segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As cores da Bahia no governo

Com orgulho vimos no dia 28 de janeiro a posse do novo Secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), Almiro de Sena Soares Filho. Sua atuação democrática, segura, leal e companheira como promotor da Igualdade e da Cidadania, com reconhecida contribuição social através de suas atuações no Ministério Público e na área da Educação, nos dá a certeza de que teremos a pessoa certa no lugar certo e, assim, cadeia não será sinônimo de depósito de gente.

Aproveitamos este momento júbilo para levantar a discussão sobre a ideologia do branqueamento que enfrentamos e combatemos em nosso dia a dia.

Nós, os afrodescendentes, chegamos ao Brasil em condições de extrema exploração e subalternidade. O colonizador português impôs sua suposta superioridade e usou de todos os meios como a repressão, violência de Estado e a ideologia para mostrar que tudo o que era positivo se referia ao europeu. Tudo que era negativo era relativo aos povos dominados como os índios e os negros.

Até hoje o racismo e seus conceitos afetam as relações sociais em todos os campos. A opressão se dá até mesmo de forma subliminar. Por que o cabelo crespo da maioria dos negros é chamado de cabelo ruim? Por que nossas roupas coloridas ainda causam escândalos em alguns setores? Por que a maioria dos desempregados é negra? Por que o negro que exerce a mesma função que um branco quase sempre ganha menos? Todas essas perguntas têm como resposta, como raiz, a existência de um racismo sórdido que precisa ser combatido.

Com a ascensão do secretário Almiro Sena vemos também que os negros ainda têm um espaço restrito. Estamos subrepresentados dentro das instituições do Estado. Até mesmo na Câmara Municipal de Salvador, a maior cidade negra fora da África, temos uma representação pequena.

"A educação é a mais poderosa arma pela qual se pode mudar o mundo", disse Nelson Mandela, porém, vemos que nossas crianças estão nas piores escolas estaduais. Em relação à segurança, mortalidade, emprego, renda e riqueza e tantos outros índices sociais quisermos listar, os negros sempre aparecerão como os que estão no mais baixo nível. Ora, isso precisa acabar e só acabará com a ação de toda a sociedade.

Acredito que nosso papel é aumentar a pressão para que políticas públicas ocorram, lutar por igualdade no mundo do trabalho como forma de inclusão social.

Finalizo afirmando que a presença de Almiro Sena e demais afrodescendentes no governo estadual dão à nossa juventude referências positivas, mostram que "a educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal", citando mais uma vez Mandela. Com certeza, todos nós nos sentimos vitoriosos porque as cores da Bahia e toda a sua diversidade chegam à Secretaria de Justiça e irão se expandir para os diversos setores de nossa sociedade.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Limpar Salvador

Nossa cidade precisa de uma séria limpeza. Falo isso em todos os sentidos. Precisamos renovar a Câmara Municipal de Salvador, escolher alguém capaz, com competência para gerir nossa cidade e, claro, limpar mesmo a cidade que se encontra imunda e mal cuidada.

O Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Pública, Asseio, Conservação, Jardinagem e Controle de Pragas Intermunicipal (Sindilimp-BA) propõe que as empresas de limpeza urbana de Salvador realizem mutirões para que nossa cidade fique limpa. Situações emergenciais exigem ações rápidas.

A Prefeitura de Salvador deve às empresas de limpeza urbana, porém, a cidade não pode pagar pela incompetência de seu prefeito. Precisamos de uma ação imediata em defesa da cidade, da saúde pública e do meio ambiente.

Vamos fazer tudo o que for possível para que Salvador seja beneficiada. Nossa categoria, a dos trabalhadores em limpeza, tem a exata dimensão de seu papel social e neste momento crítico que Salvador vive não vamos nos recusar a contribuir.

Esperamos contar com a participação de todas as empresas de limpeza urbana nos mutirões. A população de nossa cidade não merece a incompetência, inoperância e inépcia da atual gestão e a omissão da Câmara Municipal.

