael Santana



A trajetória do coordenador do departamento jurídico do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA), Luíz Carlos Santos Lima, ou "Luiz Suíca", como é conhecido pelos amigos e pela categoria que representa, acompanha a importante história dos 16 anos de uma organização sindical, que tem ganhado representatividade e respeito junto aos trabalhadores de limpeza. Muitas são as manifestações, reivindicações para defender a classe de trabalhadores em limpeza do Estado. Hoje o Sindilimp-BA, representado por Suíça, é um dos sindicatos que luta em defesa da classe dos trabalhadores e, especialmente, dos trabalhadores em limpeza. Nesta entrevista para o Pura Política, Suíca descreve a situação dos trabalhadores em limpeza, a relação com o Estado e as lutas dos trabalhadores em limpeza por melhores condições de trabalho, sem exploração e com um salário mais digno, na garantia dos direitos exigidos pela categoria. Entrevistado: Luíz Carlos Santos Lima, coordenador do departamento jurídico do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp-BA)
Pura Política - O que você tem a dizer sobre a situação dos trabalhadores de limpeza hoje em relação às condições de trabalho?

Suíca - Divide-se hoje em dois setores, um setor de limpeza urbana e outro setor de limpeza e conservação que abrange todo o serviço terceirizado que está, tanto no Estado como na prefeitura e algumas empresas particulares, no pólo petroquímico, que nós chamamos de asseio e conservação. No que tange os trabalhadores de asseio e conservação na área das empresas privadas, a gente não tem nenhum problema, salvo a questão de exploração porque os trabalhadores acabam trabalhando muito mais. No caso dos terceirizados que trabalham, tanto na prefeitura como no governo do Estado, esses trabalhadores, além da exploração, passam por problemas de atraso de salários. O Estado chega a atingir um nível de cinco meses de salários atrasados. Na prefeitura, a gente está conseguindo ainda ir ao banco para poder garantir o salário, mas está no nível de não pagar vale transporte e alimentação desses trabalhadores. Então, acaba esses trabalhadores pagando para trabalhar. Além do mais, quando a gente sofre com a quebra do contrato dessas empresas, muitas delas somem e a gente tem que utilizar o departamento jurídico para bloquear faturas para poder, pelo menos, garantir o mínimo do direito que os trabalhadores têm como FGTS e rescisão. Então, no governo do Estado, ao longo desse período do governo que ai está, eles tem só feito isso: retenção de faturas para garantir as assembléias, paralisações com ocupações na porta da Governadoria para que alguém possa nos atender, as idas e vindas da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para poder tentar garantir o mínimo para os trabalhadores. Além dessa exploração toda, a gente vê um descaso na própria administração pública em relação aos trabalhadores, o que não dá para admitir que o governo, que tem como lição básica a proteção dos trabalhadores, salário em dia e diminuir o nível de exploração, não é isso que vemos no governo Jaques Wagner, um descaso total. A gente não pode admitir que os trabalhadores fiquem sem receber salário durante cinco meses, pois é a dignidade da pessoa humana. Os trabalhadores de asseio e conservação devem na quitanda, o aluguel, tiveram a luz cortada e água cortada. Então, a gente não concebe como é que isso está funcionando. A gente já teve várias reuniões com o secretário Walter Pinheiro, mas os problemas não foram resolvidos.

Pura Política - Qual são os principais pleitos dos trabalhadores?

Suíca - No caso dos trabalhadores de asseio e conservação, é receber os salários, é ter os seus salários em dia. Daí, a gente parte para a questão da limpeza urbana. A gente tem enfrentado vários problemas na questão da limpeza urbana. Não temos problemas de salários atrasados. Pelo menos em Salvador, não temos esse problema de salários atrasados, mas também, existe um outro nível de exploração: o pessoal que faz a coleta do lixo à noite na cidade, por exemplo, pega às 7h da noite do dia anterior e chegam a largar os seus serviços às 14h do dia seguinte e voltam à noite. Então, aproveitando que estamos em data base, ainda não fechamos. A data base nossa é 1° de maio. Não fechamos ainda porque o que está emperrando hoje, apesar do índice salarial já está sendo resolvido, o que está pegando hoje é a gente acabar com este nível de exploração que existe. Não dá para os trabalhadores trabalharem mais de 16 horas, e isso está acontecendo em Salvador. Não dá para o trabalhador não ter o mínimo de descanso. Não dá para que a gente trabalhar a noite inteira para outro dia ter que voltar a trabalhar, e tem que trabalhar aos domingos e feriados, enquanto outras capitais do país, com a mesma característica de Salvador, alguns trabalhadores não trabalham aos domingos. A gente está tentando resolver isso. Por isso que até hoje, nós não conseguimos fechar a data base. Eu não vou falar a nível de índice salarial, porque as coisas estão praticamente fechadas. Agora, a gente está pontuando esta questão de exploração que os trabalhadores hoje sofrem na limpeza urbana.

