quinta-feira, 5 de março de 2009

Mulher atrás de um grande homem?

Dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher e quero aproveitar este período para discutir e tentar derrubar alguns mitos que se petrificaram em nossa cultura. Um deles é o tal: "Atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher". Ora, por que atrás e não lado a lado, por exemplo?

Uma figura pública que demonstra como uma mulher não pode e não deve ser engolida pela personalidade do marido foi a professora Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela fez sua própria carreira, tanto acadêmica como política. Nunca abriu mão de suas convicções, criticava o governo do próprio marido e defendia projetos sociais que sempre acreditou. Essa é uma grande mulher que merece nosso respeito independente das convicções políticas de cada um.

Na Bahia, Fátima Mendonça, esposa do governador Jaques Wagner, aparece como uma promessa de mulher independente e solidária. Vamos ver.

Quero aqui prestar uma homenagem a diversas mulheres que atuam nos sindicatos dos trabalhadores e com garra construíram sua própria história e referência em um ambiente quase sempre dominado pelos homens. Faço uma referência especial à nossa coordenadora geral do Sindilimp-BA, Ana Angélica Rabello. Quando foi eleita sofreu uma série de agressões morais de antigas e superadas direções que não a aceitavam como dirigente principal da nossa entidade. O machismo se manifesta em todos os ambientes, infelizmente.

Sou da categoria dos trabalhadores em limpeza onde a maioria das trabalhadoras é negras e na escala social ainda sofrem todo o preconceito e desvantagens do sistema injusto e racista do país. Nunca é demais repetir que todas as pesquisas mostram a mulher negra como a que ainda apresenta baixa escolaridade, trabalha mais e não ganha o mesmo salário dos homens e tantos outros obstáculos.

Conheço diversas mulheres negras que com muita luta e competência conquistaram melhores cargos, algumas são referências nas universidades. Quando conversamos, várias falam do preço alto pago pela conquista porque elas tiveram e têm que comprovar além da competência profissional a superação do preconceito racial e de gênero.

Tenho orgulho de ser descendente de mulheres guerreiras. Foi assim que chegamos aqui. Foram elas que ao lado dos homens negros lutaram nos castelos prisionais, porões dos navios negreiros, casas grandes e senzalas.

Já falamos aqui sobre a personalidade da mulher que não aceitou "ficar atrás de um grande homem" e da resistência da mulher negra. Para finalizar quero comentar sobre a luta mais geral da mulher, em especial a trabalhadora, contra a violência doméstica e pela conquista de direitos iguais no ambiente do trabalho.

A lei Maria da Penha significa um avanço para erradicar a violência e a discriminação contra a mulher, porém, muito ainda há por ser feito. Temos que caminhar muito pela igualdade de direitos. Não basta apenas o reconhecimento legal. Falta ainda o reconhecimento moral da igualdade e esta é uma conquista do dia-a-dia. Aqui entra o papel fundamental da educação e conscientização. É uma questão de respeito.

Espero que esta discussão não fique apenas neste período do Dia Internacional da Mulher, mas que seja uma constante. A luta da mulher é a luta de toda sociedade pois a mulher livre liberta também o homem do papel autoritário que a sociedade machista definiu como sendo o dele.

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