Chegou a hora de nos juntarmos em defesa de Salvador.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Omissão e incompetência jogam Salvador na crise

É lamentável a situação da primeira capital do Brasil, a cidade de Salvador. A crise política e administrativa é profunda e o pior é que não vemos uma luz no fim do túnel para iluminar nossa Cidade da Bahia que tanto amamos.

Temos uma Câmara Municipal composta por 41 vereadoras e vereadores que pouco fazem para que os anseios da população sejam contemplados. Existem os abnegados, lógico. A rotina, porém, é a da omissão.

A gestão do prefeito João Henrique de Barradas Carneiro é marcada pela incapacidade, falta de transparências na utilização de recursos públicos como ficou claro no julgamento recente do Tribunal de Contas dos Municípios, contratações sem licitações e tantos outros problemas.

Salvador hoje se tornou sinônimo de cidade cheia de buracos, lixo nas vias públicas, descompromisso com a legislação trabalhista ao se permitir atrasos salariais em especial com os trabalhadores terceirizados. Até mesmo as empresas de limpeza pública e demais prestadoras de serviços não recebem o que a Prefeitura de Salvador deve.

Chegamos a tal ponto de desequilíbrio que o novo secretário da Fazenda, Joaquim Bahia, assume já declarando que o balanço financeiro da Prefeitura de Salvador relativo ao ano de 2010 deve fechar em déficit.

Outro exemplo da crise profunda enfrentada por Salvador pode ser vista com a greve dos Postos de Saúde da Família (PSFs) de Salvador. Que melhor exemplo negativo do sucateamento que o setor vem sofrendo, além do calote aos terceirizados que cuidam da higienização? Os profissionais e a população não podem pagar pela ausência de capacidade da atual administração.

A falta de planejamento da concessão pública permitiu que os moradores de Salvador fossem "presenteados" no início de 2011 com o aumento da tarifa de ônibus, Dos já abusivos R$2,30, para R$2,50. Um serviço de péssima qualidade com preço tão alto é algo inaceitável.

A falta de coragem do prefeito João Henrique é tanta que o reajuste das passagens ocorreu no período de férias para impedir que os estudantes se manifestem contra esse assalto. Felizmente nossa juventude, na medida do possível, está deixando explícito o seu repúdio.

Temos um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município do Salvador (PDDU) que não merece a menor credibilidade e foi discutido sem quase nenhuma participação popular. Finalizo esta reflexão não com um presságio de coisa má, mau agouro, mas com uma realidade. Vimos o que está ocorrendo na Região Serrana do Rio de Janeiro. Salvador com a péssima administração que possui está preparada para enfrentar as fortes chuvas que o calendário meteorológico prevê?

Vamos desde já travar esta discussão com bastante empenho para não termos que lamentar as centenas de mortes como as que ocorrem no Rio de Janeiro.

Em breve voltaremos a debater as condições de nossa Salvador porque acredito que só a ação coletiva da população de nossa cidade pode vencer a incompetência e a omissão dos poderes públicos, em especial o Executivo e o Legislativo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Debater o racismo com trabalhadores

Uma de nossas prioridades no Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Pública, Asseio, Conservação, Jardinagem e Controle de Pragas Intermunicipal (Sindilimp-BA) é travar uma discussão muito profunda com a categoria sobre a questão do racismo e demais discriminações que sofremos em nosso dia a dia.

Criamos o Núcleo de Negros do Sindilimp-BA para que execute esta discussão em nossa categoria majoritariamente negra. Pode até parecer desnecessário esse debate diante do perfil dos trabalhadores em limpeza. Infelizmente não é. Falta consciência do racismo e sua conseqüência por mais incrível que possa parecer.

Em nossa categoria, conforme estudos efetuados e acompanhados pelo Sindilimp-BA, o setor administrativos das empresas de limpeza pública é composto em sua maioria por funcionários brancos. Até mesmo entre os motoristas dos caminhões de coletas, a maioria é branca.