Pura Política - A reclamação é quanto à exploração aos trabalhadores?

Suíca - Nós queremos acabar com este nível de exploração que ai existe.

Pura Política - Os trabalhadores recebem hora extra por isso?

Suíca - Os trabalhadores recebem sim hora extra, mas não compensa. Não adianta você ganhar dinheiro e não poder estar com a sua família. A gente sabe que as horas extras que a maioria dos trabalhadores recebe não condiz com o seu esforço, não paga o esforço dobrado. Nós sabemos que, na hora em que o trabalhador está fazendo hora extra, é quando acontece a maioria dos acidentes, e não são poucos os acidentes que acontecem nesse período. Talvez não esteja acontecendo dentro da empresa, mas esteja acontecendo no trajeto para casa. Tem trabalhadores que já perderam membros, braços, além de outros que são ou que já foram acidentados. Nós do sindicato, já vimos um motorista dormindo na boleia do caminhão. Isso é cansaço. Hora extra não paga isso.

Pura Política - As informações dão conta que as empresas que ganharam licitação na coleta de lixo são as maiores doadoras de recursos para campanhas políticas de políticos. O que você tem a dizer sobre isso? Isso seria um fator determinante que tanto por parte do Estado quanto da prefeitura possa haver algum impedimento quanto ao não pagamento dos salários?

Suíca - O que eu penso é o seguinte. Acho que precisa moralizar a forma de fazer concorrências públicas no setor de limpeza urbana. Quando eu digo moralizar, eu digo que precisa ter uma fiscalização maior. A concorrência tem que ser muito mais clara. O poder público não pode, na verdade, se utilizar disso para financiar campanhas em troca de contratos. O meu pensamento é que precisa moralizar mais isso porque quando se faz essas trocas de contratos por financiamento de campanha, acaba tirando de alguém, acaba tirando do trabalhador, deixando de pagar direitos que os trabalhadores têm para poder garantir a sua manutenção, a manutenção da empresa em certos contratos e, consequentemente, continuar financiando campanhas. A gente sabe que isso acontece muito no interior do Estado, pois com a entrada e saída de prefeitos, não se respeita, na verdade, nenhum contrato. O prefeito ou a empresa, que não fez parte ou não contribuiu com campanhas, simplesmente, rasga o contrato, paga o que deve e vai embora. Eu acho que até o modelo de concessão publica é um modelo que precisa ser muito mais aplicado, principalmente, na questão da limpeza urbana, pois, com isso, vai se ter um acompanhamento maior, não ficando a mercê de um contrato de 4 em 4 anos, mas isso tem que ser transparente, e discutido com a sociedade e com os setores que tenham interesse nisso. Essa discussão que houve na prefeitura sobre a concessão de limpeza urbana aqui em Salvador, nós esperávamos que o sindicato fosse convocado para discutir, porque o sindicato é quem conhece de limpeza urbana também. Nós não fomos convidados por ninguém, nem pelos vereadores do PT e nem pelos vereadores que compõem a base de aliança do prefeito. É importante que a gente pudesse discutir com a sociedade, pois nós representamos uma parte grande da sociedade. São os nossos trabalhadores que estão na periferia, porque se a concessão não der certo, é a periferia que vai está sofrendo muito mais. A gente sabe que o governo é governo pra todos, mas com os olhos voltados para a minoria, que é a burguesia.

Pura Política - Quais são as principais pendências do Estado e/ou da prefeitura quanto ao pleito dos trabalhadores?

