O verdadeiro movimento negro está aqui
Tive a honra e o orgulho de estar presente na 29ª edição da "Noite da Beleza Negra" do Ilê Aiyê, no dia 12 de janeiro, na Senzala do Barro Preto, na Ladeira do Curuzu, na Liberdade.
Minha emoção foi muito grande e pude ver que o verdadeiro movimento negro, aquele que luta pelo fim do preconceito com ações firmes e não com palestras e fala-fala que não chegam a lugar nenhum está no Ilê Aiyê.
Como professor de História lembrei que o nome Curuzu vem de um forte que foi tomado depois de muita resistência e heroísmo dos paraguaios contra as tropas do Brasil, Argentina e Uruguai que na época serviam como marionetes do poder imperial da Inglaterra. O Forte do Curuzu foi tomado na Guerra do Paraguai no dia 2 de setembro de 1866.
A resistência paraguaia é a mesma na Ladeira do Curuzu levada a cabo pela população local, em sua maioria afrodescendente. Lá estão os verdadeiros lutadores pela igualdade racial e igualdade de oportunidades. Há uma identidade própria, marcada principalmente pelo estreitamento das relações de amizade e pela história e presença do Ilê Aiyê.
"O Ilê é hoje uma entidade que representa esse desejo de valorizar o negro. Acho que hoje as pessoas aqui não têm mais vergonha de dizer que moram na Liberdade, de se assumir ser negro. Antigamente, muitos tinham vergonha disso, e o Ilê foi quem mudou essa mentalidade", disse Mãe Hilda dos Santos, sacerdotisa do povo de santo.
A mudança conceitual, estética e visual provocada pelo Ilê Aiyê é linda e profunda. No dia 12 de janeiro pude ver irmãs e irmãos reunidos e sabendo que o centro de tudo era e sempre será a resistência.
Estavam lá muitos brancos solidários e parceiros da luta contra o racismo. Só não estavam lá nenhum moreninho, bombom, achocolatado, um pouco escurinho. Estavam lá negros orgulhosos de sua história e de sua contribuição fundamental para a História do Brasil, sua formação econômica, cultural, social e política.
A dançarina Adriana Santos Silva, foi escolhida a Deusa do Ébano do Carnaval 2008 na 29ª edição da Noite da Beleza Negra, porém, vencemos todos nós.
Pela primeira vez o Ilê Aiyê realizou esta tradicional festa em sua casa, em seu local de origem, não foi para nenhum clube social que no dia-a-dia está fechado para o povo negro e se abre somente para cobrar aluguel caro do "mais belo dos belos". A festa foi feita em nossa casa sem dever favor a ninguém.
Enquanto grupos, grupelhos e partidos políticos ficam disputando para saber quem de verdade representa o movimento negro de combate ao racismo com muito proselitismo, muita autopromoção e aproveitamento quando ocupam cargos públicos, a festa, a 29ª edição da Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê mostrou que a resistência se faz no dia-a-dia, pisando o pé na terra, na realidade, enfim, seguindo o exemplo da Senzala do Barro Preto.
Estou ainda mais orgulhoso de ser afrodescendente, povo que com sofrimento, dor, trabalho e resistência construiu o que somos e temos hoje: o Brasil.
Este espaço destina-se ao debate de idéias e para que ele cumpra com o papel que desejamos precisa da divulgação, acesso e comentários. Durante muito tempo difundiu-se a idéia que trabalhador é para trabalhar e não para pensar e expor suas idéias. Chega de ficar vendo os chamados intelectuais, os “capas-pretas” nos partidos chegarem com suas idéias prontas e colocar a “raia miúda” para pegar no pesado. Vamos mostrar que sabemos e queremos discutir idéias e projetos para a sociedade.
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