É visível que o papel reservado à maioria negra concentra-se no setor de varrição, coleta, jardinagem e conservação, ou seja, o trabalho pesado, embora digno e extremamente necessário, é executado por negros. O trabalho administrativo, o papel de "pensar" reservaram para o branco.

Não queremos abrir uma guerra racial na categoria ou na sociedade. Queremos, sim, debater e exigir igualdade de oportunidades.

Embora meritório, o programa "Jovens Aprendizes" colocado em prática pelas empresas de limpeza urbana, concentra jovens negros na varrição e coleta. Os jovens brancos ficam com a parte administrativa. Será que os jovens negros não podem exercer tarefas administrativas?

Destacamos aqui que este processo de concentração de negros em trabalhos pesados ocorre depois da terceirização do setor.

Quando a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) detinha o monopólio do setor havia uma carreira dentro da empresa e muitos negros chegaram a ser altos executivos, inclusive ocupando a presidência da empresa.

Sem medo de errar afirmamos que o processo de terceirização aumentou a discriminação. Agora a Limpurb é na prática apenas a concessionária pública de direito privado e em tese deveria ter como finalidade planejar, organizar, coordenar, controlar, comandar e executar, os serviços do sistema de limpeza urbana em Salvador. O que vemos são as empresas privadas agindo e atuando com bastante autonomia.

Vamos levar o debate sobre o racismo e o papel do negro no mercado de trabalho para todas as categorias, em especial com as centrais sindicais. Somos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), mas não vamos restringir esse debate a nenhum setor. Queremos uma ação afirmativa e de luta contra o racismo entre as diversas categorias profissionais. O debate sobre o racismo deve ser travado em cada empresa, em cada local do trabalho e não apenas no ambiente universitário como se encontra hoje.

Sem dúvida o trabalho será árduo, porém, não abrimos mão de lutar e executá-lo com garra e prioridade que o caso requer.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Bem vinda presidenta Dilma Roussef


Com esperança acompanhamos a posse da primeira presidenta do Brasil, Dilma Roussef. A geração a qual ela pertence merecia uma reparação histórica. Torturada e guerreira em defesa da democracia chega agora ao governo federal. A nossa esperança como trabalhadores é que os avanços sociais prossigam e se aprofundem. Nós acreditamos que um nova era pode e será construída com a gestão de Dilma Roussef.

Íntegra do discurso da presidenta Dilma Roussef:

Meus queridos brasileiros e brasileiras,

Pela decisão soberana do povo hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher. Sinto uma imensa honra por essa escolha do povo brasileiro e sei do significado histórico dessa decisão.

Sei, também, como é aparente a suavidade da seda verde amarela da faixa presidencial, pois ela traz consigo uma enorme responsabilidade perante a nação. Para assumi-la, tenho comigo a força e o exemplo da mulher brasileira. Abro meu coração para receber neste momento uma centelha da sua imensa energia e sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa dessa ousadia do voto popular que após levar à Presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do País.

Venho para abrir portas, para que muitas outras mulheres também possam, no futuro, ser presidentes e para que, no dia de hoje, todas as mulheres brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher. Não venho para enaltecer a minha biografia, mas para glorificar a vida de cada mulher brasileira. Meu compromisso supremo, reitero, é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos.

Venho, antes de tudo, para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este País já viveu nos tempos recentes.
Venho para consolidar a obra transformadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva! Venho para consolidar a obra transformadora do presidente Lula, com quem tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao País a seu lado nesses últimos anos. De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do País.

A maior homenagem que posso prestar a ele é ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar, investir na força do povo foi a maior lição que o presidente Lula deixa para todos nós. Sob a sua liderança, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da nossa história. Minha missão agora é consolidar essa passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades.

Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro grande brasileiro, incansável lutador, companheiro que esteve ao lado do presidente Lula nesses oito anos: nosso querido vice-presidente José Alencar! Que exemplo de coragem e amor à vida nos dá esse grande homem! E que parceria fizeram o Presidente Lula e o vice-presidente José Alencar pelo Brasil e pelo nosso povo! Eu e o vice-presidente, Michel Temer, sentimo-nos responsáveis por seguir no caminho iniciado por eles.

