segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Movimento negro precisa voltar às bases e deixar elitismo de lado


*Luiz Carlos Suíca

Acompanhei no dia 20 de novembro, como sempre faço, a Marcha da Consciência Negra que se realiza em Salvador. Estive na da Liberdade, o bairro mais negro da cidade mais negra do Brasil.

Sem dúvida, qualquer manifestação do movimento popular merece nosso respeito e representa uma vitória, porém, não podemos tapar o sol com a peneira. O Movimento Negro, em especial aquele representado pelas entidades e personalidades políticas que estavam na Liberdade, precisa de uma profunda autocrítica e voltar às bases e deixar os gabinetes e palácios governamentais.

Na Caminhada da Liberdade só quem teve acesso à palavra, ou seja, manifestar no trio elétrico sua opinião e convicções foram as negras e negros com mandato parlamentar, secretários de governo, ou personalidades que circulam no poder político.

Algo lamentável os arrogantes e prepotentes que discriminaram as entidades populares e pessoas ligadas ao movimento negro real, aquele que se dá no dia a dia, que acompanha e luta contra a violência policial como recentemente fizemos no Pernambués contra a assassinato da menina de 8 anos, Raquel Bastos de Oliveira.

Nos protestos estávamos nós, o GAP (Grupo Alerta Pernambués), Sindilimp-BA e associações de moradores. Ao nosso lado estava o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) que por sinal não foi chamado para falar na caminhada da Liberdade.

Os elitistas não estavam no protesto embaixo do Viaduto dos Taxistas na quinta-feira, 17. Exigimos das autoridades na apuração do caso da morte de Raquel Bastos de Oliveira, de 8 anos, ocorrida durante um tiroteio no dia 3 de novembro.

Creio que "o tempo é o senhor da razão". Algumas pessoas, por desfrutarem de algumas vantagens ou condições momentâneas mais do que outras, se acham no direito de subestimar o ser humano. Todo arrogante e prepotente, cedo ou tarde, sempre acaba se dando mal em algum momento da vida. A ilusão é passageira e causa estragos irreparáveis. A arma mais eficaz para combater na arrogância e a prepotência é o desprezo.

Não podemos deixar de destacar, que o estudo do IBGE mostra que em 2010, aproximadamente 91 milhões de pessoas se classificaram como brancas, 15 milhões como pretas, 82 milhões como pardas, 2 milhões como amarelas e 817 mil como indígenas, ou seja, somos 97 milhões e a maioria como sempre soubemos e defendemos. O percentual de pessoas que se declararam pretas passou de 6,2% para 7,6% em uma década. O aumento foi maior entre as que se declararam pardas, de 38,5% para 43,1% no mesmo período. A afirmação da negritude já é uma realidade. Sem dúvida uma vitória do movimento negro.

De acordo com o levantamento de 2010, se forem considerados apenas negros, Salvador lidera o ranking com 743,7 mil, seguida de São Paulo (736 mil) e do Rio (724 mil).

Mais de mil pessoas participaram na parte da manhã da caminhada em homenagem a Zumbi dos Palmares, que saiu da Liberdade em direção ao Pelourinho, em Salvador. O cortejo foi embalado pela banda do Ilê Aiyê. Poderia ser melhor se o trabalho de base fosse efetivamente realizado.

O Movimento Negro, ao longo de sua trajetória de luta, conseguiu pautar alguns avanços voltados à população negra como: aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, o sistema de ingresso de estudantes negros em algumas universidades públicas estaduais e federais por meio de políticas afirmativas e da Lei 10.639/03, que institui no ensino básico a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos.

Continuamos nossa luta pela inserção, pela inclusão da população negra, em especial nossa juventude, nos bens culturais e materiais que possibilitem à manutenção de uma vida digna. Não podemos aceitar que o desemprego, as drogas, a prisão, a fome, enfim, a expressão da manutenção da miséria social seja encarada como algo comum ao nosso povo.

Contra o genocídio da juventude negra! Por reparações históricas para a população negra brasileira! Pela livre manifestação das religiões de matrizes africanas!

*Luiz Carlos Suíca é militante do Movimento Negro Unificado, coordenador do Departamento Jurídico do Sindilimp-BA, bacharel em História e acadêmico de Direito.

sábado, 19 de novembro de 2011

20 de Novembro: Dia de luta e consciência negra

No dia 20 de novembro de 1695 foi assassinado o líder do Quilombo de Palmares, Zumbi. É um dia de luta para todos os afrodescendentes e o Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia) assume o compromisso de preservar a nossa memória, uma das formas de construir a história.
Os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Foi também uma luta para tornar visível esse problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse.

O 20 de novembro trata da data do assassinato de Zumbi, em 1695, o mais importante líder do Quilombo de Palmares, que representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada de mais 30 mil.

Enquanto o 20 de Novembro representa um dia de resistência, o 13 de maio representa traição, uma "liberdade sem asas e fome sem pão".

O "Dia Nacional da Consciência Negra" é o dia nacional de todos que lutam por uma sociedade de fato democrática, igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação.

Lutamos para que se efetive na prática a lei que aprovou a inclusão do Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar e tornou obrigatório o ensino de história da África nas escolas públicas e particulares do país. Em geral, a história dada segue o livro didático para trabalhar os conteúdos em sala de aula e não é difícil encontrar alguns com conteúdo depreciativo, seja referente ao Brasil ou a África.

Queremos que se debatam currículos onde nossa juventude, em especial as crianças negras, possam se vir com orgulho, com respeito ao Candomblé e demais religiões de matriz africana.

Questionamos aqui o papel do mercado de trabalho reservado aos trabalhadores negros. Onde está a maioria das trabalhadoras e trabalhadores negros em Salvador e em toda a Bahia? Queremos e exigimos salário igual para trabalho igual e que os negros possam ascender profissional e socialmente através da igualdade de oportunidades e reparação por tudo que a escravidão e o racismo nos tiraram.

É preciso entender que a desigualdade no Brasil tem cor, nome e história. Esse não é um problema dos negros no Brasil, mas sim um problema do Brasil, que é de negros, brancos e outros mais.

Viva Zumbi! Vamos juntos construir uma sociedade com igualdade de oportunidade!