Suíca - Na questão do Estado com os trabalhadores terceirizados, eu acho que o governo do Estado deveria, além de tomar uma posição, uma posição política, a posição que, anteriormente, quando nós éramos militantes, e militantes ferrenhos, defendia, que é a dignidade do ser humano para que as pessoas recebam seus salários em dia, menos exploração, menos perseguição, pois os trabalhadores sofrem com essa questão. Na verdade, nós queremos chamar a atenção do governador, e não mais de nenhum secretário, mas sim do governador; que tome uma decisão política em relação aos trabalhadores terceirizados que estão ai sem receber a cinco meses salários e vale-transporte. Se ele tiver vontade política, vai e faz mesmo. Na prefeitura, da mesma forma. Além da questão de resolver o problema do vale-transporte e o vale-refeição desses trabalhadores e manter os salários em dia, a gente precisa que o setor que cuida da limpeza urbana tenha olhos ou fique atento para a exploração que existe. Não dá para um trabalhador pegar às 7h da noite e largar às 14h do outro dia e voltar à noite. Nós do sindicato, estamos encaminhando para o Ministério Público do Trabalho para que faça essa fiscalização.

Pura Política - Você falou do Ministério Publico do Trabalho. Mas isso nunca foi anteriormente reivindicado? Se você estivesse diante do governador, o que você pediria a ele para resolver o problema, desse impasse que afeta as pessoas que trabalham na área de limpeza?

Suíca - No Ministério Público do Trabalho, a gente tem encaminhado todas as questões inerentes a atraso de salários. Desde o início do governo Wagner e no início do governo de João Henrique, a gente tem ido constantemente junto ao Ministério Público do Trabalho para que se resolvam estas pendências todas. O Ministério Público tem limites, dá orientação, indicações, mas não tem poder de polícia, de exigir que pague. Isso quem pode fazer isso só é a justiça do trabalho. O Ministério Público compõem ação civil pública contra o Estado, contra a prefeitura. Isto, o Ministério Público tem nos ajudado a fazer, tem tentado fiscalizar, chamar e tem resolvido alguns problemas. No que tange a questão da exploração, só está sendo apurado desde o início de Janeiro para cá e a gente tem tentado buscar dentro de um diálogo para se resolver. Resolve em um mês, mas no próximo mês volta tudo de novo. A alegação que a empresa tem é que está chegando caminhões novos, pois os caminhões estão quebrados e tal. A gente vai encaminhar ao Ministério Público. Se eu tivesse hoje diante do governador, e eu que tenho dito algumas coisas em alguns artigos, falaria com ele pedindo que faça mudanças na própria estrutura no governo dele e que as coisas possam se resolver. Mas assim, a minha temeridade é, ao chegar ao lado dele e dizer que ele não está sabendo de nada, mas isso é público e notório o que está acontecendo. Eu pediria a ele que acabasse com a terceirização, que, na verdade, nós somos contra a terceirização. A terceirização é nociva aos trabalhadores. Ela pode servir até bem ao Estado e a prefeitura, mas para os trabalhadores em si, ela é nociva. Então, o período que os trabalhadores passaram na Prestação de Serviço Temporário (PST), os trabalhadores estavam recebendo em dia. Os trabalhadores trabalham no Reda, apesar de ser contra o Reda também, recebem em dia. Então, se o Estado está vendendo almoço para comprar jantar na arrecadação, eu não quero que pague a empresa, mas que o Estado pague aos trabalhadores e busque uma alternativa de pagar os salários aos trabalhadores.

Pura Política - Você tem a idéia de que, se Wagner tirar a terceirização, isso significa propor concurso público?

Suíca - Concurso Público. Ou ele faz concurso público ou ele faz uma seleção para que os trabalhadores continuem prestando serviços, mas recebendo seus salários em dia. Nós não podemos aceitar é, que uma terceirização que ai está é nociva aos trabalhadores. Tem empresas como a empresa Imperial, que não se sabe nem o endereço da empresa, pois o Estado assinar contrato com a empresa que você nem sabe onde é ou se a empresa existe, isso é grave, isso é crime. O ministério Público não conseguiu localizar a empresa. Pedi ao sindicato para que o sindicato conseguisse localizar em Cruz das Almas e lá, a empresa é uma residência. Eu vi isso acontecer há 20 anos atrás. A empresa dizer que tinha um endereço em Pernambuco, chegava lá, era uma casa. O governo batia nisso, o PT batia nisso e hoje está acontecendo a mesma coisa. É como uma procuradora do Ministério Público disse lá outro dia: "que essa licitação estava viciada desde o início". O sindicato, entrar no Tribunal de Justiça para conseguir um mandado de segurança para suspender a licitação porque há índice de superfaturamento, de conseguir um mandado de segurança na licitação da saúde. Gravíssimo isso. O Juiz do Tribunal de Justiça não ia dar uma liminar baseado em nada. Depois disso tudo, está ai a licitação da polícia, toda ela, fardada. A mesma licitação que foi feita da polícia, foi feita da saúde também, pela secretaria de administração. Então, é complicado.

