*Luiz Carlos Suíca
Acompanhei no dia 20 de novembro, como sempre faço, a Marcha da Consciência Negra que se realiza em Salvador. Estive na da Liberdade, o bairro mais negro da cidade mais negra do Brasil.
Sem dúvida, qualquer manifestação do movimento popular merece nosso respeito e representa uma vitória, porém, não podemos tapar o sol com a peneira. O Movimento Negro, em especial aquele representado pelas entidades e personalidades políticas que estavam na Liberdade, precisa de uma profunda autocrítica e voltar às bases e deixar os gabinetes e palácios governamentais.
Na Caminhada da Liberdade só quem teve acesso à palavra, ou seja, manifestar no trio elétrico sua opinião e convicções foram as negras e negros com mandato parlamentar, secretários de governo, ou personalidades que circulam no poder político.
Algo lamentável os arrogantes e prepotentes que discriminaram as entidades populares e pessoas ligadas ao movimento negro real, aquele que se dá no dia a dia, que acompanha e luta contra a violência policial como recentemente fizemos no Pernambués contra a assassinato da menina de 8 anos, Raquel Bastos de Oliveira.
Nos protestos estávamos nós, o GAP (Grupo Alerta Pernambués), Sindilimp-BA e associações de moradores. Ao nosso lado estava o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) que por sinal não foi chamado para falar na caminhada da Liberdade.
Os elitistas não estavam no protesto embaixo do Viaduto dos Taxistas na quinta-feira, 17. Exigimos das autoridades na apuração do caso da morte de Raquel Bastos de Oliveira, de 8 anos, ocorrida durante um tiroteio no dia 3 de novembro.
Creio que "o tempo é o senhor da razão". Algumas pessoas, por desfrutarem de algumas vantagens ou condições momentâneas mais do que outras, se acham no direito de subestimar o ser humano. Todo arrogante e prepotente, cedo ou tarde, sempre acaba se dando mal em algum momento da vida. A ilusão é passageira e causa estragos irreparáveis. A arma mais eficaz para combater na arrogância e a prepotência é o desprezo.
Não podemos deixar de destacar, que o estudo do IBGE mostra que em 2010, aproximadamente 91 milhões de pessoas se classificaram como brancas, 15 milhões como pretas, 82 milhões como pardas, 2 milhões como amarelas e 817 mil como indígenas, ou seja, somos 97 milhões e a maioria como sempre soubemos e defendemos. O percentual de pessoas que se declararam pretas passou de 6,2% para 7,6% em uma década. O aumento foi maior entre as que se declararam pardas, de 38,5% para 43,1% no mesmo período. A afirmação da negritude já é uma realidade. Sem dúvida uma vitória do movimento negro.
De acordo com o levantamento de 2010, se forem considerados apenas negros, Salvador lidera o ranking com 743,7 mil, seguida de São Paulo (736 mil) e do Rio (724 mil).
Mais de mil pessoas participaram na parte da manhã da caminhada em homenagem a Zumbi dos Palmares, que saiu da Liberdade em direção ao Pelourinho, em Salvador. O cortejo foi embalado pela banda do Ilê Aiyê. Poderia ser melhor se o trabalho de base fosse efetivamente realizado.
O Movimento Negro, ao longo de sua trajetória de luta, conseguiu pautar alguns avanços voltados à população negra como: aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, o sistema de ingresso de estudantes negros em algumas universidades públicas estaduais e federais por meio de políticas afirmativas e da Lei 10.639/03, que institui no ensino básico a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos.
Continuamos nossa luta pela inserção, pela inclusão da população negra, em especial nossa juventude, nos bens culturais e materiais que possibilitem à manutenção de uma vida digna. Não podemos aceitar que o desemprego, as drogas, a prisão, a fome, enfim, a expressão da manutenção da miséria social seja encarada como algo comum ao nosso povo.
*Luiz Carlos Suíca é militante do Movimento Negro Unificado, coordenador do Departamento Jurídico do Sindilimp-BA, bacharel em História e acadêmico de Direito.
