quarta-feira, 27 de julho de 2011

Nós dizemos não ao racismo, à discriminação e à violência contra a mulher



*Luiz Carlos Suíca

Com prazer e emoção leio a matéria do Secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia, Almiro Sena, publicada no dia 26 de julho em A Tarde e antes já divulgada pela Itapoan On Line, onde ele avalia as nuances do racismo.

Ele cita textualmente: "Conforme com essa hierarquização racista, a discriminação social também distingue as atividades e profissões que 'naturalmente' devem ser desempenhadas por brancos, daquelas que "normalmente" cabem aos negros, independente do preparo técnico ou acadêmico das pessoas inseridas num dos dois grupos... Evidentemente que pelo fato de atualmente, apesar de temporariamente afastado das funções do Ministério Público para ocupar o igualmente honroso cargo de Secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia, permanecer, também em razão de exigência da função, usando diariamente terno e gravata, continuo, para meu gáudio e orgulho, sendo identificado como porteiro ou vigilante".

Um artigo que precisa ser lido por todos os que lutam contra o racismo e quaisquer formas de discriminação. Uso o texto desse querido companheiro de lutas para falar um pouco sobre a questão dos trabalhadores em limpeza e das mulheres em especial.

Recentemente a novela "Morde & Assopra" mostrou cenas em que o personagem Guilherme, da novela "Morde & Assopra" é punido por seus erros de caráter. Um dos "castigos" dado ao vilãozinho é tornar-se gari, que o texto de um jornal baiano classifica como a pior coisa, a pior função, o fim do fundo do poço.

Ora, será vergonhoso ser gari? Ganhar seu sustento trabalhando com orgulho e atuar na defesa da saúde pública, do meio ambiente e do bem estar de toda a população?

O gari é um ser quase invisível. Quase ninguém o cumprimenta quando ele retira a sujeira da porta de sua casa, porém, quando fazemos greve todos podem observar a importância do trabalhador em limpeza em todos os aspectos.

Como diz o secretário Almiro Sena, todos enxergam como natural a maioria de nossa categoria ser negra como se a nós fosse destinado "naturalmente" esse papel, honroso sem dúvida, porém não o único. Podemos, sim, sermos promotores ou secretários de Estados, dentre outros cargos inclusive almejar a Presidência da República. Por que não?

Outra forma de discriminação e diminuição do papel social de um setor da sociedade também foi divulgada em tom de piada pela Rede Globo.

A coisa é tão grave que passa "naturalmente". A violência contra a mulher é contada de forma risonha, brincalhona, mas a violência contra as mulheres está sendo incentivada dentro da sua casa, de forma nada sutil, no humorístico Zorra Total.

No quadro do programa, chamado "Metrô Zorra Brasil", todos os sábados à noite, duas amigas travam um diálogo dentro do vagão lotado. Na fórmula do roteiro, lá pelas tantas, em todos os episódios, um sujeito se aproxima, encosta e bolina a mulher de várias formas. No episódio do dia 9 de julho, o quadro mostrou a mulher sendo "tocada" em suas partes íntimas com a "batuta" de um maestro.

A mulher atacada, Janete (Thalita Carauta), cochicha com sua amiga Valéria (Rodrigo Sant'anna), que, ao invés de defendê-la, diz: "aproveita. Tu é muito ruim, babuína. Se joga". A claque ri. Riram do quê se isso não tem a menor graça? Em São Paulo uma jovem foi atacada sexualmente por um canalha e o caso foi registrado como estupro na Delegacia de Polícia. Essa é a realidade e repito, não tem a menor graça.

Será que para os redatores da Rede Globo o natural é dizer às mulheres que sofrem abuso sexual quer o natural é "aproveitar" e "agradecer", como se fosse uma dádiva?

Segundo dados confiáveis, no Brasil uma mulher é violentada a cada 12 segundos; uma mulher é assassinada a cada duas horas; 43% das mulheres sofrem violência doméstica. Com certeza não da para rir disso tudo.

Finalizo parabenizando mais uma vez Almiro Sena, Secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia, reafirmo nosso orgulho em sermos trabalhadores em limpeza e manifesto nosso repúdio a qualquer ação que incentive ou banalize a luta das mulheres contra a violência e pela construção de uma sociedade igualitária.

*Luiz Carlos Suíca é petista, militante do Movimento Negro, coordenador do Departamento Jurídico do Sindilimp-BA, bacharel em História e acadêmico de Direito.

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