Um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo da história. Ele sempre será, a seu tempo, mudança e continuidade. Por isso, ao saudar os extraordinários avanços recentes liderados pelo presidente Lula, é justo lembrar que muitos, a seu tempo e a seu modo, deram grandes contribuições às conquistas do Brasil de hoje.

Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional. Milhões de empregos estão sendo criados. Nossa taxa de crescimento mais que dobrou. Encerramos um longo período de dependência do Fundo Monetário Internacional ao mesmo tempo em que superamos a nossa dívida externa. Reduzimos, sobretudo, a nossa dívida social, a nossa histórica dívida social, resgatando milhões de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros milhões a alcançar a classe média.

Mas, em um país com a complexidade do nosso é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar sempre novas soluções. Só assim poderemos garantir aos que melhoraram de vida que eles podem alcançar mais e provar aos que ainda lutam para sair da miséria que eles podem, com a ajuda do governo e de toda sociedade, mudar de vida e de patamar, que podemos ser de fato uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo, um País de classe média sólida e empreendedora, uma democracia vibrante e moderna, plena de compromisso social, liberdade política e criatividade.

Queridos brasileiros e queridas brasileiras, para enfrentar esses grandes desafios é preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui, mas, igualmente, agregar novas ferramentas e novos valores. Na política é tarefa indeclinável e urgente uma reforma com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública.

Para dar longevidade ao atual ciclo de crescimento é preciso garantir a estabilidade, especialmente a estabilidade de preços e seguir eliminando as travas que ainda inibem o dinamismo da nossa economia, facilitando a produção e estimulando a capacidade empreendedora de nosso povo, da grande empresa até os pequenos negócios locais, do agronegócio à agricultura familiar.

É portanto inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte.

Valorizar nosso parque industrial e ampliar sua força exportadora será meta permanente. A competitividade de nossa agricultura e da nossa pecuária, que faz do Brasil grande exportador de produtos de qualidade para todos os continentes, merecerá toda a nossa atenção. Nos setores mais produtivos, a internacionalização de nossas empresas já é uma realidade.

O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com o incentivo, o desenvolvimento e o apoio à agricultura familiar e ao microempreendedor. As pequenas empresas são responsáveis pela maior parcela dos empregos permanentes em nosso País. Merecerão políticas tributárias e de crédito perenes.

Valorizar o desenvolvimento regional é outro imperativo de um País continental, sustentando a vibrante economia do Nordeste, preservando, desenvolvendo, respeitando a biodiversidade da Amazônia no Norte, dando condições dando condições à extraordinária produção agrícola do Centro-Oeste, a força industrial do Sudeste e a pujança e o espírito de pioneirismo do Sul.

É preciso, antes de tudo, criar condições reais e efetivas capazes de aproveitar e potencializar ainda mais e melhor a imensa energia criativa e produtiva do povo brasileiro.

No plano social, a inclusão só será plenamente alcançada com a universalização e a qualificação dos serviços essenciais. Esse é um passo decisivo e irrevogável para consolidar e ampliar as grandes conquistas obtidas pela nossa população, no período do governo do presidente Lula. É, portanto, tarefa indispensável uma ação renovadora efetiva e integrada dos governos federal, estaduais e municipais, em particular nas áreas de saúde, da educação e da segurança, o que é vontade expressa das famílias e da população brasileira.

Queridos brasileiros e brasileiras, a luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos.

Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do presidente Lula, mas ainda existe pobreza a envergonhar nosso País e a impedir nossa afirmação plena como povo desenvolvido. Não vou descansar enquanto houver brasileiro sem alimento na mesa. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. É este o sonho que vou perseguir.

Essa não é tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda a nossa sociedade. Para isso peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades empresariais e dos trabalhadores, das universidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem.

A superação da miséria exige prioridade na sustentação de um longo ciclo de crescimento. É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para as atuais e as novas gerações. É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e de desenvolvimento regional. Isso significa, reitero, manter a estabilidade econômica como valor.