Acompanhei no dia 20 de novembro, como sempre faço, a Marcha da Consciência Negra que se realiza em Salvador. Estive na da Liberdade, o bairro mais negro da cidade mais negra do Brasil.
Sem dúvida, qualquer manifestação do movimento popular merece nosso respeito e representa uma vitória, porém, não podemos tapar o sol com a peneira. O Movimento Negro, em especial aquele representado pelas entidades e personalidades políticas que estavam na Liberdade, precisa de uma profunda autocrítica e voltar às bases e deixar os gabinetes e palácios governamentais.
Na Caminhada da Liberdade só quem teve acesso à palavra, ou seja, manifestar no trio elétrico sua opinião e convicções foram as negras e negros com mandato parlamentar, secretários de governo, ou personalidades que circulam no poder político.
Algo lamentável os arrogantes e prepotentes que discriminaram as entidades populares e pessoas ligadas ao movimento negro real, aquele que se dá no dia a dia, que acompanha e luta contra a violência policial como recentemente fizemos no Pernambués contra a assassinato da menina de 8 anos, Raquel Bastos de Oliveira.
Nos protestos estávamos nós, o GAP (Grupo Alerta Pernambués), Sindilimp-BA e associações de moradores. Ao nosso lado estava o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) que por sinal não foi chamado para falar na caminhada da Liberdade.
Os elitistas não estavam no protesto embaixo do Viaduto dos Taxistas na quinta-feira, 17. Exigimos das autoridades na apuração do caso da morte de Raquel Bastos de Oliveira, de 8 anos, ocorrida durante um tiroteio no dia 3 de novembro.
Creio que "o tempo é o senhor da razão". Algumas pessoas, por desfrutarem de algumas vantagens ou condições momentâneas mais do que outras, se acham no direito de subestimar o ser humano. Todo arrogante e prepotente, cedo ou tarde, sempre acaba se dando mal em algum momento da vida. A ilusão é passageira e causa estragos irreparáveis. A arma mais eficaz para combater na arrogância e a prepotência é o desprezo.
Não podemos deixar de destacar, que o estudo do IBGE mostra que em 2010, aproximadamente 91 milhões de pessoas se classificaram como brancas, 15 milhões como pretas, 82 milhões como pardas, 2 milhões como amarelas e 817 mil como indígenas, ou seja, somos 97 milhões e a maioria como sempre soubemos e defendemos. O percentual de pessoas que se declararam pretas passou de 6,2% para 7,6% em uma década. O aumento foi maior entre as que se declararam pardas, de 38,5% para 43,1% no mesmo período. A afirmação da negritude já é uma realidade. Sem dúvida uma vitória do movimento negro.
De acordo com o levantamento de 2010, se forem considerados apenas negros, Salvador lidera o ranking com 743,7 mil, seguida de São Paulo (736 mil) e do Rio (724 mil).
Mais de mil pessoas participaram na parte da manhã da caminhada em homenagem a Zumbi dos Palmares, que saiu da Liberdade em direção ao Pelourinho, em Salvador. O cortejo foi embalado pela banda do Ilê Aiyê. Poderia ser melhor se o trabalho de base fosse efetivamente realizado.
O Movimento Negro, ao longo de sua trajetória de luta, conseguiu pautar alguns avanços voltados à população negra como: aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, o sistema de ingresso de estudantes negros em algumas universidades públicas estaduais e federais por meio de políticas afirmativas e da Lei 10.639/03, que institui no ensino básico a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos.
Continuamos nossa luta pela inserção, pela inclusão da população negra, em especial nossa juventude, nos bens culturais e materiais que possibilitem à manutenção de uma vida digna. Não podemos aceitar que o desemprego, as drogas, a prisão, a fome, enfim, a expressão da manutenção da miséria social seja encarada como algo comum ao nosso povo.
Contra o genocídio da juventude negra! Por reparações históricas para a população negra brasileira! Pela livre manifestação das religiões de matrizes africanas!
*Luiz Carlos Suíca é militante do Movimento Negro Unificado, coordenador do Departamento Jurídico do Sindilimp-BA, bacharel em História e acadêmico de Direito.