Pura Política - Você defende concurso público para os trabalhadores terceirizados, mas, ao mesmo tempo, vem a questão dos trabalhadores que não tem condição ou que não grau ou nível de escolaridade desejável para poder concorrer a um concurso público. Como você vê essa questão. Não seria mais viável negociar com as empresas terceirizadas para poder chegar a um acordo ou negociação do que o Estado custear concursos públicos, mesmo sabendo que os trabalhadores não têm nível de escolaridade elevado?

Suíca - Essa questão da escolaridade é uma questão secular. No passado, você tinha poucas escolas, onde você tinha uma quantidade de escolas muito grande, escolas públicas até. Eu me lembro que para conseguir uma vaga na escola pública, eu tive que enfrentar as dificuldades porque não tinha vaga para todo mundo e hoje tem vaga para todo o mundo. Sempre há tempo de você buscar uma escolaridade. Ai é uma questão que a gente não precisa ser muito sensível a essas coisas. Sei que tem pessoas que não tem escolaridade, pois tem pessoas que tem mais de 45 anos, tem uma série de coisas. A questão da escolaridade é uma questão secular. É uma questão de vontade, das pessoas quererem aprender e tal. A gente tem buscado junto às empresas essa questão de negociação para manter os empregos, só que o que a gente está vendo é que esses trabalhadores, que a gente chama de humilde, que não tem escolaridade, estão pagando para trabalhar, pois isso é sair do trabalho para a escravidão. Existem outros métodos de você fazer, como o PST, por exemplo, você pode renovar ele a cada três meses ou por 1 ano, até ficar 1 ano. Se a gente ficar nessa questão do coitadinho, você não vai fazer a mudança. A gente sabe que a terceirização não é só nociva aos trabalhadores, mas também aos cofres públicos. Está ai, a história do jaleco branco, que durante 20 anos, os "caras" roubaram mais de R$ 20 bilhões do Estado, e com estes R$ 20 bilhões que roubaram do Estado, deixou-se de fazer mais escolas, dar condições de melhores salários aos professores, aos servidores, saneamento básico. Para mim, a terceirização, se você não for bem fiscalizada, tem uma forma ai de sair dinheiro pelo ralo. O Estado também pode buscar outros meios, como a questão do Reda ou buscar outra forma de manter o nível de emprego das pessoas. Eu, enquanto sindicalista, não posso admitir que essas pessoas humildes, que não tem escolaridade, continue pagando para trabalhar. Elas tem que tirar do bolso delas para poder gastar o transporte, alimentação, aluguel e ninguém faz nada. A saída disso é concurso público. A saída disso é outra forma. É o governo do Estado assumir isso. As empresas não pagam e os trabalhadores não recebem. Que pague direto aos trabalhadores, faça contrato com a empresa, mas que se tenha um nível ou um limite para dizer: "olhe! Eu vou pagar os trabalhadores. Eu tenho contrato com a empresa, pois quando eu puder, eu pago a vocês". É o que eu penso. Agora, eu não vou pensar achando, ah, um coitadinho, que não teve. Eu faço faculdade e tenho gente na minha sala de 60 anos tentando concluir. Tem pessoas que trabalham nas escolas públicas do Estado que não coragem de ir em uma sala de aula. Ai eu não posso ficar sentindo que as pessoas são coitadas.

Pura Política - Você disse que, no Ministério Público do Trabalho, as questões salariais estão em andamento. Quanto à exploração, como é que está o encaminhamento?