Já faz parte, aliás, da nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que essa praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres. Continuaremos fortalecendo nossas reservas externas para garantir o equilíbrio das contas externas e bloquear, impedir a vulnerabilidade externa.

Atuaremos decididamente, nos fóruns multilaterais, na defesa de políticas econômicas saudáveis e equilibradas, protegendo o País da concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos. Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos, que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção.

Faremos um trabalho permanente e continuado para melhorar a qualidade do gasto público. O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um Estado provedor de serviços básicos e de previdência social pública. Isso significa custos elevados para toda a sociedade, mas significa também a garantia do alento da aposentadoria para todos e serviços de saúde e de educação universais. Portanto, a melhoria dos serviços públicos é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais.

Outro fator importante da qualidade da despesa é o aumento dos níveis de investimento em relação aos gastos de custeio. O investimento público é essencial como indutor do investimento privado e como instrumento de desenvolvimento regional.

Por meio do Programa de Aceleração do Crescimento e do Programa Minha Casa, Minha Vida, manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos Ministérios. O PAC continuará sendo um instrumento de coesão da ação governamental e coordenação voluntária dos investimentos estruturais dos Estados e municípios; será também vetor de incentivo ao investimento privado, valorizando todas as iniciativas de constituição de fundos privados de longo prazo.

Por sua vez, os investimentos previstos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas serão concebidos de maneira a dar ganhos permanentes de qualidade de vida em todas as regiões envolvidas.

Esse princípio vai reger também nossa política de transporte aéreo. É preciso, sem dúvida, melhorar e ampliar nossos aeroportos para a Copa e as Olimpíadas, mas é mais que necessário melhorá-los já, para arcar com o crescente uso desse meio de transporte por parcelas cada vez mais amplas da população brasileira.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, junto com a erradicação da miséria, será prioridade do meu governo a luta pela qualidade da educação, da saúde e da segurança.

Nas últimas décadas, o Brasil universalizou o ensino fundamental, porém é preciso melhorar a sua qualidade e aumentar as vagas no ensino infantil e no ensino médio. Para isso, vamos ajudar decididamente os municípios a ampliar a oferta de creches e de pré-escolas. No ensino médio, além do aumento do investimento público, vamos estender a vitoriosa experiência do ProUni para o ensino médio e profissionalizante, acelerando a oferta de milhares de vagas para que nossos jovens recebam uma formação educacional e profissional de qualidade.

Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso dos professores e da sociedade com a educação das crianças e dos jovens. Somente com o avanço na qualidade do ensino poderemos formar jovens preparados, de fato, para nos conduzir à sociedade da tecnologia e do conhecimento.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, consolidar o Sistema Único de Saúde será outra grande prioridade do meu governo. Para isso, vou acompanhar pessoalmente o desenvolvimento desse setor tão essencial para o povo brasileiro. O SUS deve ter como meta a solução real do problema que atinge a pessoa que o procura com o uso de todos os instrumentos de diagnóstico e tratamento disponíveis, tornando os medicamentos acessíveis a todos, além de fortalecer as políticas de prevenção e promoção da saúde.

Vou usar, sim, a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado e o respeito ao usuário. Vamos estabelecer parcerias com o setor privado na área da saúde, assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS. A formação e a presença de profissionais de saúde, adequadamente distribuídos, em todas as regiões do País será outra meta essencial ao bom funcionamento do sistema.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, a ação integrada de todos os níveis do governo e a participação da sociedade são o caminho para a redução da violência que constrange a sociedade e as famílias brasileiras.

Meu governo fará um trabalho permanente para garantir a presença do Estado em todas as regiões mais sensíveis à ação da criminalidade e das drogas em forte parceria com Estados e municípios.

O Estado do Rio de Janeiro mostrou o quanto é importante, na solução dos conflitos, a ação coordenada das forças de segurança dos três níveis de Governo, incluindo, quando necessário, a participação decisiva das Forças Armadas.