Suíca - Quando a gente faz a denúncia, a gente faz a denúncia de tudo. A gente faz a denúncia da questão da exploração e da questão dos salários. Vou citar um exemplo: o Ministério Público está mandando para o governo do Estado um procedimento de notificação recomendatória pedindo a ele que não pague nada a uma determinada empresa, como a empresa Imperial, que ninguém sabe onde é o endereço, e nem o Estado sabe; não pague nada, até que ela apresente e comprove tudo o que ela pagou aos trabalhadores, mas só é recomendátório. Quando o MPT faz é recomendatório, dentro de um prazo e de um limite. Se não faz, entra-se com uma ação civil pública. Então é tudo. Um outro caso isolado, de uma empresa chamada SOSERVE, que presta serviço ao Shopping Salvador, lá tinha um turno 5 por 1 em que o trabalhador só folgava um domingo e tal, quando eles queriam. O MPT já determinou que vai entrar com uma ação civil pública. Os trabalhadores querem as folgas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), preferencialmente, aos domingos. Então, são várias ações desse tipo, uma é os salários e outras são separadas. O MPT vai encaminhar, se não cumpre, o MPT entra na Justiça do Trabalho até definir. O procurador, que não me lembro o nome, que estava com o "cara" da SOSERVE, ele, inclusive vai pegar isso como parâmetro e vai buscar em todas as empresas que não dão as folgas, preferencialmente, aos domingos, para que, a partir de já, de então, o MPT possa entrar com ação civil pública contra as outras empresas, e ai então um diretor nosso encaminhando essas coisas.

Pura Política - Sobre os trabalhadores, quanto à questão do concurso, você, como sindicalista, acha que seria o caso do governo bancar o serviço de concurso público gratuitamente. Na sua opinião, a máquina do Estado teria prejuízo ao promover concurso público para essas pessoas de baixa escolaridade para ter acesso ao cargo público?
Suíca - Acho que não. Acho que não teria nenhum prejuízo porque a gente está vendo que o Estado, falando do Estado geral, se gasta dinheiro com outras coisas. A gente viu os casos ai do mensalão, uma série de dinheiro que saiu pelo ralo. Eu acho que não teria nenhum prejuízo para o Estado bancar o serviço público gratuito para esses trabalhadores que tem baixa escolaridade.

Pura Política - Em Salvador, a gente tinha a Limpurb. Depois da Limpurb, hoje temos empresas terceirizadas. Você acha que as terceirizadas são nocivas aos trabalhadores. O correto seria que a Limpurb retomasse o posto de prestação de serviço. Qual a sua definição sobre isso?
Suíca - O que eu acho é o seguinte. É que a lei diz que quem tem que ter a responsabilidade com o serviço público, com a limpeza urbana é o município. Na década de 70, a Limpurb foi criada. Na verdade, era o departamento de limpeza urbana e depois foi criada uma empresa de limpeza pública para trabalhar a questão do lixo. Nós sabemos que os empresários todos buscam uma fórmula de sempre está ganhando dinheiro e houve um processo de desgaste tão grande da Limpurb, na época, principalmente no governo de Lídice da Mata e de Fernando José, em que a Limpurb não fazia a limpeza na cidade, pois a Limpurb tinha 5 mil trabalhadores na época, e que não correspondia com a limpeza na cidade, pois daí eles abriram um processo de terceirização. Eu acredito que a Limpurb fazia o seu serviço. O que faltava dentro da Limpurb era um comprometimento maior do município para que ela pudesse se manter até hoje, como é mantida a Colurj, no Rio de Janeiro. Tinha que vê uma outra forma de terceirizar, ou terceirizar equipamento, ou outra forma. Mas a Limpurb dava conta. Eu fui funcionário dela. O que faltava, na verdade, era comprometimento. A Câmara de Vereadores, na época, alguns vereadores tinham uma gestão efetiva na Limpurb, mandava e desmandava. Então, você perde o controle. Houve um desgaste tão grande que teve que abrir esse processo de terceirização na limpeza urbana. Eu acho que tem que ter um acompanhamento maior. A Limpurb não volta a ser o que era antigamente. Para você voltar a Limpurb você precisa abrir concurso público para gari, como se faz no Rio de Janeiro, mas precisa bancar isso, pois saber o prefeito que vai bancar essa história. A Limpurb não tem nome limpo no mercado hoje para bancar e comprar equipamentos. Alguns equipamentos da Limpurb que foram comprados de outras secretarias e de outras empresas para poder a Limpurb funcionar, principalmente, na época de Lídice da Mata, e hoje, a Limpurb não tem como voltar o que era, a não ser que crie uma nova empresa de limpeza urbana, que também isso está longe de acontecer. Agora, se tiver a terceirização, tem que ser aberto, transparente, de verdade, com participação do próprio sindicato. Nessa discussão que teve ai da Lei de Concessão, acho que deveria ter chamado o sindicato para discutir porque o sindicato representa uma camada grande da população para transmitir e emitir o que a periferia está sentindo em termos de limpeza urbana, porque a Barra é limpa, mas, e os outros lugares? Como fica isso? E os trabalhadores que moram nesses lugares? Acho que a terceirização precisa ter um outro cuidado. Na minha opinião, é que esse processo de concessão seria o modelo ideal para as capitais, aos municípios que estão com terceirização de limpeza urbana, pois a população vai ter um poder de fiscalização maior, vai ter muito mais tempo, mas precisa saber como é que está isso. Mas é preciso abrir para que a gente possa discutir isso também, e nós não fomos convidados.