O êxito dessa experiência deve nos estimular a unir as forças de segurança no combate, sem tréguas, ao crime organizado, que sofistica a cada dia seu poder de fogo e suas técnicas de aliciamento dos jovens. Buscaremos, também, uma maior capacitação federal na área de inteligência e no controle das fronteiras, com uso de modernas tecnologias e treinamento profissional permanente. Reitero meu compromisso de agir no combate às drogas, em especial ao avanço do crack, que desintegra a nossa juventude e infelicita as nossas famílias.

O pré-sal é nosso passaporte para o futuro, mas só o será plenamente, queridas brasileiras e queridos brasileiros, se produzir uma síntese equilibrada de avanço tecnológico, avanço social e cuidado ambiental. A sua própria descoberta é resultado do avanço tecnológico brasileiro e de uma moderna política de investimentos em pesquisa e inovação. Seu desenvolvimento será fator de valorização da empresa nacional e seus investimentos serão geradores de milhares de novos empregos.

O grande agente dessa política foi e é a Petrobras, símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética e do petróleo. O meu governo terá a responsabilidade de transformar a enorme riqueza obtida no pré-sal em poupança de longo prazo, capaz de fornecer às atuais e às futuras gerações a melhor parcela dessa riqueza, transformada, ao longo do tempo, em investimentos efetivos na qualidade dos serviços públicos, na redução da pobreza e na valorização do meio ambiente. Recusaremos o gasto apressado, que reserva às futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, muita coisa melhorou no nosso País, mas estamos vivendo apenas o início de uma nova era, o despertar de um novo Brasil. Recorro a um poeta da minha terra natal. Ele diz: "O que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme".

Pela primeira vez, o Brasil se vê diante da oportunidade real de se tornar, de ser uma nação desenvolvida, uma nação com a marca inerente também da cultura e do estilo brasileiro: o amor, a generosidade, a criatividade e a tolerância. Uma nação em que a preservação das reservas naturais e das suas imensas florestas, associada à rica biodiversidade e à matriz energética mais limpa do mundo permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental.

O mundo vive um ritmo cada vez mais acelerado de revolução tecnológica. Ela se processa tanto na decifração de códigos desvendadores da vida quanto na explosão da comunicação e da informática. Temos avançado na pesquisa e na tecnologia, mas precisamos avançar muito mais.

Meu governo apoiará fortemente o desenvolvimento científico e tecnológico para o domínio do conhecimento e para a inovação como instrumento fundamental de produtividade e competitividade do nosso País.

Mas o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo econômico ou no campo do desenvolvimento econômico pura e simplesmente, e pressupõe o avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade.

Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais, e expandir uma exportação de nossa música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo. Em suma, temos que combater a miséria, que é a forma mais trágica de atraso, e, ao mesmo tempo, avançar, investindo fortemente nas áreas mais modernas e sofisticadas da invenção tecnológica, da criação intelectual e da produção artística e cultural. Justiça social, moralidade, conhecimento, invenção e criatividade devem ser mais que nunca conceitos vivos no dia a dia da nossa nação.

Queridas e queridos brasileiros e brasileiras, considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um País crescer aceleradamente sem destruir o meio ambiente.

Fomos e seremos os campeões mundiais de energia limpa, um País que sempre saberá crescer de forma saudável e equilibrada. O etanol, as fontes de energias hídricas terão um grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, as eólica e solar. O Brasil continuará também priorizando a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas.

Nossa política ambiental favorecerá nossa ação nos fóruns multilaterais, mas o Brasil não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais. Defender o equilíbrio ambiental do planeta é um dos nossos compromissos nacionais mais universais.

Meus queridos brasileiros e brasileiras, nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira, promoção da paz, respeito ao princípio de não-intervenção, defesa dos direitos humanos e fortalecimento do multilateralismo.

O meu governo continuará engajado na luta contra a fome e a miséria no mundo. Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos, com nossos irmãos da América Latina e do Caribe, com nossos irmãos africanos e com os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos. Preservaremos e aprofundaremos o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Europeia. Vamos dar grande atenção aos países emergentes.