Pura Política - Em resumo, você defende ou não a volta da Limpurb para o processo atual?

Suíca - Defendo, mas se for com uma fiscalização maior, o que está longe de acontecer porque a Limpurb está endividada. Só de INSS, ela devia mais de R$ 200 mi. Por exemplo, o cara que se aposenta hoje pela Limpurb, para receber, tem que fazer acordo no tribunal. Ela não tem um nível de alto-financiamento e a limpeza urbana hoje precisa de um alto-financiamento e que os cofres públicos não têm. Precisa ser alto-sustentada. Ela não terá condições.

Pura Política - Teria algum modelo de algum Estado ou de alguma cidade que você acha que é o ideal para Salvador e que vocês já sugeriram ao Estado e a prefeitura que copiassem a idéia?

Suíca - Não sugerimos porque, na verdade, não somos ouvidos. A gente fica aquém do sindicato. Sindicato é para defender salário e não para discutir essas questões técnicas.

Pura Política - Em todos os Estados, é o mesmo processo de gestão?

Suíca - É o mesmo processo. Mas São Paulo hoje é concessão e as outras cidades buscam isso também. Mas o caminho hoje da limpeza urbana é a concessão. Por exemplo, no Rio de Janeiro, tem a sua empresa de limpeza urbana, funcionando com seus funcionários, mas boa parte dos seus equipamentos são terceirizados. Em São Paulo, tinha uma empresa que funcionava como a Limpurb, pois hoje é um consórcio. E as outras cidades buscam a mesma coisa. Há uma tendência de uma participação maior da população e do próprio sindicato. A gente tem tentado é entender um pouco mais de lei, de licitação, entender um pouco mais de concessão para que a gente possa ter um nível de discussão melhor com os patrões e o sindicato não ficar só na discussão dos salários dos trabalhadores, porque se você não tiver um nível de discussão, de como funciona os serviços, você não vai conseguir acabar com a exploração e nem com o descaso que ai está. Então, acho que tem o sindicato buscar mais conhecimento técnico, principalmente, na área de limpeza urbana, transporte, para poder ter esse nível de discussão maior, do que ficar pensando que o sindicato hoje só busca a questão dos salários e melhores condições de trabalho. Mas, e as discussões técnicas, como é que se dá? Talvez, por isso que deixaram a gente de fora, pensando que a gente não conhece ou não consiga saber ou não discutir tecnicamente. Esse foi um erro grande da Câmara de Vereadores.

Pura Política - Em termos de recursos que o Estado e a prefeitura arrecadam do lixo, quantos por cento o Estado e o município arrecadam, e quantos por cento é repassado para as empresas. Você tem esses dados?

Suíca - A prefeitura, com o serviço de lixo, ela pouco arrecada. A prefeitura arca com toda a despesa da limpeza urbana de Salvador que hoje, está em torno de R$ 16 mi. A idéia é que, a partir da concessão, os moradores de Salvador banquem porque a concessão permite que haja um financiamento de quem vai ganhar o pleito e os munícipes vão arcar com a taxa deles; a partir de agora, vocês não vão pagar só a coleta comercial, você vai pagar também a coleta domiciliar, o lixo domiciliar. As pessoas vão começar a pagar. As empresas vão fazer esse investimento, e ai é que a gente precisa discutir, tipo assim, é 20 anos? Eu vou investir quanto? Até quando? E quanto isso vai custar para as pessoas. Dentro da concessão, você tem que baixar o nível, por exemplo, se hoje você coleta mil, você vai ter que ter todo uma campanha educativa de reciclagem que Salvador, que não recicla 1% do lixo e tende a baixar a tonelada de coleta tirada da cidade. Isso vai cair para 500. Isso vai continuar custando os mesmos mil que você tirava anteriormente ou baixar o nível de taxa?. Essa é a discussão que a gente precisa fazer, e isso está obscuro. O que é que repassa para os trabalhadores? Os trabalhadores não entram nessa cota de arrecadação. O que tem lá na lei é a Participação de Lucros e Resultados (PLR) e ai, tem que se cumprir metas. Os trabalhadores tem o salário deles, que vai se discutir a cada ano. Carnaval é o maior exemplo. A cidade de Salvador ganha prêmios como a cidade mais limpa depois do Carnaval, pois tem Carnaval em tudo o que é lugar. Então, você não vê acúmulo de lixo. Mas, isso é porque os trabalhadores é que se dão de fazer isso. O que o trabalhador ganha com isso? Nada. Não ganha gratificação, não ganha alimentação porque o mínimo que eles podem tirar do trabalhador, eles vão tirar. Não ganha nada. A gente conseguiu votar na pauta de reivindicações para que em janeiro, antes do Carnaval, a gente precisa discutir limpeza. Um salário que a gente ganha no mês é em cinco dias. O esforço é dobrado, muito mais dobrado. Tem trabalhador que até faz a coleta no Carnaval e ainda vai para o seu setor. Então, é isso que nós precisamos discutir.

Pura Política - Pensando nos trabalhadores, nessa questão da concessão, falando da taxa dos munícipes, os trabalhadores recebem por isso. Você tem alguma informação que, em outros estados, os trabalhadores recebem por essa taxa?

Suíca - Ninguém recebe nada. Os trabalhadores recebem salário. O que eu estou falando é que o que os trabalhadores têm como participação daquilo que está na Lei, a Participação de Lucros e Resultados. Você tem que regulamentar ela, na verdade, em uma convenção. Nós tínhamos vícios aqui na nossa convenção, na empresa Veja, pois tirou porque as outras empresas não cumpriam isso, mas está retornado agora para a convenção. Então, as empresas todas, tendo o mesmo compromisso em implantar o plano de Participação de Lucros e Resultados, salvo isso, ela tem que pagar uma multa aos trabalhadores. Mas assim, se as empresas vão ficar mais ricas com a concessão, os trabalhadores não levam nada, mas, se elas (as empresas) vão ficar mais pobres, os trabalhadores vão receber um "pé no traseiro" e vão embora.

Pura Política - Você acha justo, os trabalhadores receberem uma parcela dessa cota dos munícipes?

Suíca - Por exemplo, ganhar melhor não é. Ganhar um salário que seja ou que condiz com que os trabalhadores, porque, na verdade, quem vai fazer todo o trabalho é eles, apesar das empresas que fazem o financiamento dos equipamentos e tal. Entendo que esta concessão que está ai na porta, e eu acho que para o próximo ano já vai está funcionando, que a gente possa ter um nível de discussão de um salário maior aos trabalhadores. A gente tinha uma distância de São Paulo, grande de salário, pois São Paulo estava em alta e a gente aqui, bem baixo. Hoje, a gente tem subido e chegando perto de São Paulo, mas isso não significa que a gente não tenha crescido, mas significa que em São Paulo, o salário esteja caindo e não é isso que nós queremos porque não dá para a gente está ganhando tão mal.

Pura Política - Alguma consideração final que você queira fazer?

Suíca - Que o Estado como todo, prefeitura e governo, dê uma atenção maior aos trabalhadores terceirizados. Os terceirizados, tanto na limpeza urbana, na saúde e na educação têm feito o trabalho que o servidor público não quer mais fazer, como limpar chão ou passar do seu horário. Você chega em uma repartição pública, deu quatro horas, eles vão embora, e os terceirizados tem que estar lá. Tem que trabalhar sábado, quando precisa, o domingo. Por exemplo, tem ponto facultativo que os terceirizados vão trabalhar. O que os trabalhadores querem, na verdade, é receber o que tem de direito em dia, como todo mundo recebe.