O Brasil reitera com veemência e firmeza a decisão de associar seu desenvolvimento econômico, social e político ao nosso continente. Podemos transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao Mercosul à Unasul.

Vamos contribuir para a estabilidade financeira internacional com uma intervenção qualificada nos fóruns multilaterais. Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença, frente à existência de enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear, ao terrorismo e ao crime organizado transnacional. Nossa ação política externa continuará propugnando pela reforma dos organismos de governança mundial, em especial às Nações Unidas e seu Conselho de Segurança.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, disse, ao início desse discurso, que governarei para todos os brasileiros e brasileiras e vou fazê-lo.

Mas, é importante lembrar que o destino de um País não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que juntos fizermos por ele hoje, do tamanho da participação de todos e de cada um, dos movimentos sociais, dos que labutam no campo, dos profissionais liberais, dos trabalhadores e dos pequenos empreendedores, dos intelectuais, dos servidores públicos, dos empresários, das mulheres, dos negros, dos índios, dos jovens, de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação.

Quero estar ao lado do que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, no semi-árido nordestino e em todos os seus rincões, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas.

Quero estar ao lado dos que vivem nos aglomerados metropolitanos, na vastidão das florestas, no interior ou no litoral, nas capitais e nas fronteiras do Brasil.

Quero convocar todos a participar do esforço de transformação do nosso País. Respeitada a autonomia dos Poderes e o Princípio Federativo, quero contar com o Legislativo e o Judiciário e com a parceria de governadores e prefeitos, para continuarmos desenvolvendo nosso País, aperfeiçoando nossas instituições e fortalecendo nossa democracia.

Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais, da liberdade de culto e de religião, da liberdade de imprensa e de opinião.

Reafirmo o que disse, ao longo da campanha, que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem como eu e tantos outros da minha geração lutamos contra o arbítrio, a censura e a ditadura, somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos no nosso País e como bandeira sagrada de todos os povos.

O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são os elementos fundamentais para a afirmação coletiva da nossa nação.

Eu e meu vice-Presidente, Michel Temer, formos eleitos por uma ampla coligação partidária. Estamos construindo com eles um governo, onde capacidade profissional, liderança, e a disposição de servir ao País serão os critérios fundamentais.

Mais uma vez, estendo minha mão aos partidos de oposição e às parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral. Não haverá de minha parte e do meu governo discriminação, privilégios ou compadrinho.

A partir deste momento, sou a presidente de todos os brasileiros, sob a égide dos valores republicanos. Serei rígida na defesa do interesse público, não haverá compromisso com o desvio e o mal feito, a corrupção será combatida permanentemente e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para atuarem com firmeza e autonomia.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, chegamos ao final deste longo discurso. Queria dizer a vocês que eu dediquei toda a minha vida à causa do Brasil: entreguei, como muitos aqui presentes, minha juventude ao sonho de um País justo e democrático; suportei as adversidades mais extremas, infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tão pouco não tenho ressentimento ou rancor. Muitos da minha geração que tombaram pelo caminho não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista e rendo-lhes minha homenagem. Esta, às vezes, dura caminhada, me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu, sobretudo, coragem para enfrentar desafios ainda maiores. Recorro, mais uma vez, ao poeta da minha terra: "O correr da vida - diz ele - embrulha tudo. A vida é assim: esquenta, esfria, aperta e, daí, afrouxa; sossega e, depois, desinquieta, o que ela quer da gente é coragem".

É com essa coragem que vou governar o Brasil, mas, mulher não é só coragem, é carinho também, carinho que dedico a minha filha e ao meu neto, carinho com que abraço a minha mãe, que me acompanha e me abençoa. É com esse imenso carinho que quero cuidar do meu povo e, a ele, dedicar os próximos anos da minha vida. Que Deus abençoe o Brasil! Que Deus abençoe a todos nós! E que tenhamos paz no mundo!